sábado, 22 de fevereiro de 2014

Os imóveis de Pizzolato na Espanha 22/02/2014



Enviado por Miguel do Rosário
Bem, como estou meio que colecionando as histórias de Pizzolato, que se tornou um personagem constante nesse blog, comento a matéria da Folha publicada hoje, com destaque na primeira página, sobre a compra, pelo ex-diretor de marketing do BB, de três imóveis na Espanha.

Os adversários de sempre logo passaram a usar a informação para atacar o Pizzolato e o partido dos trabalhadores. Só que, até agora, não se encontrou nada demais. A compra dos imóveis é compatível com o patrimônio de Pizzolato, até porque ele havia, nessa mesma época, vendido seus bens no Brasil.

Reproduzo abaixo matérias da Folha, de hoje, e do Correio Braziliense, publicada há mais ou menos 30 dias, que se complementam e ajudam a explicar a vida “imobiliária” de Pizzolato.

Vou resumir o que eu penso e o que descobri, lendo essas matérias, acrescentando-lhes algumas coisas que sei por outras fontes.

Pizzolato e sua esposa, Andrea Haas, praticamente viveram na Espanha, entre 2006 e 2012, numa região litorânea onde mora, ou morava, uma parente, que enfrentou sérios problemas de saúde nesse período, tendo sido esse um dos motivos que levou Pizzolato a passar um tempo por lá.

A repórter do Correio Braziliense, Ana D’angelo, sabe-se lá como, teve acesso ao histórico fiscal de Pizzolato, cuja vida foi devassada em quase 20 anos pelas várias CPIs do mensalão. Pesquisando em cartórios do Rio de Janeiro e do sul do país, ela descobriu que dos 11 imóveis que ele possuía em 2005, adquiridos antes de assumir o cargo de diretor de marketing do Banco do Brasil, ele começou a vender todos a partir de 2006, com exceção de três.

Enquanto esteve na Espanha, escreve a repórter, de 2006 a 2012, Pizzolato continuou o processo de desalienação de seus imóveis. Nessa época, comprou os três imóveis no país, que na verdade são dois. Dois imóveis são colados, formando uma só casa, onde ele efetivamente morou com sua esposa. Ambos estavam devidamente registrados nos cartórios da cidade. O terceiro é um apartamento mais simples, que Pizzolato provavelmente adquiriu para sua parente.



A reportagem do Correio informa que, segundo a Receita, Pizzolato tinha R$ 2,2 milhões em imóveis até julho de 2005, em valores não atualizados. O valor real de venda deve ter sido três vezes superior.

A Folha, por sua vez, diz que o imóvel mais caro adquirido por Pizzolato na Espanha, conforme avaliação de corretores consultados, custaria 450 mil euros. Em valor do câmbio de ontem, isso corresponderia a R$ 1,5 milhão. Mas no valor do câmbio de 2010, talvez custasse bem menos.

A compra dos imóveis na Espanha me parece perfeitamente compatível com o patrimônio de Pizzolato, acumulado ao longo de 40 anos como executivo graduado no Banco do Brasil, em conjunto com Andrea, arquiteta talentosa que sempre exerceu a profissão.

Não há crime nenhum aqui. Pizzolato e sua esposa tinham um bom patrimônio, sim, mas adquirido – até onde consta – com trabalho, visto que jamais sofreu qualquer processo na Justiça ou na Receita e seus sigilos fiscal e bancário foram devassados com pente fino por autoridades sedentas de sangue.

Naturalmente, os detratores de sempre querem fazer de tudo para ridicularizar as campanhas de solidariedade aos outros petistas, e entendem que a melhor forma é usar as desinformações sobre Pizzolato. Só que vão se lascar.

Pizzolato é a peça chave para derrubar a Ação Penal 470. Essa é a razão, como já expliquei em outro post, pela qual a mídia fará de tudo para desacreditá-lo. Todos os seus atos são criminalizados. Vendeu um imóvel? É ladrão. Comprou outro imóvel? É ladrão. Na verdade, hoje em dia, a mídia nem precisa fazê-lo. Basta dar a notícia que Pizzolato comprou um imóvel em algum lugar, que o senso comum, envenenadíssimo, dá conta do resto.

Pizzolato era livre durante o período em que morou na Espanha, e podia abrir contas e comprar imóveis. Os preços na Espanha, em função da crise vivida pelo país, talvez estivessem interessantes. Talvez fosse um bom negócio.

