2/10/2014, [*] Vera Graziadei, Blog Vera Graziadei
“Emperor Obama’s old new clothes and the US energy war”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Entreouvido no Mocó do Padre na Vila Vudu:
Cróóooooooozes! A Ucrânia é aqui! Já explodiram o avião do Eduardo Campos, já empurraram Marina Silva feito boi-de-piranha, pra abrir caminho prô Aécim... Porque uma coisa é certa: a GRANDE GRANA mundial NUNCA entregaria o governo do Brasil a Marina Silva. Nunca. Porque é mulher, porque é pobre, porque é mulata, porque é “de ONG”... E é BURRA a ponto de apoiar Aécim no 2º turno. Marina consegue “negociar” só até o nível “Neca” (às vezes nem isso), e dali não passa.
Marina foi uma espécie de Cavalo de Troia, metida lá entre a população da “esquerda” emburrecida e despolitizada por anos de bobajol dos petistas anti-jornais e por besteirol de jornalistas anti-petistas & pelas doideiras metidas a “intelectuais”, “sociológicas”, “históricas” e “geográficas” de professores-doutores e diplomatas midiáticos descalços que, piores, como gente-de-saber, no mundo não há.
Marina foi metida lá só para ajudar Aécim dividindo o eleitorado e provocar o 2º turno (coisa que Eduardo Campos não estava fazendo); o próprio Cavalo de Tróia. Aécim, verdade seja dita − e a GRANDE GRANA logo viu − é um saco de bosta.
Foi serviçal-criado do avô, depois serviu como subserviçal-criado da irmã, verdadeira, ao seu tempo, governadora de Minas. Mas Aécim é pau−mandado, no sentido de que obedece bem: é mandar, que ele faiz direitim...
É a “qualidade” que a GRANDE GRANA INTERNACIONAL (com seus cúmplices nacionais) e as BIG SISTERS do petróleo mais apreciam.
É onde afinal se vê que, sim, A UCRÂNIA É AQUI! Leiam o que abaixo se lê e ME DIGAM: se os EUA fizeram e fazem o que fizeram e fazem hoje na Ucrânia, por uns puns-lá, de gás de xisto... O que não tentariam, tentaram, tentarão por aqui, com o pré-sal e o Brasil crescendo de braços dados com a América Latina e com China e com Rússia e outros BRICS?!
Agora só falta, então, reeleger Dilma e despachar esse Aécim “Yats”, de volta prá Minas.
Depois não digam que não sabiam! Está escrito aí, porque Obama foi lá na ONU e disse com todas as letras. Assista aí no vídeo:
“(...) os Estados Unidos da América não se deixarão distrair ou desviar do que tem de ser feito. (…) Estamos preparados para fazer o que for necessário”.
É realmente pena que não deixem entrar crianças nas reuniões da ONU. Sem elas lá, não havia ninguém que, durante o discurso de Obama à Assembleia Geral, gritasse: “O rei está nu!” Porque até nas intenções o discurso de Obama foi pensado para ser visto como vestimenta finamente tecida para tornar críveis os motivos utópicos de cavaleiros andantes dos EUA, vestidos nas armaduras rutilantes da ONU e lutando por progresso humano, democracia, paz e prosperidade pelo planeta. Mas havia tantos furos naquela falso pano inventado por “especialistas” midiáticos, que era impossível não ver a feia carne nua das verdadeiras agendas da política exterior dos EUA.
Todos os presentes, e a mídia dominante, mantiveram a mentira, ignorando deliberadamente as falhas e os furos, e sempre elogiando a beleza e delicado equilíbrio do tecido e da tessitura (The Guardian: “Obama visou a um delicado equilíbrio na Assembleia Geral da ONU”), e sempre destacando a qualidade do padrão de haute-couture na justificação de mais guerras (BBC: A frase que perdurará é “a rede da morte”); e tudo rapidamente será repetido e repetido, nas narrativas dos jornais e redes de notícias.
Convenientemente, a maioria dos jornalistas da rede MSM escolheu não ver as inversões irônicas na trama do tecido urdido pelos conselheiros de Obama: “Centenas de milhões de seres humanos foram libertados da prisão da pobreza” (sim, exceto 67% das famílias de Detroit e 46,5 milhões de pessoas em todos os EUA); “digo sempre aos jovens dos EUA que esse é o melhor tempo, de toda a história, para estar vivo (a taxa de mortalidade infantil nos EUA é a 4ª mais alta, dentre as 29 nações mais desenvolvidas do mundo), porque há a maior probabilidade para todos de serem alfabetizados (há 32 milhões de adultos analfabetos nos EUA, 14% da população), terem boa saúde (os EUA têm o sistema de assistência à saúde mais caro e menos efetivo, na comparação com 10 outras nações ocidentais e altamente industrializadas), e serem livres para perseguir seus sonhos (é o Conto da Mobilidade Social nos EUA)”.
“Chegamos juntos à encruzilhada entre guerra e paz; entre desordem e integração; entre medo e esperança” – disse o Prêmio Nobel da Paz de 2009, o mesmo que na véspera começara a bombardear o sétimo país (!) predominantemente muçulmano de seu currículo de bombas, depois de Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Somália, Líbia e Iraque. Horas antes de os EUA começarem a bombardear território sírio com ataques aéreos e mísseis, um alto funcionário do governo Obama dissera ao Guardian que “nenhum dos dois grupos tomados como alvos nos ataques da noite de 2ª-feira – o grupo militante Estado Islâmico ou o grupo coligado da Al-Qaeda, Corassão – significam ameaça iminente aos EUA”. Na verdade o Grupo Corassão, é grupo terrorista completamente inventado, só para justificar o bombardeamento contra a Síria.
