terça-feira, 6 de janeiro de 2015

2014: Ano em que o capitalismo conduzido pelos EUA foi exposto como principal inimigo da paz 06/01/2015



3/1/2014, [*] Finian CUNNINGHAM, Strategic Culture
The Year US-led Capitalism Became Exposed as Root of Global Conflict
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu




Em vez de se mostrarem capazes de resgatar-se do lodaçal de problemas econômicos profundos e bem conhecidos associados ao declínio do capitalismo ocidental, as potências “ocidentais” do século passado tentam desesperadamente, resolver os próprios dilemas recriando velhos conflitos com a Rússia. A expansão da aliança EUA-OTAN contra o território russo é o corolário. A guerra parece ser, mais uma vez, o último refúgio dos canalhas.


(...) Em 2015, a batalha por verdade, justiça e paz será terrível... mas já é batalha que se pode vencer. O desafio está exposto, visível, em nível global de consciência e clareza. A causa-raiz das guerras e conflitos afinal emergiu, perfeitamente clara, ao longo do ano passado: o inimigo da paz é o capitalismo ocidental “conduzido” pelos EUA.





Bases Militares dos EUA pelo mundo
(clique no título para aumentar)

Historiadores provavelmente verão 2014 como ano de eventos-calamidades decisivos, ano em que ficou exposto o limite do poder dos EUA como entidade que se vai evanescendo e raiz contemporânea da guerra global.


São 100 anos da Iª Guerra Mundial, quando as Grandes Potências de então foram, do mesmo modo, expostas nos seus esforços para servir-se da guerra para adiar o descarte inevitável. No início do século XX, a Grã-Bretanha era o hegemon agonizante, acossado por rivalidades de uma Alemanha emergente e pela perda do próprio Império. Os EUA não passavam, então, de vigorosa nova potência, à qual a Grã-Bretanha foi felizmente capaz de amarrar-se, como potência agonizante. Cem anos depois, os EUA são o que então eram os britânicos, esperneando para manter a antiga glória como principal potência do mundo.


A Rússia reemergiu como nova potência no cenário global, ao lado da China e de outros países BRICS. 2014 foi o ano em que Rússia e China firmaram uma parceria comercial e estratégica para a administração da energia global que promete, por meios legais e legítimos, acertar golpe mortal ao decrépito dólar norte-americano como moeda mundial de reserva – o último engate ainda ativo, provavelmente − permitindo que Washington ainda se apresente como potência global, além do poderio militar já esgarçado pela exagerada expansão.


Parece que ninguém conseguirá deter o potencial natural para uma economia multipolar global, com Rússia e China liderando a marcha. A formação, também em 2014, de um novo banco de desenvolvimento dos BRICS e o surgimento de um polo eurasiano para comércio, energia e finanças é ameaça mortal ao “consenso de Washington”, que comandou a economia global nos últimos 43 anos, desde que o dólar substituiu o padrão ouro – movimento que foi apenas o primeiro sinal de que o poder dos EUA não voltaria a ser o que fora, tentativa para adiar o descarte. Hoje, o descarte do dólar dos EUA já parece inegável.



BRICS

Com o poder dos EUA em jogo, ante a iminência do fim do sistema do dólar, não surpreende que Washington mova-se sempre agressivamente para confrontar a emergente dinâmica multipolar que a Rússia, de modo especial, encarna.


Como antigamente, o Oriente Médio continua como um caldeirão no qual se manifestam as rivalidades entre as grandes potência. Para olho atento e bem informado, ali se revelam também os limites dos falsos poderes, de poderes apenas alardeados. 2014 deveria ter sido o ano quando se coroaria o grande feito da diplomacia dos EUA, quando, afinal, se acertariam as diferenças de décadas de guerra entre Israel e Palestina. O prazo final para que se firmasse um acordo de paz negociado pelo Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, veio e passou e foi esquecido. O tão dito e repetido derradeiro prazo, em abril, para impor a paz na região acabou “marcado” por mais um massacre de palestinos violentados pelos israelenses, e umablitzkrieg de Israel contra a Faixa de Gaza, que matou mais de 2 mil palestinos. E nos últimos dias do ano, Washington ainda bloqueava tentativas, na ONU, para restaurar direitos nacionais aos palestinos – movimento que, mais uma vez, expôs os EUA como negociador de fraudes, não de qualquer acordo de paz; e protetores perpétuos dos sionistas e da ocupação territorial ilegal de terras palestinas, por Israel.



