Enviado
por Miguel do Rosário on 25/09/2013
Aproveitando que a presidenta está
nos EUA fazendo discursos duros contra a espionagem, vamos dar uma espiada na
cozinha do Tio Sam. O que ele come quando não tem dinheiro? Há alguns dias, o
Tijolaço comentou e
reproduziu artigo do Paul Krugman que denuncia a tentativa dos republicanos de
fazerem cortes no mais antigo e popular programa social do governo americano, o
Food Stamps, hoje conhecido simplesmente como Snaps, sigla
para Supplemental Nutrition Assistance Program, ou Programa de Assistência
Nutricional Suplementar.
A matéria merece alguns complementos
estatísticos.
Segundo informações oficiais,
o programa atingiu em 2012 um total de 46,60 milhões de americanos, e custou
US$ 78,44 bilhões. Em reais, usando o câmbio médio dos últimos dias, em R$ 2,2,
este valor corresponde a R$ 172 bilhões. O programa paga de US$ 100 a US$ 600
por pessoa (o valor médio é de US$ 133,41, ou R$ 293,00). Existe pelo menos
desde 1969, sendo que programas similares existem nos EUA desde o fim da II
Guerra.
Para efeito de comparação: o Programa Bolsa Família (PBF) beneficiou, no
mês de set de 2013, 13,8 milhões de famílias, que receberam benefícios com
valor médio de R$ 152,35. O orçamento federal para o programa em 2013 é de R$
23,18 bilhões.
Ou seja, mesmo com o aumento de 60% dos gastos públicos com o Bolsa
Família em 2013, o governo americano gasta com o seu principal programa de
assistência social um valor sete vezes superior ao Bolsa Família.
Considerando que não apenas a quantidade de pobres no Brasil é bem
superior a de pobres nos EUA, e que a qualidade da nossa pobreza é bem pior,
conclui-se que as críticas que sempre se fizeram ao Bolsa Família eram
profundamente desinformadas, pois os críticos ao Bolsa Família, em geral, são
pessoas que admiram o modelo norte-americano.
O Snaps tem estado na berlinda da mídia americana por causa da
movimentação de alguns republicanos, em especial o deputado republicano pela
Flórida Steve Southerland, que vem protagonizando uma espécie de cruzada pela
revisão do programa, com vistas a cortar beneficiários. Apesar do apoio entre
republicanos, e do esforço quase místico de Southerland, a iniciativa não tem
tido apoio na sociedade, em virtude da deterioração nas estatísticas sociais
dos últimos anos. O número de famílias norte-americanas em situação de
“insegurança alimentícia” tem disparado, e a recuperação econômica observada
nos últimos meses tem ajudado apenas as camadas superiores, não os mais pobres.
Mesmo o Washington Post, jornal
conservador, que publicou longa reportagem favorável às ideias Southerland, não
demonstra otimistmo de ver sua proposta prosperar, por causa da oposição
radical que ela encontra entre os Democratas, além do poder de veto do
presidente.
*
Abaixo, o vídeo do discurso da presidente na ONU. A repercussão foi
ótima na imprensa internacional.
*
Ainda sobre o discurso de Dilma, Merval Pereira encerra a sua coluna de um modo bizarro:
Não consta que Angela Merkel tenha utilizado o
episódio [espionagem americana] na campanha em que se reelegeu na Alemanha.
Não consta? Que raio de jornalista é esse que não se preocupa em apurar?
Entretanto, é divertido constatar
que, segundo um colunista do New York Times, a fala de Dilma será
usada como modelo em Berlim, para pressionar as autoridades alemãs a reagirem
com mais força à espionagem norte-americana.
Brazil’s stern
rebuke to U.S. spying revelations may increase political pressure in Berlin,
Delhi, Mexico City and elsewhere to follow Rousseff’s example and show a
stronger reaction to U.S. global intelligence operations — at least in
rhetoric.
Tradução: O firme repúdio do Brasil às revelações sobre a espionagem dos EUA
pode aumentar a pressão política em Berlim, Delhi, Mexico e toda parte, para
que sigam o exemplo de Rousseff e mostrem uma reação mais forte às operações
globais da inteligência estadunidense – ao menos na retórica.
Ou seja, enquanto os sabujos da imprensa brasileira tentam desqualificar
a justa e necessária indignação da presidenta Dilma contra a espionagem,
tratando-a de eleitoreira, a imprensa internacional elogia o tom duro usado
pela brasileira e dizem que o exemplo pode forçar outras autoridades, inclusive
na Alemanha, a reagirem com mais vigor à agressão norte-americana.
*
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