Com Obama convocando o mundo para a via da guerra (que ele àquela altura já trilhava), ninguém lá se levantou para perguntar que possível autoridade legal ele teria para bombardear território sírio. Nos dias seguintes, os veículos da imprensa-empresa dominante, os quais em meses anteriores tanto falavam a favor de defender a soberania dos estados, sobretudo do estado ucraniano contra alegadas agressões russas, permaneceram impenetravelmente mudos a respeito de não haver nenhum tipo de autorização, nem da ONU nem do Congresso dos EUA, para a guerra de Obama na Síria, e servilmente repetiram toda a propaganda pró-guerra que o governo Obama distribuía. (Nota: Distribuir propaganda de guerra é crime de guerra, nos termos dos Princípios fixados pelo Tribunal de Nuremberg: é Crime contra a Paz. Ao divulgar a política externa dos EUA, a rede MSM torna-se cúmplice de crimes de guerra).
Deixando de lado a tragédia do conflito no Oriente Médio, e focando-se a seguir na Europa, o Imperador mostrou ainda mais claramente que seus trajes supostos humanitários eram só buracos – mentiras, hipocrisia, duplifalar. Só os mais caninamente fiéis defensores do Império, ou idiotas úteis da corte de Obama, poderiam ainda tentar manter a ficção de que aquela carne feia, podre, visível, das políticas exteriores dos EUA não aparecia ali, ante os olhos de todos. Presumivelmente, porque a maioria dos britânicos e europeus ainda creem que o progresso e a prosperidade deles depende(ria) de os EUA dominarem o planeta, o discurso de Obama encontrou eco nas crenças e nos valores deles, embora fosse discurso falso, do início ao fim. Porque, se se consideram os fatos do que os EUA têm feito na Grã-Bretanha e na Europa em anos recentes, é mais que claro que nenhuma agressão real jamais partiu da Rússia, mas do outro lado do Atlântico – semeando práticas antidemocráticas e corruptas na política europeia, pondo em risco o meio ambiente, minando direitos e poderes dos cidadãos e até encorajando o confronto com derramamento de sangue (como os EUA fizeram na Ucrânia).
Só as multinacionais e os políticos mais corruptos beneficiam-se das práticas que os EUA disseminam pelo mundo, as e os mesmos que trabalham juntos, em aliança, para manter a atual ordem corrupta do mundo, que tanto as/os beneficia, mas que já começa a ser ameaçada.
Segundo a revista Foreign Policy, “A liderança norte-americana no mundo está em perigo”: vê-se muito mais crescimento econômico no mundo em desenvolvimento (vide gráfico abaixo); os países em desenvolvimento começam a investir mais na autoproteção militar (o que reduz o poder relativo dos EUA); e a dívida interna dos EUA já chega a US$13 trilhões, 75% do PIB. Esse último é o maior dos problemas que os EUA enfrentam no momento: “entre aliados, adversários e estados indecisos, a política fiscal dos EUA já põe cada dia mais em questão a capacidade dos EUA para liderarem globalmente”.
Gráfico: “PIBs dos países do G-7 e E-7”
Foreign Policy listou medidas que os EUA teriam de tomar para manter-se na liderança global (...), como [dentre outras] atrair cérebros de todo o mundo, e capitalizar o boom de energia pelo qual passam os EUA.
Há menos de uma década, os EUA eram completamente dependentes de energia importada, sobretudo do Oriente Médio. Essa situação mudou a partir de 2007, quando uma combinação de fracking e perfuração horizontal gerou acentuado crescimento na produção de petróleo e gás natural nos EUA, ajudando os EUA em 2013 a assumir a posição de maior produtor de petróleo e gás do mundo, superando a Rússia e gerando a esperança de que o país supere a Arábia Saudita como principal produtor de petróleo cru, já em 2015. Esse progresso na “revolução da energia na América do Norte” tornou os EUA relativamente independentes em energia e, por sua vez, estimulou a produção petroquímica, gerou 2 milhões de empregos na indústria do gás de xisto, alegadamente teria reduzido as emissões de dióxido de carbono e, mais importante, transformou a política exterior dos EUA.
Tudo começou com Hillary Clinton que, quando comandou o Departamento de Estado, trabalhou em íntima associação com empresas de energia para espalhar pelo mundo o fracking – vendido como solução eficaz na luta contra a mudança climática e meio para fornecer energia, mas também para enfraquecer adversários poderosos, que desafiavam os EUA no mercado global de energia, como Rússia, China, Síria e Irã; e para beneficiar empresas norte-americanas, as quais, com a ajuda de funcionários do governo dos EUA, conseguiriam altas concessões para extrair gás de xisto por todo o mundo.
No início de 2009, quando Clinton assumiu como Secretaria de Estado, deu instruções ao advogado David Goldwyn para que “elevasse a diplomacia da energia à posição de função chave da política exterior dos EUA”. Em 2010, Goldwyn apareceu com a Iniciativa Global para o Gás de Xisto, que visava a “ajudar outras nações a desenvolverem seu potencial de xisto”, de um modo que seria ‘o mais ambientalmente amigável possível’. Mas, quando a Iniciativa foi lançada, os grupos ambientalistas mal foram ‘avisados’, e foi a Associação de Energia dos EUA, organização empresarial que representa Chevron, Exxon Mobil e Conoco-Phillips, que ficaram no papel de protagonista.
No início de 2011, o Departamento de Estado decidiu criar um novo gabinete, para integrar a energia em todos os aspectos da política exterior, ideia pesadamente inspirada pelo livro, de autoria de um executivo da Chevron, Jan Kalicki, Energy and Security: Toward a New Foreign Policy Strategy. O novo Gabinete de Recursos de Energia, com 63 empregados e orçamento de vários milhões de dólares (dinheiro, claro, que saiu do bolso dos contribuintes norte-americanos) começou a trabalhar no final de 2011. Uma das estratégias para as embaixadas foi “buscar maior alcance junto a firmas de energia do setor privado (algumas das quais haviam sido doadoras de muito dinheiro para as campanhas políticas de Hillary Clinton e de Obama, por ex., a Chevron). Desse ponto em diante, o governo dos EUA e as gigantes do petróleo trabalharam juntas, como se fossem uma só empresa multinacional perseguindo o mesmo plano de negócios.