Em outro ponto, no Oriente Médio, o legado dos norte-americanos imperialistas geradores de guerra voltou como morto-vivo para assombrar o mundo. A avançada de terroristas da chamada rede do Estado Islâmico no Iraque e na Síria (ISIS/ISIL) lá está, para que ninguém jamais esqueça como os EUA, com seus aliados na OTAN sempre plantaram sementes de morte e de destruição naquela região, com suas ações e políticas clandestinas, criminosas, golpistas, de “mudança de regime”. Aquelas políticas clandestinas foram como combustível para o crescimento do terrorismo na Síria e no Iraque, como na Líbia, primeiro como ferramentas de “mudança de regime” e, na sequência, com as tragédias dos revides, como se tem visto com cidadãos ocidentais vitimados em macabras execuções públicas por degola. Graças a veículos alternativos de mídia, os laços históricos que unem Washington e seus procuradores dentro da Al-Qaeda, que emergiram no Afeganistão e dali se espalharam para todo o Oriente Médio, são hoje mais bem conhecidos e compreendidos pelos públicos globais.



Terroristas do ISIS-ISIL, treinados e mantidos pelos EUA e aliados, degolam prisioneiros

Essas conexões apontam para a farsa perversa que une Washington, seus vassalos na OTAN e os mais brutais ditadores árabes, os mesmos que hoje atacam o Iraque e a Síria, sob o pretexto de que assim estariam “varrendo” o monstro do terrorismo. O monstro do terrorismo, aquele, o mesmo que essas mesmas potências ocidentais inventaram.


2014 foi o ano em que a “mudança-de-regime” orquestrada pelos EUA enlouqueceu completamente. Não satisfeitos com fazer do Oriente Médio o matadouro para suas experiências de “democracia”, EUA e seus aliados europeus ampliaram a ilegalidade e o crime até a Ucrânia.


O golpe organizado em fevereiro pela CIA para derrubar o governo eleito na Ucrânia implantou um regime fascista em Kiev, que abertamente propaga uma ideologia neonazista. A ex-secretária política da União Europeia, Catherine Ashton, deixou escapar exatamente essa avaliação numa conversa telefônica, sobre como a CIA articulou a matança de mais de 80 pessoas em Kiev, com atiradores profissionais atacando cidadãos que protestavam na Praça Maidan. Aquela conversa telefônica confirmou o que Victoria Nuland, alta funcionária do Departamento de Estado dos EUA também já dissera – que o golpe em Kiev foi golpe orquestrado pela CIA.



Yatseniuk e Poroshenko, membros da Junta de Kiev

O objetivo da operação de mudança de regime na Ucrânia, apoiada por EUA-EU, logo ficou visível, quando o fantoche Arseniy Yatsenyuk lá instalado pelos golpistas e Petro Poroshenko lançaram sua campanha de terror militar e massacre de russos nas regiões leste da Ucrânia – campanha de assassinatos que continua, apesar de ter sido declarado um cessar-fogo.


Com a Ucrânia já governada por golpistas neonazistas, os falantes de russo que vivem na Crimeia organizaram referendo histórico, pelo qual o povo da Crimeia solicitou a reintegração daquela região à Federação Russa. Movimentos de secessão similares estão em curso nas regiões de Donetsk e Lugansk, nas áreas leste do Donbass.


