Por: Equipe Oásis
A ameaça de extinção, hoje, não paira apenas sobre a maioria das espécies animais e vegetais que vivem em nosso planeta. A humanidade enfrenta também outra forma de extinção em massa: a das línguas. Centenas, milhares de sistemas linguísticos estão desaparecendo num ritmo sem precedentes. Quando uma língua morre, com ela morre também uma visão de mundo absolutamente única. Com a língua que se vai perdemos uma enorme herança cultural; o entendimento de como um grupo específico de seres humanos se relaciona com o mundo a seu redor; conhecimentos médicos e botânicos e zoológicos; e, ainda mais importante, perdemos a expressão do humor, do amor e da vida como a viam e entendiam essas pessoas. Em resumo, perdemos o testemunho de séculos, de milênios de vida.
Línguas são entidades vivas em constante fluxo, e sua extinção não é coisa de agora; no entanto, o ritmo no qual as línguas estão desaparecendo é alarmante. Metade das cerca de 7 mil línguas do mundo correm sério risco de desaparecer no decorrer dos próximos 100 anos.
O risco é realmente importante, sobretudo para as línguas antigas que sobreviveram até os nossos dias. Da grande família afro-asiática, por exemplo, o aramaico, a língua falada por Jesus, de tronco semítico da mesma forma que o hebraico, ainda é usado em algumas aldeias da Síria. Uma delas é Maaloula, um pequeno povoado sobre os montes Al Qalamoun, nos arredores de Damasco. Ali, no mosteiro cristão de São Jorge, o Pai Nosso e certos trechos litúrgicos ainda são recitados em aramaico. O egípcio antigo ainda é usado como língua litúrgica pela igreja copta. Dentre as línguas célticas de matriz indo-europeia, a mais antiga é o galês, falado na Irlanda e também em certas comunidades nos Estados Unidos graças à maciça imigração europeia.
Do ladino ao basco
Por seu lado, o ladino antigo – língua das comunidades de judeus marranos no sul da Europa -, que deriva diretamente do latim, ainda é falado por pequenos grupos nos vales dos Alpes centrais e orientais da Suíça e do Trentino-Alto Ádige, na Itália. Outra variante dessa língua, o ladino oriental, está hoje identificada com o friulano, a célebre língua poética do nordeste da Itália usada por Pier Paolo Pasolini em sua obra literária.
O basco, falado no nordeste da Espanha, corre um risco um pouco menor graças ao nacionalismo do povo basco que defende sua língua e suas tradições com unhas e dentes. Nem todos sabem, no entanto, que o basco é a língua mais velha da Europa, precedente às línguas indo-europeias e muito próxima dos dialetos berberes do Norte da África e também das línguas caucásicas.
Hoje, as línguas mais faladas no mundo são o chinês mandarim, inglês, espanhol, português, híndi/urdu, russo, árabe, bengali, indonésio e japonês. A cultura da globalização tende cada vez mais a fortalecer as grandes línguas, como o inglês – hoje considerado uma espécie de língua-franca mundial. O fortalecimento dessas línguas fortes em alguns países enfraquece paulatinamente os próprios idiomas locais. Este é o caso, por exemplo, das Filipinas, país onde o inglês vem paulatinamente substituindo os dialetos filipinos.
A maior concentração de línguas faladas encontra-se nas zonas do planeta onde é maior a biodiversidade (variedade de animais, plantas e ambientes). Nas florestas pluviais tropicais, que hoje ocupam apenas 7% da superfície terrestre, estão 36% dos grupos etnolinguísticos do mundo.
Avaliando-se a situação dos últimos decênios, sobretudo a evolução da cultura da globalização, calcula-se que até o final do século 21 estarão extintas entre 50 e 90% das línguas atualmente faladas.
Os árabes falam todos a mesma língua?
Não, os árabes falam muitos dialetos diversos. Mas escrevem e oram na mesma língua, o árabe clássico ou literário. Isso acontece porque o árabe, como outras línguas do mundo, possui várias formas, entre elas a forma literária e a forma oral.