A Europa foi um dos principais alvos desse plano de negócio/política exterior dos EUA focado na energia, e Clinton visitou pessoalmente vários países (a Bulgária, p. ex.) para promover a indústria do fracking. Lobbyistas fizeram circular um relatório segundo o qual a União Europeia poderia economizar 900 bilhões de euros se investisse em gás, em vez de investir em energia renovável para cumprir suas metas para o clima até 2050. Simultaneamente, o gás de xisto era anunciado como combustível de eleição, por reduzir as emissões de carbono. Ambientalistas contra-argumentaram, dizendo que o fracking teria pouco efeito para conter o aquecimento global, uma vez que poços e dutos deixariam vazar grandes quantidades de metano, potente gás gerador do efeito estufa. Também havia quem se preocupasse porque os investimentos em fracking reduziriam o investimento em fontes de energia renovável. Ao mesmo tempo cresciam as provas de que o fracking estava associado à contaminação da água subterrânea e a terremotos.
Apesar dessas contracorrentes, 2012 foi ano de muita agitação no Departamento de Estado, que promoveu conferências para promover o fracking da Tailândia a Botswana, com diplomatas e funcionários do governo ajudando as gigantes norte-americanas do petróleo a espalhar sondas e vazamentos de gás de xisto por todo o planeta. Coube à Chevron a maior fatia das concessões para exploração de gás de xisto na Argentina, Austrália, Canadá, China e África do Sul, bem como na Europa Oriental, especialmente na Polônia, que concedeu mais de 100 lotes para extração de gás de xisto, que cobriam 1/3 do próprio território.
Concessões p/ "fracking" na Europa
Mas o plano de negócios/política externa dos EUA não avançou como o esperado: novas pesquisas do Centro Geológico dos EUA sugeriram que as avaliações da Agência de Energia haviam superestimado muitíssimo (99%) os depósitos de gás de xisto na Polônia, e estudos de uma indústria estimava que perfurar gás de xisto na Polônia custaria três vezes mais caro que nos EUA. E também surgiram controvérsias novas sobre direitos de propriedade e exploração do subsolo na Europa Oriental.
Ante todos esses obstáculos, o Departamento de Estado dos EUA a as empresas-monstro do petróleo puseram em campo, numa blitz de lobbying por toda a União Europeia: políticos receberam estudos e pesquisas pagos pela indústria, criaram-se ONGs de fachada, os funcionários dos centros de regulação e controle comeram incontáveis jantares e beberam incontáveis garrafas de vinho em incontáveis conferências e “eventos” os mais extravagantes. Tudo, sempre, acompanhado do alerta de que o fracasso no desenvolvimento do gás de xisto teria “consequências danosas para a segurança energética e a prosperidade da Europa”.
Num dado momento desse frenesi-bonanza de lobbying europeu, o escritório Covington & Burling, grande escritório de advogados de Washington, contratou vários ex-políticos da União Europeia – incluindo um alto funcionário do setor de energia que, segundo o New York Times, chegou com uma versão ainda não divulgada das regulações da Comissão Europeia para o fracking. Não apenas vários escritórios de advocacia nos EUA estavam promovendo a corrupção, pagando gordos cheques a políticos europeus, inclusive a altos oficiais dos três principais corpos – a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu – mas, também faziam todo o possível para manter suas práticas delobbying envoltas na mais impenetrável sombra, sempre recorrendo a cláusulas de confidencialidade para escapar de qualquer investigação que por acaso se empreendesse. Essa falta de transparência deixou muitos dos resultados daquela operação de lobbying bem distantes de qualquer exame ou discussão pela opinião pública, comprometeu seriamente a própria democracia europeia, mas trouxe gordos lucros a vários clientes multinacionais.
Entre janeiro e outubro de 2012, Goldwyn, da Iniciativa Global para o Gás de Xisto dos EUA, organizou workshops de divulgação do fracking pagos pela Chevron na Bulgária, Lituânia, Polônia, Romênia e Ucrânia. Todos esses países, exceto a Bulgária, onde cresceram os protestos anti-fracking, premiariam a Chevron com grandes concessões para extração de gás de xisto. Na Romênia, o Departamento de Estado dos EUA envolveu-se diretamente nas negociações – com o embaixador dos EUA conduzindo negociações entre funcionários da Chevron “interessados e preocupados” e o governo romeno, que resultaram num negócio de 30 anos para a Chevron.
Quando a Chevron começou a instalar sua primeira bomba de extração na Romênia, moradores da região bloquearam completamente o acesso aos pontos de perfuração. Imediatamente surgiram protestos anti-fracking por toda a Europa, da Polônia ao Reino Unido, mas a Chevron não recuou; com outras empresas norte-americanas de energia, organizou uma grande ação de lobbying para “inserir termos, numa proposta de acordo comercial entre EUA e UE, conhecido como “Parceria Trans-Atlântica para Comércio e Investimentos” [orig. TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership)], para permitir que empresas norte-americanas processem governos europeus, em painéis internacionais de arbitragem, no caso de qualquer ação que ameace investimentos daquelas empresas, com vistas a proteger seus acionistas contra tratamento “arbitrário” e “injusto” por autoridades locais”.
Apesar dos protestos populares na Europa, o Departamento de Estado dos EUA, trabalhando com as multinacionais de energia, como se “fossem ramos de uma mesma grande empresa”, manteve o seu curso, com vistas a tornar a Europa mais dependente da plataforma de energia dos EUA. Um dos principais obstáculo a essa meta era – como ainda é – a Rússia, que fornece 30% do gás natural que a Europa consome. A campanha pela imprensa-empresa, comandada pelos EUA, de demonização da Rússia, tem a ver com essa revolução do frackingque os EUA querem fazer na Europa; demonizam a Rússia, para levar os europeus a rejeitar o gás russo!
Infelizmente, a Ucrânia foi apanhada no centro dessa batalha, porque depende quase integralmente do gás russo, e é um dos principais países de trânsito do gás na Europa. Um relatório interno, intitulado “Texto de circunstância 291: a política energética ucraniana e a política estratégica dos EUA na Eurásia” diz o seguinte sobre o “problema”:
12 anos depois da independência, a Ucrânia parece incapaz de achar meio de romper sua dependência energética da Rússia, ou de administrá-la com eficácia. A atual situação energética da Ucrânia e seu encaminhamento têm também graves e importantes implicações negativas para a estratégia dos EUA na região (...). A falta de estratégia para a política energética da Ucrânia complica a estratégia dos EUA de apoiar várias rotas de gasodutos no eixo leste-oeste como modo de promover um sistema mais pluralista na região, como alternativa contra a continuada hegemonia dos russos. (Ah! Se os discursos de Obama fossem, pelo menos, tão honestos como esse parágrafo!).