Ciente da tempestade que se aproximava, e não percebendo apoio em nenhuma parte a seu caso, acho que é compreensível que tenha decidido vender seus imóveis no Brasil.

É isso o que eu acho, mas posso estar enganado. As informações de que dispomos até agora ainda me permitem manter a teoria de que Pizzolato é inocente, um perseguido político, talvez até mesmo uma ótima pessoa, honesta e pacata, que se viu, à sua revelia, no meio da maior tempestade política do século. Espero não me decepcionar. Mas prefiro correr esse risco a entrar no jogo medíocre e sujo da nossa mídia, que julga, acusa e lincha, sem provas.

Abaixo as matérias mencionadas, da Folha e do Correio Braziliense, que estão até razoáveis, com doses controladas e inevitáveis de veneno.

*

Pizzolato comprou três imóveis em cidade do litoral da Espanha

Dois apartamentos ficam em condomínio de classe média-alta com vista para o mar Mediterrâneo

Mulher do ex-diretor do Banco do Brasil esteve num dos imóveis 15 dias antes de ele ser preso na Itália

GRACILIANO ROCHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MÓDENA

Antes de ser preso na Itália, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato comprou três imóveis –dois deles apartamentos em um condomínio de alto padrão–na cidade litorânea de Benalmádena, no sul da Espanha.

A compra dos imóveis foi descoberta pela polícia espanhola nas investigações para localizar Pizzolato, que passou mais de três meses foragido na Europa.

Segundo a polícia espanhola, dois apartamentos foram comprados em um condomínio chamado Urbanización Costa Quebrada, colado ao mar, com piscina e entrada de visitantes controlada 24 horas por dia por um sistema de interfones e câmera.

O condomínio fica no distrito de Torrequebrada e ocupa o alto de uma colina. Com perfil de classe média-alta, os moradores têm vista para as águas do Mediterrâneo.

“Estes dois apartamentos foram unidos em um só e foram a residência do casal na Espanha. Quinze dias antes da prisão do Pizzolato na Itália, a mulher dele esteve neste local”, disse à Folha Olga Lizana, chefe do grupo de localização de fugitivos da polícia espanhola.

Ela não informou se os imóveis foram registrados em nome de Pizzolato ou de sua mulher, Andrea Eunice Haas, nem a data de aquisição.

Corretores de imóveis ouvidos pela Folha informaram que um apartamento de 140 m² –tamanho padrão do condomínio– são negociados por € 450 mil (equivalente a R$ 1,5 milhão pelo câmbio de ontem). Os apartamentos de cobertura, com 200 m², podem custar € 600 mil (R$ 1,9 milhão) no mesmo local.

O casal constava no cadastro de cidadãos estrangeiros residentes em Benalmádena desde 2010, mas o endereço registrado como o de moradia foi o de um terceiro apartamento, em outro condomínio, de classe média.

A Folha visitou esse imóvel –sem portões, nem câmeras de segurança– em dois dias deste mês. Ninguém atendeu ao interfone. Moradores do mesmo prédio contaram que no local vive um casal de sul-americanos que há meses não aparecia por lá.

Segundo Olga Lizana, o rastreamento de outros bens de Pizzolato no país depende de pedido formal de autoridades brasileiras. Na semana passada, a Folha revelou que o casal operou ao menos três contas bancárias na Espanha.

Também partiu de Lizana a informação que levou à localização de Pizzolato na Itália: a existência do Fiat Punto comprado por Andrea e usado pelo casal na Europa.

No dia 3 de fevereiro, a polícia italiana esteve na casa do sobrinho de Pizzolato em Maranello e viram o Punto na garagem. O ex-diretor do BB foi preso, para fins de extradição, no dia 5 de fevereiro.

Colaborou LUISA BELCHIOR, em Madri

***

O milionário Pizzolato se diz inocente

Uma fuga planejada há oito anos. Livre, rico e com passaporte italiano

Ana D’angelo, do Correio Braziliense

Condenado na Ação Penal 470, Henrique Pizzolato iniciou ainda em 2006 o plano para escapar da futura punição da Justiça, com a transferência e a venda de imóveis. Em 2013, a estratégia teve fim com a saída clandestina para a Itália. …

Fiel amigo de Henrique Pizzolato, o blogueiro Alexandre Teixeira garante que o réu do processo do mensalão, hoje com 62 anos, só decidiu fugir do país em cima da hora, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) negou, em 4 de setembro do ano passado, os embargos de declaração à condenação de 12 anos e 7 meses de cadeia em regime fechado. O ex-diretor do Banco do Brasil (BB) não tinha direito aos embargos infringentes, a exemplo de José Dirceu e Delúbio Soares. O Correio apurou, no entanto, que os planos de Pizzolato para escapar da mão da Justiça começaram oito anos atrás.