O árabe literário é a língua oficial, com uma prosa substancialmente igual à do Alcorão (livro sagrado dos muçulmanos, escrito no século 7 da nossa era). É usado para as orações e demais ritos religiosos, os discursos oficiais, nos telejornais e para escrever. Não é falado no dia-a-dia, mas é estudado nas escolas de todos os 22 países da Liga Árabe (Argélia, Arábia Saudita, Bahrein, Ilhas Comores, Egito, Emirados Árabes, Jordânia, Djibuti, Iraque, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Qatar, Síria, Somália, Sudão, Tunísia e Iêmen).
No dia-a-dia, para conversar, os árabes usam as línguas locais, dialetos que são diferentes de uma nação para outra e pouco compreensíveis para além dos limites dentro dos quais são utilizados (muda a pronúncia e, em muitos casos, também os vocábulos).
Uma exceção é o dialeto egípcio, que se tornou familiar a todos os árabes graças aos filmes e aos seriados televisivos produzidos no Egito e exportados para todo o mundo árabe.
Preocupadas com a séria ameaça de extinção das línguas, algumas mega entidades que atuam em âmbito mundial, como a Unesco, e empresas como o Google, desencadearam ações para a salvaguarda do nosso patrimônio linguístico.
O Google lançou em 2012 um projeto que pretende documentar mais de 3 mil línguas ameaçadas de extinção, em uma tentativa de preservar idiomas. No site do projeto "Idiomas em Risco", falantes das línguas ameaçadas ou pesquisadores podem trabalhar na preservação desses idiomas, documentando em texto, áudio e vídeo informações sobre a linguagem.
"Quando o último falante de uma língua morre, perdemos séculos de conhecimento e tradições que ajudaram a formar quem somos", afirma a companhia. Para o Google, a preservação de uma língua está ligada à preservação da identidade cultural, dos valores e da tradição de uma comunidade.
No site criado pela gigante informática (http://www.endangeredlanguages.com/) é possível explorar as línguas ameaçadas, filtrar a busca pelo risco de desaparecimento, local ou quantidade de falantes. As informações foram fornecidas pela Universidade do Havaí, em Manoa, e pelo Instituto de línguas e Tecnologia da Informação (The Linguist List) na Universidade Oriental de Michigan.
Vídeo: Lançamento do Projeto Idiomas em Risco
Por: Equipe Oásis
A ameaça de extinção, hoje, não paira apenas sobre a maioria das espécies animais e vegetais que vivem em nosso planeta. A humanidade enfrenta também outra forma de extinção em massa: a das línguas. Centenas, milhares de sistemas linguísticos estão desaparecendo num ritmo sem precedentes. Quando uma língua morre, com ela morre também uma visão de mundo absolutamente única. Com a língua que se vai perdemos uma enorme herança cultural; o entendimento de como um grupo específico de seres humanos se relaciona com o mundo a seu redor; conhecimentos médicos e botânicos e zoológicos; e, ainda mais importante, perdemos a expressão do humor, do amor e da vida como a viam e entendiam essas pessoas. Em resumo, perdemos o testemunho de séculos, de milênios de vida.
Línguas são entidades vivas em constante fluxo, e sua extinção não é coisa de agora; no entanto, o ritmo no qual as línguas estão desaparecendo é alarmante. Metade das cerca de 7 mil línguas do mundo correm sério risco de desaparecer no decorrer dos próximos 100 anos.
O risco é realmente importante, sobretudo para as línguas antigas que sobreviveram até os nossos dias. Da grande família afro-asiática, por exemplo, o aramaico, a língua falada por Jesus, de tronco semítico da mesma forma que o hebraico, ainda é usado em algumas aldeias da Síria. Uma delas é Maaloula, um pequeno povoado sobre os montes Al Qalamoun, nos arredores de Damasco. Ali, no mosteiro cristão de São Jorge, o Pai Nosso e certos trechos litúrgicos ainda são recitados em aramaico. O egípcio antigo ainda é usado como língua litúrgica pela igreja copta. Dentre as línguas célticas de matriz indo-europeia, a mais antiga é o galês, falado na Irlanda e também em certas comunidades nos Estados Unidos graças à maciça imigração europeia.
Do ladino ao basco
Por seu lado, o ladino antigo – língua das comunidades de judeus marranos no sul da Europa -, que deriva diretamente do latim, ainda é falado por pequenos grupos nos vales dos Alpes centrais e orientais da Suíça e do Trentino-Alto Ádige, na Itália. Outra variante dessa língua, o ladino oriental, está hoje identificada com o friulano, a célebre língua poética do nordeste da Itália usada por Pier Paolo Pasolini em sua obra literária.