Quase todo o gás que vai da Rússia
para a Europa passa pela Ucrânia
(clique no "link" para aumentar)
Dia 5/11/2013, parecia que a independência da Ucrânia, que se livraria do gás russo, era assunto resolvido – Ucrânia e Chevron afinal firmaram acordo de concessão por 50 anos, depois de um primeiro acordo, de janeiro de 2013, com a Royal Dutch Shell. O presidente da Ucrânia, Yanukovich, parecia otimista quanto a essas parcerias, e disse, por sua página na Internet, que elas “permitirão que a Ucrânia satisfaça completamente sua demanda de gás e, num cenário otimista, comece a exportar recursos energéticos já em 2020”.
Rolhas e rolhas de garrafas de champanhe devem ter pipocado nesse dia, porque já fazia vários anos que os EUA tentavam afastar a Ucrânia do gás russo. Já em 2004, o governo Bush gastara $65 milhões “para ajudar organizações políticas na Ucrânia, pagando para que o líder da oposição Viktor Yushchenko se reunisse com líderes dos EUA, e ajudando a produzir pesquisas que indicavam que ele vencera as eleições do mês anterior, num disputado segundo turno”.
Durante a presidência de Yushchenko (2005-2010), Ucrânia e Rússia tiveram vários “confrontos de gás”, um dos quais, em 2009, deixara nada menos que 18 países europeus sem receber gás russo. Como resposta, a Gazprom, a estatal russa de energia, propôs a construção de um novo gasoduto, ao custo de US$ 21,6 bilhões, chamado Ramo Sul, como solução para contornar a Ucrânia e garantir fluxo ininterrupto de gás para a Europa. A Itália e sete outros países europeus uniram-se no mesmo negócio.
Gasodutos russos que atendem
países da Europa Oriental
Dado que o projeto só estaria concluído em 2018, os EUA ainda tinham tempo para desafiar a Rússia, no cenário do mercado de energia europeu; e o negócio da Chevron com a Ucrânia foi uma tentativa para conseguir exatamente isso. Como é praxe, os EUA suplementaram o plano de negócios com poderosa campanha de propaganda e Relações Públicas. Alguns meses antes de fechar o negócio Chevron-Ucrânia, as embaixadas dos EUA (Chevron) e da Holanda (Shell), com a Fundação International Renaissance de George Soros “anunciaram'’ a criação de uma “ONG” – uma rede de televisão anti-Rússia e pró-Ocidente, chamada Hromadske TV, [1] a qual, e sempre, claro, por pura coincidência, foi lançada dia 22/11/2013, exatamente um dia depois de Yanukovich ter desistido de um acordo com a União Europeia, em favor de uma oferta que lhe fez Putin, de gás 30% mais barato, e um pacote de ajuda de US$ 15 bilhões.
Fluxo de Caixa da Hromsdske TV
(clique na imagem para aumentar)
Foi essa Hromadske TV, patrocinada por EUA/Holanda/Soros, que se converteu em principal veículo de estimulação e insuflamento por trás dos protestos da Praça Maidan, iniciados pelo editor-chefe daquela rede de TV, Mustafa Nayem, que usou a página de Facebook para convocar os ucranianos para que se reunissem na Praça da Independência (Maidan) em Kiev, para protestar contra a decisão de Yanukovich. A narrativa difundida pela Hromadske TV, pela televisão ucraniana que pertence a membros da oposição e pela imprensa-empresa ocidental foi que aqueles protestos teriam sido “movimento popular, acionados pelo desejo dos cidadãos ucranianos que anseiam por melhor governo e laços mais próximos com a União Europeia”. Estranhamente, raros foram os jornalistas ocidentais que se preocuparam com o fato de o homem que convocava gente para a Praça Maidan ser pago pelas embaixadas dos EUA e da Holanda, e por George Soros.
Enquanto publicamente os funcionários do governo dos EUA falavam do “direito do povo ucraniano à autodeterminação, liberdade e democracia”, por trás do palco estavam “nomeando” presidentes, eles mesmos, sem considerar qualquer interesse dos ucranianos, mas exclusivamente interesses dos EUA. Exemplo disso é uma conversa privada, que vazou, em que a Secretária de Estado Assistente dos EUA, Victoria Nuland, disse ao embaixador dos EUA em Kiev, Geoffrey Pyatt: “Não acho que “Klitsch” [líder da oposição] deva ir para o governo (Klitshchko não foi; em vez disso, concorreu às eleições para a prefeitura de Kiev e foi eleito). Acho que o homem é “Yats”, que tem experiência econômica, experiência de governo”. (Yatsenyuk foi nomeado primeiro-ministro interino. Também totalmente por acaso, a fundação dele, “Open Ukraine” é mantida por uma lista de patrocinadores odiadores-de-russos, incluído o Centro de Documentação e Informação da OTAN e o Departamento de Estado dos EUA).
Na mesma conversa, Nuland, que é casada com Robert Kagan, figura de destaque da política externa dos neoconservadores, que muito trabalhou a favor da guerra ao Iraque, ofereceu uma perfeita definição do papel da ONU nesse mundo: “Ele [Jeff Feltman, sub-secretário-geral da ONU para assuntos políticos] já deu jeito para que os dois [funcionário da ONU Robert] Serry e [secretário-geral da ONU] Ban Ki-moon concordem que Serry deve ir na 2ª ou na 3ª-feira. Isso assim fica ótimo, eu acho, ajudar a colar a coisa toda, e ter a ONU para ajudar a colar tudo. E, você sabe, foda-se a União Europeia”.
Acho que a ONU deve alterar a frase que se vê no website, de “Bem-vindo à ONU. Esse é o seu mundo”, para “Bem-vindo à ONU. Esse é o mundo dos EUA e estamos aqui para colar a coisa toda”.
