21 de setembro de 2013
O impacto da desistência das petroleiras americanas e britânicas de participarem do leilão de Libra já foi absorvido pelo mercado, pela imprensa e pelo governo. Houve um receio de que a mídia brasileira, após a saída dos americanos, levasse adiante uma campanha para melar o leilão. Mas as empresas remanescentes tem boas assessorias e conquistaram a simpatia dos jornais.
A própria presidente Dilma, mediante um assessor, abriu o jogo para o Estadão: o governo federal vai sim jogar pesado para que a Petrobrás tenha a maior fatia possível do campo de Libra, além mesmo dos 30% que é a cota mínima. BNDES e Tesouro Nacional poderão emprestar recursos para a estatal entrar de sola no leilão.
O representante da Repsol, que deverá se associar à chinesa Sinopec e à própria Petrobrás para explorar Libra, até ligou para o Merval Pereira, para acalmá-lo. Ele não precisa se preocupar tanto com essa história de “conteúdo nacional”, excesso de presença estatal; o executivo esclarece que seria “burrice” não entrar agora.
A Folha amanheceu neste sábado com um caderno especial sobre petróleo, que traz um belo infográfico sobre o campo:
A fuga das americanas pode ser explicada por vários motivos. Um deles deve ser a existência de um governo muito mais “amigo” no México, que prometeu dar condições vantajosas para as gigantes explorarem reservas por lá. Reportagem recente no Washington Post informa, porém, que há um profundo ceticismo, nas cidades produtoras de petróleo, acerca do plano do presidente do México, Enrique Peña Nieto, de desregulamentar ainda mais o setor no país.
Outra razão pode estar em estudo publicado há pouco pela Reuters, segundo o qual a importação da China em 2020 atingirá US$ 550 bilhões, enquanto a dos EUA, cujo pico foi US$ 330 bilhões há alguns anos, deverá cair para US$ 160 bilhões, por causa principalmente da substituição do petróleo por xisto.
A China tem necessidades maiores que os EUA e, por isso, está disposta a estabelecer um contrato mais estável com o Brasil.
A previsão de que os EUA substituirão petróleo por xisto, além disso, reforça a necessidade do Brasil acelerar a extração e a venda do petróleo em águas profundas. Não se pode nunca descartar o risco do surgimento de fontes alternativas.
Em entrevista ao caderno especial da Folha, Adriano Pires diz que a Libra vai render “bem menos do que se projeta hoje”. Em se tratando de uma commodity violentamente imprevisível, trata-se de um prognóstico que nem Mãe Dinah se atreveria a fazer. Um especialista, ao rebaixar o valor de Libra às vésperas do leilão, deixa bem claro que interesses representa. Mesmo Pires, contudo, não pôde se furtar a uma obviedade. Os chineses estão dispostos a pagar mais e melhor por uma questão de segurança energética nacional.
Por: Miguel do Rosário
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