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Se a guerra do Iraque foi um escândalo em termos
de corrupção política, também o foi em termos financeiros dado que
favoreceu de forma abusiva as empresas que apoiavam e financiavam o
governo de Bush. Por Marco Antonio Moreno
A guerra do petróleo - imagem retirada do blogue El Salmón
A análise do Financial Times demonstra que duas empresas ganharam com o conflito bélico contratos de pelo menos 72 mil milhões de dólares, e a que mais ganhos obteve foi a Kellogg Brown & Root, a filial da Halliburton dirigida pelo então vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, com 39.500 milhões de dólares, pondo em relevo o “capitalismo de amigos” em que se corrompeu a economia atual. A nota de Anna Fifield salienta vários dados relevantes como este: “No Iraque, os Estados Unidos contrataram mais empresas privadas do que em qualquer conflito anterior e em muitas ocasiões tinham no terreno mais empresas contratadas privadas que militares”. O insólito é que todas essas despesas foram feitas sob encargo do Estado, isto é, dos contribuintes, mas os lucros foram para as grandes empresas privadas. Significativamente, a dívida pública dos Estados Unidos passou de 6 para 16 biliões de dólares nestes dez anos, enquanto as empresas que participaram na guerra enriqueceram.
É evidente que todas as empresas justificam e defendem a sua participação “com honra e sacrifício, nesse ambiente hostil, complexo, ambíguo e imprevisível da guerra”, como assinala Marianne Gooch, porta-voz da Kellogg Brown & Root, a empresa que preparou e serviu mais de mil milhões de refeições, mobilizou mais de 25 mil milhões de galões de água potável e 265 toneladas de gelo. Quando no ano de 2011 o governo dos Estados Unidos começou a fazer os cortes orçamentais, considerou excessivos e injustificados os pagamentos à KBR , mais ainda quando se tornou o único fornecedor nesse setor cheio de concorrentes. A KBR tinha, além disso, contratos para obras de engenharia e serviços de construção. A imposição da austeridade depois da crise financeira desencadeada em 2008 obrigou a rever com mais detalhe os contratos e por isso para muitas empresas a guerra terminou em dezembro de 2011, com a retirada da tropas. No entanto, ainda ficaram no Iraque mais de 14.000 empresas contratadas e 5.500 guardas de segurança.
Se a guerra do Iraque foi produto de uma mentira assustadora (as armas biológicas de destruição em massa de Saddam Hussein), é lógico que tudo nessa guerra seja uma mentira e que tudo esteja mergulhado na corrupção. Isso é o que investiga a Comissão bipartidária do Congresso dos Estados Unidos, que aponta o Departamento de Defesa dos tempos de Bush como o principal motor da corrupção: contratos à porta fechada e por somas estratosféricas e custos nunca estimados como o das vidas humanas, que dispararam o custo da guerra para os 3 biliões de dólares como assinalou Joseph Stiglitz em 2008, ainda que hoje assinala que os custos da guerra de Iraque apenas começam. Isto obriga a recordar a frase de Bush de que “a guerra seria breve”, e a do seu ministro de Defesa, Paul Wolfowitz quando em março de 2003 assinalou ao Congresso dos Estados Unidos que “se trata de um país que poderá financiar rapidamente a sua reconstrução”. Dez anos depois dessas afirmações, todo o mundo concorda que essa visão foi totalmente errada.
Outro dos factos relevantes da guerra do Iraque foi a participação da banca. A guerra do Iraque foi financiada completamente com crédito privado e foi tal o movimento de fluxos da banca europeia e norte-americana para as empresas que participavam na guerra, que os bancos (europeus e norte-americanos) deixaram de cumprir os seus compromissos com países africanos, asiáticos e outros países europeus. A banca optou por facilitar recursos financeiros às empresas da primeira economia mundial dado que tinham menor risco e maior rentabilidade. Apesar dos Estados Unidos não terem necessidade de pedir dinheiro emprestado dado que o podem imprimir diretamente e em quantidades avultadas, como tem deixado bem claro a Reserva Federal com os resgates à banca, o excesso de confiança levou a um retorcido mecanismo de financiamento que fez disparar a dívida pública de forma exponencial.
Se a guerra do Iraque foi um escândalo em termos de corrupção política, também o foi em termos financeiros dado que favoreceu de forma abusiva as empresas que apoiavam e financiavam o governo de Bush. É também uma das provas mais claras da ineficiência global dado que desde a privatização do petróleo iraquiano nos finais de 2003 o petróleo despediu-se para sempre dos 20 dólares o barril, quintuplicando e sextuplicando o seu preço numa década. É eficácia só para os quatro grandes bancos dos Estados Unidos, que com um petróleo a maior valor conseguem impulsionar a procura de dólares que é a divisa em que é transacionado o ouro negro em quase todo mundo. Isto consegue evitar transitoriamente o colapso dos Estados Unidos com a sua dívida de 16,8 biliões de dólares.
O petróleo estatal iraquiano era o mais barato do mundo dado que o seu custo de produção chegava aos 60 cêntimos o barril em 2003. Desde a sua privatização em mãos estrangeiras o petróleo iraquiano encareceu para pagar a incursão bélica em Bagdade dos empresários amigos de Dick Cheney, o então vice-presidente dos Estados Unidos. Os invasores não tiveram qualquer pejo em destruir o património histórico e cultural de um dos berços da nossa civilização. Este facto,é também a prova mais clara de que a economia atual não é mais que um “capitalismo de amigos” onde impera a corrupção, os ganhos secretos, a evasão e o crime organizado. E enquanto esta situação perdurar no tempo, as crises locais e globais serão cada dia mais devastadoras.
Artigo de Marco Antonio Moreno, publicado em El Blog Salmón. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net
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