“Foda-se a União Europeia” é resumo perfeito das relações entre EUA e UE nos anos recentes. E poria um toque de veracidade e sinceridade, se acrescentado como post-scriptumao discurso de Obama da Assembleia Geral da ONU.
[Continua]
Nota dos Tradutores
[1] Na página dessa rede ucraniana, há uma lista de países classificados por número de canais de televisão que lá operam. Interessante a experiência de clicar no item “Brasil”. George Soros sabe da existência de canais de televisão no Brasil dos quais o pessoal aki em kasa nunca nem ouviu falar!
_____________________
[*] Vera Graziadei é atriz, escritora e investigadora política anglo-russo ucraniana. Antes de ser atriz, obteve licenciatura em Filosofia e Economia e Mestrado em Filosofia e Políticas Públicas (Tese: Capital Social e Crítica do Relatório de Desenvolvimento do Banco Mundial) pela London School of Economics. Continuou estudando Filosofia, enquanto trabalhava como atriz, com foco no Existencialismo; completou o bacharelado em Psicoterapia e Psicanálise. Seus outros interesses são Comédia e Literatura (especialmente os Clássicos russos).
POSTADO POR CASTOR FILHO
Agora só falta, então, reeleger Dilma e despachar esse Aécim “Yats”, de volta prá Minas.
Depois não digam que não sabiam! Está escrito aí, porque Obama foi lá na ONU e disse com todas as letras. Assista aí no vídeo:
“(...) os Estados Unidos da América não se deixarão distrair ou desviar do que tem de ser feito. (…) Estamos preparados para fazer o que for necessário”.
É realmente pena que não deixem entrar crianças nas reuniões da ONU. Sem elas lá, não havia ninguém que, durante o discurso de Obama à Assembleia Geral, gritasse: “O rei está nu!” Porque até nas intenções o discurso de Obama foi pensado para ser visto como vestimenta finamente tecida para tornar críveis os motivos utópicos de cavaleiros andantes dos EUA, vestidos nas armaduras rutilantes da ONU e lutando por progresso humano, democracia, paz e prosperidade pelo planeta. Mas havia tantos furos naquela falso pano inventado por “especialistas” midiáticos, que era impossível não ver a feia carne nua das verdadeiras agendas da política exterior dos EUA.
Todos os presentes, e a mídia dominante, mantiveram a mentira, ignorando deliberadamente as falhas e os furos, e sempre elogiando a beleza e delicado equilíbrio do tecido e da tessitura (The Guardian: “Obama visou a um delicado equilíbrio na Assembleia Geral da ONU”), e sempre destacando a qualidade do padrão de haute-couture na justificação de mais guerras (BBC: A frase que perdurará é “a rede da morte”); e tudo rapidamente será repetido e repetido, nas narrativas dos jornais e redes de notícias.
Convenientemente, a maioria dos jornalistas da rede MSM escolheu não ver as inversões irônicas na trama do tecido urdido pelos conselheiros de Obama: “Centenas de milhões de seres humanos foram libertados da prisão da pobreza” (sim, exceto 67% das famílias de Detroit e 46,5 milhões de pessoas em todos os EUA); “digo sempre aos jovens dos EUA que esse é o melhor tempo, de toda a história, para estar vivo (a taxa de mortalidade infantil nos EUA é a 4ª mais alta, dentre as 29 nações mais desenvolvidas do mundo), porque há a maior probabilidade para todos de serem alfabetizados (há 32 milhões de adultos analfabetos nos EUA, 14% da população), terem boa saúde (os EUA têm o sistema de assistência à saúde mais caro e menos efetivo, na comparação com 10 outras nações ocidentais e altamente industrializadas), e serem livres para perseguir seus sonhos (é o Conto da Mobilidade Social nos EUA)”.
“Chegamos juntos à encruzilhada entre guerra e paz; entre desordem e integração; entre medo e esperança” – disse o Prêmio Nobel da Paz de 2009, o mesmo que na véspera começara a bombardear o sétimo país (!) predominantemente muçulmano de seu currículo de bombas, depois de Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Somália, Líbia e Iraque. Horas antes de os EUA começarem a bombardear território sírio com ataques aéreos e mísseis, um alto funcionário do governo Obama dissera ao Guardian que “nenhum dos dois grupos tomados como alvos nos ataques da noite de 2ª-feira – o grupo militante Estado Islâmico ou o grupo coligado da Al-Qaeda, Corassão – significam ameaça iminente aos EUA”. Na verdade o Grupo Corassão, é grupo terrorista completamente inventado, só para justificar o bombardeamento contra a Síria.
Com Obama convocando o mundo para a via da guerra (que ele àquela altura já trilhava), ninguém lá se levantou para perguntar que possível autoridade legal ele teria para bombardear território sírio. Nos dias seguintes, os veículos da imprensa-empresa dominante, os quais em meses anteriores tanto falavam a favor de defender a soberania dos estados, sobretudo do estado ucraniano contra alegadas agressões russas, permaneceram impenetravelmente mudos a respeito de não haver nenhum tipo de autorização, nem da ONU nem do Congresso dos EUA, para a guerra de Obama na Síria, e servilmente repetiram toda a propaganda pró-guerra que o governo Obama distribuía. (Nota: Distribuir propaganda de guerra é crime de guerra, nos termos dos Princípios fixados pelo Tribunal de Nuremberg: é Crime contra a Paz. Ao divulgar a política externa dos EUA, a rede MSM torna-se cúmplice de crimes de guerra).
Deixando de lado a tragédia do conflito no Oriente Médio, e focando-se a seguir na Europa, o Imperador mostrou ainda mais claramente que seus trajes supostos humanitários eram só buracos – mentiras, hipocrisia, duplifalar. Só os mais caninamente fiéis defensores do Império, ou idiotas úteis da corte de Obama, poderiam ainda tentar manter a ficção de que aquela carne feia, podre, visível, das políticas exteriores dos EUA não aparecia ali, ante os olhos de todos. Presumivelmente, porque a maioria dos britânicos e europeus ainda creem que o progresso e a prosperidade deles depende(ria) de os EUA dominarem o planeta, o discurso de Obama encontrou eco nas crenças e nos valores deles, embora fosse discurso falso, do início ao fim. Porque, se se consideram os fatos do que os EUA têm feito na Grã-Bretanha e na Europa em anos recentes, é mais que claro que nenhuma agressão real jamais partiu da Rússia, mas do outro lado do Atlântico – semeando práticas antidemocráticas e corruptas na política europeia, pondo em risco o meio ambiente, minando direitos e poderes dos cidadãos e até encorajando o confronto com derramamento de sangue (como os EUA fizeram na Ucrânia).