O basco, falado no nordeste da Espanha, corre um risco um pouco menor graças ao nacionalismo do povo basco que defende sua língua e suas tradições com unhas e dentes. Nem todos sabem, no entanto, que o basco é a língua mais velha da Europa, precedente às línguas indo-europeias e muito próxima dos dialetos berberes do Norte da África e também das línguas caucásicas.
Hoje, as línguas mais faladas no mundo são o chinês mandarim, inglês, espanhol, português, híndi/urdu, russo, árabe, bengali, indonésio e japonês. A cultura da globalização tende cada vez mais a fortalecer as grandes línguas, como o inglês – hoje considerado uma espécie de língua-franca mundial. O fortalecimento dessas línguas fortes em alguns países enfraquece paulatinamente os próprios idiomas locais. Este é o caso, por exemplo, das Filipinas, país onde o inglês vem paulatinamente substituindo os dialetos filipinos.
A maior concentração de línguas faladas encontra-se nas zonas do planeta onde é maior a biodiversidade (variedade de animais, plantas e ambientes). Nas florestas pluviais tropicais, que hoje ocupam apenas 7% da superfície terrestre, estão 36% dos grupos etnolinguísticos do mundo.
Avaliando-se a situação dos últimos decênios, sobretudo a evolução da cultura da globalização, calcula-se que até o final do século 21 estarão extintas entre 50 e 90% das línguas atualmente faladas.
Avaliando-se a situação dos últimos decênios, sobretudo a evolução da cultura da globalização, calcula-se que até o final do século 21 estarão extintas entre 50 e 90% das línguas atualmente faladas.
Os árabes falam todos a mesma língua?
Não, os árabes falam muitos dialetos diversos. Mas escrevem e oram na mesma língua, o árabe clássico ou literário. Isso acontece porque o árabe, como outras línguas do mundo, possui várias formas, entre elas a forma literária e a forma oral.
O árabe literário é a língua oficial, com uma prosa substancialmente igual à do Alcorão (livro sagrado dos muçulmanos, escrito no século 7 da nossa era). É usado para as orações e demais ritos religiosos, os discursos oficiais, nos telejornais e para escrever. Não é falado no dia-a-dia, mas é estudado nas escolas de todos os 22 países da Liga Árabe (Argélia, Arábia Saudita, Bahrein, Ilhas Comores, Egito, Emirados Árabes, Jordânia, Djibuti, Iraque, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Qatar, Síria, Somália, Sudão, Tunísia e Iêmen).
No dia-a-dia, para conversar, os árabes usam as línguas locais, dialetos que são diferentes de uma nação para outra e pouco compreensíveis para além dos limites dentro dos quais são utilizados (muda a pronúncia e, em muitos casos, também os vocábulos).
Uma exceção é o dialeto egípcio, que se tornou familiar a todos os árabes graças aos filmes e aos seriados televisivos produzidos no Egito e exportados para todo o mundo árabe.
Preocupadas com a séria ameaça de extinção das línguas, algumas mega entidades que atuam em âmbito mundial, como a Unesco, e empresas como o Google, desencadearam ações para a salvaguarda do nosso patrimônio linguístico.
O Google lançou em 2012 um projeto que pretende documentar mais de 3 mil línguas ameaçadas de extinção, em uma tentativa de preservar idiomas. No site do projeto "Idiomas em Risco", falantes das línguas ameaçadas ou pesquisadores podem trabalhar na preservação desses idiomas, documentando em texto, áudio e vídeo informações sobre a linguagem.
"Quando o último falante de uma língua morre, perdemos séculos de conhecimento e tradições que ajudaram a formar quem somos", afirma a companhia. Para o Google, a preservação de uma língua está ligada à preservação da identidade cultural, dos valores e da tradição de uma comunidade.
No site criado pela gigante informática (http://www.endangeredlanguages.com/) é possível explorar as línguas ameaçadas, filtrar a busca pelo risco de desaparecimento, local ou quantidade de falantes. As informações foram fornecidas pela Universidade do Havaí, em Manoa, e pelo Instituto de línguas e Tecnologia da Informação (The Linguist List) na Universidade Oriental de Michigan.
Vídeo: Lançamento do Projeto Idiomas em Risco
Nenhum comentário:
Postar um comentário