O passo inicial foi se desfazer de quase todos os 11 imóveis que possuía em 2005. Uma busca feita pela reportagem nas últimas três semanas em cartórios do Rio de Janeiro e de cidades no Sul do país revelam a movimentação imobiliária de Pizzolato desde o início de 2006. O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, divulgado em 28 de março daquele ano, confirmou o pior, embora já esperado por Pizzolato, conforme as sinalizações recebidas. Ao indiciar 60 pessoas, o ex-tesoureiro da campanha de 2002 de Luiz Inácio Lula da Silva foi enquadrado pela CPI nos crimes de falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e peculato.

“Nesse momento, ele identificou que o mundo estava caindo em cima dele”, contou o amigo. Duas semanas depois, a Procuradoria-Geral da República ofereceu a denúncia contra 40 réus ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Ele trabalhou com planos A, B e C”, reconheceu o amigo de Pizzolato, após questionamentos do Correio sobre a desmobilização do patrimônio. O ex-diretor do BB ainda acreditou que pudesse ser inocentado no fim, mas não deixou de se preparar para o extremo, a cadeia. E dela escapar. Petistas ouvidos pela reportagem descreveram Pizzolato como uma pessoa meticulosa, disciplinada e excelente estrategista.

Quando soube que o relatório da CPI viria implacável, o ex-diretor do BB deu início a um dos planos, que era livrar os bens de um eventual bloqueio judicial para a fuga. Ele já havia tido uma experiência nada boa. Entre junho de 2002 e fevereiro de 2003, ficou com os bens indisponíveis por ordem judicial, por conta de uma intervenção do governo federal na Previ, o fundo de pensão do BB, do qual foi diretor de 1998 até maio de 2002.

Em julho de 2005, quando veio à tona que ele recebeu R$ 326,6 mil em dinheiro sacados da conta da agência de propaganda de Marcos Valério no Banco Rural, que lhe foram entregues por um contínuo da Previ, ele possuía 11 imóveis, entre casas e apartamentos, declarados à Receita Federal. À época, estavam avaliados, de forma conservadora, em R$ 2,2 milhões, conforme levantamento feito pelo Correio em cartórios do Rio e de algumas cidades do Sul.

Na lista, está inclusa a cobertura em Copacabana, adquirida em fevereiro de 2004, por R$ 400 mil (hoje avaliada em quase R$ 4 milhões), 35 dias após receber os R$ 326 mil, dos quais R$ 100 mil foram pagos em dinheiro. À Receita, além dos imóveis, ele declarou, no final de 2004, cerca de R$ 500 mil em investimentos (incluídos R$ 100 mil em nome da mulher, sua dependente na declaração) e R$ 81 mil em dólares e euros. Seria o correspondente a ter atualmente R$ 1 milhão em conta e em moeda estrangeira.

Partilha

Em abril de 2006, Pizzolato e a mulher, Andrea Haas, 51 anos, foram parte num processo judicial de partilha de bens, na 4ª Vara de Família do Rio. O casal, que se juntou ainda na juventude, se separou no papel, mas nunca deixou de estar junto. Andrea mora com Pizzolato na Itália. Uma procuração firmada em cartório no Rio indica que eles se casaram novamente, desta vez, com separação de bens. Na partilha, homologada em dezembro de 2006, ela ficou com três dos imóveis mais valiosos.

Coube a ela a casa luxuosa de 310 metros quadrados num condomínio de alto padrão no bairro Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Construída entre julho de 2003 e 2004, à época, era avaliada em mais de R$ 600 mil, e hoje, em torno de R$ 2,5 milhões. Andrea ficou também com o apartamento de cobertura de 102 metros quadrados num prédio de quatro andares também na Lagoa da Conceição — em 2006, avaliado em R$ 300 mil e, hoje, em cerca de R$ 800 mil. Ainda teve direito ao apartamento duplex de 158 metros quadrados na Rua República do Peru, em Copacabana, a uma quadra da praia, que valia R$ 500 mil à época e hoje, R$ 2,5 milhões.

Naquele ano de 2006, em que a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra 40 réus foi apresentada e recebida pelo Supremo Tribunal Federal, Pizzolato vendeu três apartamentos: dois em Curitiba e um em São Leopoldo, totalizando R$ 203 mil, conforme está no registro em cartório. Outros dois, também localizados no município do interior gaúcho, foram transferidos a terceiros em 2009, por R$ 118 mil registrados no total. Embora declarasse à Receita como seus integralmente, esses dois apartamentos estavam também em nome de um amigo.