Só as multinacionais e os políticos mais corruptos beneficiam-se das práticas que os EUA disseminam pelo mundo, as e os mesmos que trabalham juntos, em aliança, para manter a atual ordem corrupta do mundo, que tanto as/os beneficia, mas que já começa a ser ameaçada.
Segundo a revista Foreign Policy, “A liderança norte-americana no mundo está em perigo”: vê-se muito mais crescimento econômico no mundo em desenvolvimento (vide gráfico abaixo); os países em desenvolvimento começam a investir mais na autoproteção militar (o que reduz o poder relativo dos EUA); e a dívida interna dos EUA já chega a US$13 trilhões, 75% do PIB. Esse último é o maior dos problemas que os EUA enfrentam no momento: “entre aliados, adversários e estados indecisos, a política fiscal dos EUA já põe cada dia mais em questão a capacidade dos EUA para liderarem globalmente”.
Gráfico: “PIBs dos países do G-7 e E-7”
Foreign Policy listou medidas que os EUA teriam de tomar para manter-se na liderança global (...), como [dentre outras] atrair cérebros de todo o mundo, e capitalizar o boom de energia pelo qual passam os EUA.
Há menos de uma década, os EUA eram completamente dependentes de energia importada, sobretudo do Oriente Médio. Essa situação mudou a partir de 2007, quando uma combinação de fracking e perfuração horizontal gerou acentuado crescimento na produção de petróleo e gás natural nos EUA, ajudando os EUA em 2013 a assumir a posição de maior produtor de petróleo e gás do mundo, superando a Rússia e gerando a esperança de que o país supere a Arábia Saudita como principal produtor de petróleo cru, já em 2015. Esse progresso na “revolução da energia na América do Norte” tornou os EUA relativamente independentes em energia e, por sua vez, estimulou a produção petroquímica, gerou 2 milhões de empregos na indústria do gás de xisto, alegadamente teria reduzido as emissões de dióxido de carbono e, mais importante, transformou a política exterior dos EUA.
Tudo começou com Hillary Clinton que, quando comandou o Departamento de Estado, trabalhou em íntima associação com empresas de energia para espalhar pelo mundo o fracking – vendido como solução eficaz na luta contra a mudança climática e meio para fornecer energia, mas também para enfraquecer adversários poderosos, que desafiavam os EUA no mercado global de energia, como Rússia, China, Síria e Irã; e para beneficiar empresas norte-americanas, as quais, com a ajuda de funcionários do governo dos EUA, conseguiriam altas concessões para extrair gás de xisto por todo o mundo.
No início de 2009, quando Clinton assumiu como Secretaria de Estado, deu instruções ao advogado David Goldwyn para que “elevasse a diplomacia da energia à posição de função chave da política exterior dos EUA”. Em 2010, Goldwyn apareceu com a Iniciativa Global para o Gás de Xisto, que visava a “ajudar outras nações a desenvolverem seu potencial de xisto”, de um modo que seria ‘o mais ambientalmente amigável possível’. Mas, quando a Iniciativa foi lançada, os grupos ambientalistas mal foram ‘avisados’, e foi a Associação de Energia dos EUA, organização empresarial que representa Chevron, Exxon Mobil e Conoco-Phillips, que ficaram no papel de protagonista.
No início de 2011, o Departamento de Estado decidiu criar um novo gabinete, para integrar a energia em todos os aspectos da política exterior, ideia pesadamente inspirada pelo livro, de autoria de um executivo da Chevron, Jan Kalicki, Energy and Security: Toward a New Foreign Policy Strategy. O novo Gabinete de Recursos de Energia, com 63 empregados e orçamento de vários milhões de dólares (dinheiro, claro, que saiu do bolso dos contribuintes norte-americanos) começou a trabalhar no final de 2011. Uma das estratégias para as embaixadas foi “buscar maior alcance junto a firmas de energia do setor privado (algumas das quais haviam sido doadoras de muito dinheiro para as campanhas políticas de Hillary Clinton e de Obama, por ex., a Chevron). Desse ponto em diante, o governo dos EUA e as gigantes do petróleo trabalharam juntas, como se fossem uma só empresa multinacional perseguindo o mesmo plano de negócios.
A Europa foi um dos principais alvos desse plano de negócio/política exterior dos EUA focado na energia, e Clinton visitou pessoalmente vários países (a Bulgária, p. ex.) para promover a indústria do fracking. Lobbyistas fizeram circular um relatório segundo o qual a União Europeia poderia economizar 900 bilhões de euros se investisse em gás, em vez de investir em energia renovável para cumprir suas metas para o clima até 2050. Simultaneamente, o gás de xisto era anunciado como combustível de eleição, por reduzir as emissões de carbono. Ambientalistas contra-argumentaram, dizendo que o fracking teria pouco efeito para conter o aquecimento global, uma vez que poços e dutos deixariam vazar grandes quantidades de metano, potente gás gerador do efeito estufa. Também havia quem se preocupasse porque os investimentos em fracking reduziriam o investimento em fontes de energia renovável. Ao mesmo tempo cresciam as provas de que o fracking estava associado à contaminação da água subterrânea e a terremotos.
Apesar dessas contracorrentes, 2012 foi ano de muita agitação no Departamento de Estado, que promoveu conferências para promover o fracking da Tailândia a Botswana, com diplomatas e funcionários do governo ajudando as gigantes norte-americanas do petróleo a espalhar sondas e vazamentos de gás de xisto por todo o planeta. Coube à Chevron a maior fatia das concessões para exploração de gás de xisto na Argentina, Austrália, Canadá, China e África do Sul, bem como na Europa Oriental, especialmente na Polônia, que concedeu mais de 100 lotes para extração de gás de xisto, que cobriam 1/3 do próprio território.
