Por Miguel do Rosário
Com 100% das urnas processadas, o tribunal eleitoral de El Salvador aponta a vitória de Sánchez Cerén, da Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional (FMLN), por estreita margem sobre a direita salvadorenha, representada pela Arena.
O FMLN obteve 50,11% dos votos, contra 49,89%. Há expectativa ainda se a Arena irá aceitar pacificamente os resultados.
Caso consiga fazer um governo razoável, cria-se a expectativa de que a América Central, finalmente, viva uma onda de governos populares democráticos.
Espera-se que o tempo dos golpes, quando os EUA patrocinavam, sistematicamente, golpes de Estado no continente tenham ficado para trás.
Talvez não seja, de qualquer forma, mais interessante para os EUA que a América Central se mantenha vergada sob o chicote da opressão imperialista. Possivelmente, a própria dinâmica do grande capital tenha percebido que é interessante, também para os EUA, que as populações centro-americanas se desenvolvam economica e socialmente, com melhor distribuição de renda, para que se tornem um mercado consumidor dos produtos culturais e tecnológicos norte-americanos.
Antigamente, quando os EUA obtinham a maior parte de sua renda com a exportação industrial, havia medo de que um desenvolvimento econômico de cunho nacionalista em países latino-americanos pudesse criar indústrias que reduzissem os déficits comerciais desses países com os EUA, além de dificultar a obtenção de matérias-primas a preço baixo.
Hoje isso não tem mais sentido. O mercado de matérias-primas está extremamente consolidado pelas próprias estruturas econômicas. A América Central importa produtos manufaturados antes da China do que dos EUA, cujas exportações estão cada vez mais dependentes do setor de serviços e de produtos culturais.
A dialética interna ao próprio capitalismo norte-americano poderá, pela primeira vez em séculos, estimular o desenvolvimento da América Central?
É uma teoria otimista e ao mesmo tempo tristemente realista, quase cínica, porque condiciona uma possível onda de vitórias populares na América Central não apenas a um repuxão interno de soberania, e a uma nova emergência de forças sociais, mas também ao interesse do próprio império de formar uma nova camada de consumidores de seus filmes, softwares e aplicativos.
Aplicando-se uma fórmula marxista ainda bastante atual, até porque é uma observação de fatos históricos anteriores a Marx, pode-se prever que essas novas demandas do capitalismo produzirão sociedades mais avançadas, com mais organização, mais força e mais consciência para contestar o próprio império. Mas o império também não ficará parado, então na verdade o que teremos pela frente são novos desafios e novas formas de luta.
Seja o que for, a vitória da esquerda em El Salvador é uma excelente notícia para as forças populares de todo o continente!
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