Exterior

Enquanto desmobilizava o próprio patrimônio, entre 2006 e 2012, Pizzolato passou a maior parte do tempo no exterior. A justificativa foi amparar uma sobrinha, filha da irmã que morava no sul da Espanha, com problemas de saúde e em tratamento. Foi nesse período que ele providenciou a cidadania italiana e um passaporte daquele país. Questionado, Teixeira disse que ele obteve a cidadania “há uns cinco anos”.

Em novembro de 2012, encerrada a primeira fase do julgamento que resultou na condenação de 25 réus, Pizzolato entregou ao STF os dois passaportes que tinha, o italiano e o brasileiro. E afastou eventual suspeita de que pudesse fugir. Na ocasião, seu advogado, Marthius Sávio Lobato, declarou ser absurda a ordem do STF de recolher os passaportes, pois a sentença não transitara em julgado, e anunciou que a contestaria no próprio STF.

Naquele fim de ano, Pizzolato quase não conseguiu executar o plano de fuga, quando o procurador-geral da República decidiu pedir a prisão antecipada dos condenados, às vésperas do Natal. “Em 22 de dezembro (de 2012), fiquei na casa dele esperando a polícia chegar. Ele estava em pânico. Não conseguia entender como recebeu a maior condenação e a maior multa”, relatou o amigo Teixeira. Passado o susto, Pizzolato pôde aplicar, em 2013, o que ele considerou o pulo do gato e, assim, tomar um voo legalmente para a Itália (leia mais na página 3).

12 anos e 7 meses. Tempo de prisão imposto a Pizzolato pelo STF.

Pedido por um novo julgamento.
Confiante de que não há a menor possibilidade de ser extraditado da Itália, por ser cidadão italiano e sem qualquer restrição ou condenação naquele país, Henrique Pizzolato tenta levar o processo do mensalão para lá e ser julgado novamente pela justiça local. Para isso, o Ministério da Justiça tem que iniciar o processo de extradição e enviar a íntegra do processo para o país europeu. O primeiro passo é confirmar e avisar ao STF que Pizzolato está na Itália.

Procurado, o Ministério da Justiça informou que não há nenhum processo de extradição aberto ainda em relação a Pizzolato, que é considerado foragido e está na lista de procurados da Interpol, a polícia internacional. O Correio perguntou se o órgão informou o STF acerca da localização do ex-diretor do BB na Itália, mas não houve retorno.

Ao ser questionado sobre o risco de Pizzolato sofrer condenação também no país europeu e, assim, perder a oportunidade de viver livre por lá, o amigo Alexandre Teixeira respondeu que ele tem a certeza de que será inocentado. Os amigos que defendem o ex-diretor do BB em blogs na internet questionam o fato de o STF ter cravado que os R$ 326 mil que ele recebeu em dinheiro das mãos do contínuo da Previ são propina por ter prorrogado contrato da agência DNA, de Marcos Valério.

“Só que a prorrogação foi feita em 11 de fevereiro de 2003, e ele tomou posse no BB em 17 de fevereiro de 2003″, disse Teixeira. “Ele fez de tudo para divulgar os documentos que provavam sua inocência, achando que a Justiça pudesse ser efetiva”, comentou. (AD)

Em 2013, quando fugiu, só restavam em nome de Henrique Pizzolato três dos 11 imóveis que ele tinha em 2005, declarados à Receita Federal. Há uma casa em Concórdia, onde mora o pai e alguns parentes, e outra em Toledo, no interior do Paraná. Há suspeitas de que não mais lhe pertençam, mas as eventuais escrituras de compra e venda não foram registradas nos respectivos cartórios de registro de imóveis.

Também continua em nome de Pizzolato o apartamento mais valioso, uma cobertura na Rua Domingos Ferreira, em Copacabana, a uma quadra da praia, de quase R$ 4 milhões. Em relação a esse imóvel, a decisão foi estratégica. Ao mantê-lo em seu nome, não despertou suspeita de sua intenção de fugir, pois era sua residência conhecida desde a eclosão do escândalo do mensalão. Conforme informações obtidas pelo Correio, ele fez um contrato de comodato, que é um empréstimo gratuito de coisa não fungível (caso do imóvel), com um casal de amigos antigos, com registro de divisão do imóvel. Pizzolato teria só metade do apartamento.

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