Concessões p/ "fracking" na Europa
Mas o plano de negócios/política externa dos EUA não avançou como o esperado: novas pesquisas do Centro Geológico dos EUA sugeriram que as avaliações da Agência de Energia haviam superestimado muitíssimo (99%) os depósitos de gás de xisto na Polônia, e estudos de uma indústria estimava que perfurar gás de xisto na Polônia custaria três vezes mais caro que nos EUA. E também surgiram controvérsias novas sobre direitos de propriedade e exploração do subsolo na Europa Oriental.
Ante todos esses obstáculos, o Departamento de Estado dos EUA a as empresas-monstro do petróleo puseram em campo, numa blitz de lobbying por toda a União Europeia: políticos receberam estudos e pesquisas pagos pela indústria, criaram-se ONGs de fachada, os funcionários dos centros de regulação e controle comeram incontáveis jantares e beberam incontáveis garrafas de vinho em incontáveis conferências e “eventos” os mais extravagantes. Tudo, sempre, acompanhado do alerta de que o fracasso no desenvolvimento do gás de xisto teria “consequências danosas para a segurança energética e a prosperidade da Europa”.
Num dado momento desse frenesi-bonanza de lobbying europeu, o escritório Covington & Burling, grande escritório de advogados de Washington, contratou vários ex-políticos da União Europeia – incluindo um alto funcionário do setor de energia que, segundo o New York Times, chegou com uma versão ainda não divulgada das regulações da Comissão Europeia para o fracking. Não apenas vários escritórios de advocacia nos EUA estavam promovendo a corrupção, pagando gordos cheques a políticos europeus, inclusive a altos oficiais dos três principais corpos – a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu – mas, também faziam todo o possível para manter suas práticas delobbying envoltas na mais impenetrável sombra, sempre recorrendo a cláusulas de confidencialidade para escapar de qualquer investigação que por acaso se empreendesse. Essa falta de transparência deixou muitos dos resultados daquela operação de lobbying bem distantes de qualquer exame ou discussão pela opinião pública, comprometeu seriamente a própria democracia europeia, mas trouxe gordos lucros a vários clientes multinacionais.
Entre janeiro e outubro de 2012, Goldwyn, da Iniciativa Global para o Gás de Xisto dos EUA, organizou workshops de divulgação do fracking pagos pela Chevron na Bulgária, Lituânia, Polônia, Romênia e Ucrânia. Todos esses países, exceto a Bulgária, onde cresceram os protestos anti-fracking, premiariam a Chevron com grandes concessões para extração de gás de xisto. Na Romênia, o Departamento de Estado dos EUA envolveu-se diretamente nas negociações – com o embaixador dos EUA conduzindo negociações entre funcionários da Chevron “interessados e preocupados” e o governo romeno, que resultaram num negócio de 30 anos para a Chevron.
Quando a Chevron começou a instalar sua primeira bomba de extração na Romênia, moradores da região bloquearam completamente o acesso aos pontos de perfuração. Imediatamente surgiram protestos anti-fracking por toda a Europa, da Polônia ao Reino Unido, mas a Chevron não recuou; com outras empresas norte-americanas de energia, organizou uma grande ação de lobbying para “inserir termos, numa proposta de acordo comercial entre EUA e UE, conhecido como “Parceria Trans-Atlântica para Comércio e Investimentos” [orig. TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership)], para permitir que empresas norte-americanas processem governos europeus, em painéis internacionais de arbitragem, no caso de qualquer ação que ameace investimentos daquelas empresas, com vistas a proteger seus acionistas contra tratamento “arbitrário” e “injusto” por autoridades locais”.
Apesar dos protestos populares na Europa, o Departamento de Estado dos EUA, trabalhando com as multinacionais de energia, como se “fossem ramos de uma mesma grande empresa”, manteve o seu curso, com vistas a tornar a Europa mais dependente da plataforma de energia dos EUA. Um dos principais obstáculo a essa meta era – como ainda é – a Rússia, que fornece 30% do gás natural que a Europa consome. A campanha pela imprensa-empresa, comandada pelos EUA, de demonização da Rússia, tem a ver com essa revolução do frackingque os EUA querem fazer na Europa; demonizam a Rússia, para levar os europeus a rejeitar o gás russo!
Infelizmente, a Ucrânia foi apanhada no centro dessa batalha, porque depende quase integralmente do gás russo, e é um dos principais países de trânsito do gás na Europa. Um relatório interno, intitulado “Texto de circunstância 291: a política energética ucraniana e a política estratégica dos EUA na Eurásia” diz o seguinte sobre o “problema”:
12 anos depois da independência, a Ucrânia parece incapaz de achar meio de romper sua dependência energética da Rússia, ou de administrá-la com eficácia. A atual situação energética da Ucrânia e seu encaminhamento têm também graves e importantes implicações negativas para a estratégia dos EUA na região (...). A falta de estratégia para a política energética da Ucrânia complica a estratégia dos EUA de apoiar várias rotas de gasodutos no eixo leste-oeste como modo de promover um sistema mais pluralista na região, como alternativa contra a continuada hegemonia dos russos. (Ah! Se os discursos de Obama fossem, pelo menos, tão honestos como esse parágrafo!).
Quase todo o gás que vai da Rússia
para a Europa passa pela Ucrânia
(clique no "link" para aumentar)
Dia 5/11/2013, parecia que a independência da Ucrânia, que se livraria do gás russo, era assunto resolvido – Ucrânia e Chevron afinal firmaram acordo de concessão por 50 anos, depois de um primeiro acordo, de janeiro de 2013, com a Royal Dutch Shell. O presidente da Ucrânia, Yanukovich, parecia otimista quanto a essas parcerias, e disse, por sua página na Internet, que elas “permitirão que a Ucrânia satisfaça completamente sua demanda de gás e, num cenário otimista, comece a exportar recursos energéticos já em 2020”.
Rolhas e rolhas de garrafas de champanhe devem ter pipocado nesse dia, porque já fazia vários anos que os EUA tentavam afastar a Ucrânia do gás russo. Já em 2004, o governo Bush gastara $65 milhões “para ajudar organizações políticas na Ucrânia, pagando para que o líder da oposição Viktor Yushchenko se reunisse com líderes dos EUA, e ajudando a produzir pesquisas que indicavam que ele vencera as eleições do mês anterior, num disputado segundo turno”.
Durante a presidência de Yushchenko (2005-2010), Ucrânia e Rússia tiveram vários “confrontos de gás”, um dos quais, em 2009, deixara nada menos que 18 países europeus sem receber gás russo. Como resposta, a Gazprom, a estatal russa de energia, propôs a construção de um novo gasoduto, ao custo de US$ 21,6 bilhões, chamado Ramo Sul, como solução para contornar a Ucrânia e garantir fluxo ininterrupto de gás para a Europa. A Itália e sete outros países europeus uniram-se no mesmo negócio.
Gasodutos russos que atendem
países da Europa Oriental
Dado que o projeto só estaria concluído em 2018, os EUA ainda tinham tempo para desafiar a Rússia, no cenário do mercado de energia europeu; e o negócio da Chevron com a Ucrânia foi uma tentativa para conseguir exatamente isso. Como é praxe, os EUA suplementaram o plano de negócios com poderosa campanha de propaganda e Relações Públicas. Alguns meses antes de fechar o negócio Chevron-Ucrânia, as embaixadas dos EUA (Chevron) e da Holanda (Shell), com a Fundação International Renaissance de George Soros “anunciaram'’ a criação de uma “ONG” – uma rede de televisão anti-Rússia e pró-Ocidente, chamada Hromadske TV, [1] a qual, e sempre, claro, por pura coincidência, foi lançada dia 22/11/2013, exatamente um dia depois de Yanukovich ter desistido de um acordo com a União Europeia, em favor de uma oferta que lhe fez Putin, de gás 30% mais barato, e um pacote de ajuda de US$ 15 bilhões.
Fluxo de Caixa da Hromsdske TV
(clique na imagem para aumentar)
Foi essa Hromadske TV, patrocinada por EUA/Holanda/Soros, que se converteu em principal veículo de estimulação e insuflamento por trás dos protestos da Praça Maidan, iniciados pelo editor-chefe daquela rede de TV, Mustafa Nayem, que usou a página de Facebook para convocar os ucranianos para que se reunissem na Praça da Independência (Maidan) em Kiev, para protestar contra a decisão de Yanukovich. A narrativa difundida pela Hromadske TV, pela televisão ucraniana que pertence a membros da oposição e pela imprensa-empresa ocidental foi que aqueles protestos teriam sido “movimento popular, acionados pelo desejo dos cidadãos ucranianos que anseiam por melhor governo e laços mais próximos com a União Europeia”. Estranhamente, raros foram os jornalistas ocidentais que se preocuparam com o fato de o homem que convocava gente para a Praça Maidan ser pago pelas embaixadas dos EUA e da Holanda, e por George Soros.
Enquanto publicamente os funcionários do governo dos EUA falavam do “direito do povo ucraniano à autodeterminação, liberdade e democracia”, por trás do palco estavam “nomeando” presidentes, eles mesmos, sem considerar qualquer interesse dos ucranianos, mas exclusivamente interesses dos EUA. Exemplo disso é uma conversa privada, que vazou, em que a Secretária de Estado Assistente dos EUA, Victoria Nuland, disse ao embaixador dos EUA em Kiev, Geoffrey Pyatt: “Não acho que “Klitsch” [líder da oposição] deva ir para o governo (Klitshchko não foi; em vez disso, concorreu às eleições para a prefeitura de Kiev e foi eleito). Acho que o homem é “Yats”, que tem experiência econômica, experiência de governo”. (Yatsenyuk foi nomeado primeiro-ministro interino. Também totalmente por acaso, a fundação dele, “Open Ukraine” é mantida por uma lista de patrocinadores odiadores-de-russos, incluído o Centro de Documentação e Informação da OTAN e o Departamento de Estado dos EUA).
Na mesma conversa, Nuland, que é casada com Robert Kagan, figura de destaque da política externa dos neoconservadores, que muito trabalhou a favor da guerra ao Iraque, ofereceu uma perfeita definição do papel da ONU nesse mundo: “Ele [Jeff Feltman, sub-secretário-geral da ONU para assuntos políticos] já deu jeito para que os dois [funcionário da ONU Robert] Serry e [secretário-geral da ONU] Ban Ki-moon concordem que Serry deve ir na 2ª ou na 3ª-feira. Isso assim fica ótimo, eu acho, ajudar a colar a coisa toda, e ter a ONU para ajudar a colar tudo. E, você sabe, foda-se a União Europeia”.
Acho que a ONU deve alterar a frase que se vê no website, de “Bem-vindo à ONU. Esse é o seu mundo”, para “Bem-vindo à ONU. Esse é o mundo dos EUA e estamos aqui para colar a coisa toda”.
“Foda-se a União Europeia” é resumo perfeito das relações entre EUA e UE nos anos recentes. E poria um toque de veracidade e sinceridade, se acrescentado como post-scriptumao discurso de Obama da Assembleia Geral da ONU.
[Continua]
Nota dos Tradutores
[1] Na página dessa rede ucraniana, há uma lista de países classificados por número de canais de televisão que lá operam. Interessante a experiência de clicar no item “Brasil”. George Soros sabe da existência de canais de televisão no Brasil dos quais o pessoal aki em kasa nunca nem ouviu falar!
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[*] Vera Graziadei é atriz, escritora e investigadora política anglo-russo ucraniana. Antes de ser atriz, obteve licenciatura em Filosofia e Economia e Mestrado em Filosofia e Políticas Públicas (Tese: Capital Social e Crítica do Relatório de Desenvolvimento do Banco Mundial) pela London School of Economics. Continuou estudando Filosofia, enquanto trabalhava como atriz, com foco no Existencialismo; completou o bacharelado em Psicoterapia e Psicanálise. Seus outros interesses são Comédia e Literatura (especialmente os Clássicos russos).
POSTADO POR CASTOR FILHO
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/10/a-ucrania-e-o-brasil-amanha.html
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