Washington e seus servis aliados europeus inverteram de pés para cima a realidade e puseram-se a culpar Moscou por ter “anexado” a Crimeia e pelo conflito no Donbass, no qual já morreram quase 5 mil pessoas e que gerou um milhão de refugiados que buscam segurança em território russo, do outro lado da fronteira. Crimes contra a humanidade cometidos pelo regime de Kiev apoiado por EUA - União Europeia (UE) são ignorados em Washington e em Bruxelas, enquanto obram para fazer da Ucrânia neonazista estado-membro da UE e da OTAN.


A crise na Ucrânia que Washington e seus aliados em Bruxelas precipitaram resultou também no ataque que derrubou um avião malaio, dia 17 de julho/2014, e matou todos os 298 homens e mulheres e crianças que viajam naquela aeronave. Apesar do violento movimento de propaganda que EUA-UE tentaram, servindo-se da imprensa-empresa pró-ocidente, para inculpar a Rússia por aquele crime, todas as provas mostram que o regime neonazista de Kiev está envolvido na derrubada do avião – seja por horrível incompetência militar ou, ainda pior, em ato deliberado de sabotagem e assassinato, para inculpar a Rússia. Sem conseguir provar qualquer envolvimento dos russos naquela catástrofe, a investigação conduzida por “especialistas” dominados pelo ocidente parece ter sido embalsamada, para que nunca, em tempo algum, se demonstre que o verdadeiro responsável por aquelas mortes é o regime neonazista apoiado por EUA-UE de Kiev.



MH17 abatido por um Su 25 da Ucrânia

A campanha odiosa para inculpar a Rússia pelo assassinato dos passageiros do jato MH17 “evoluiu” para campanha de deslavada propaganda para impor sanções a Moscou. A UE desistiu de qualquer ambição que ainda tivesse a alguma independência política e seguiu caninamente as ordens de Washington, para impor sanções econômicas e diplomáticas contra a Rússia, por causa da crise ucraniana. O vice-presidente dos EUA, Joe Biden – um dos “mentores” do regime de Kiev – revelou em detalhes vergonhosos o que Washington fez para forçar os líderes europeus a adotar a política norte-americana de sanções contra Moscou. Com isso, se criou separação sem precedentes entre Europa e Rússia – e a mais grave deterioração nas relações desde o fim formal da Guerra Fria, há mais de 20 anos.


Estupidamente, a Europa carrega hoje o peso do crescimento das tensões. Sanções e contrassanções acabaram por ferir mais fundamente a já debilitada economia europeia, ferimentos que já atingiram até a Alemanha.


Como nos EUA, a economia europeia permanece presa em dura recessão (que não desaparece, por mais que os norte-americanos repitam a conversa da “recuperação”), com miséria social crescente e explosiva, e a pobreza atingindo altas recordes. Quanto mais se aprofunda o conflito absolutamente desnecessário com a Rússia, mais a União Europeia vê-se empurrada para a beira do abismo econômico. A miséria social que cresce e se espalha por toda a União Europeia levou, esse ano, ao crescimento de partidos políticos contrários à própria União Europeia e às políticas de Bruxelas em várias eleições nacionais. Partidos como a Frente Nacional, na França, e o Independence Party britânico já questionam a viabilidade do bloco europeu.


Esse desenvolvimento nada tem de surpreendente, dado que os líderes europeus só fazem manifestar o mais irrestrito servilismo à política externa de Washington e àquelas doutrinas econômicas neoliberais pró bancarrota nacional geral, de “austeridade” para os trabalhadores e o mais grotesco enriquecimento para as elites endinheiradas e a oligarquia financeira.


A reunião anual do G20 no final do ano na Austrália foi prova clara de que Washington e seus aliados na União Europeia não têm o que oferecer como solução política aproveitável contra o colapso econômico que começou em 2007 e persistiu inalterado por sete anos!


Em resumo, 2014 foi o ano em que o eixo Washington-Bruxelas foi exposto como força global exaurida. As “mudanças de regime” no Oriente Médio e na Ucrânia, cerebradas em Washington, levaram o mundo a uma crise que se aprofunda a cada dia.



O blefe das sanções

Em vez de se mostrarem capazes de resgatar-se do lodaçal de problemas econômicos profundos e bem conhecidos associados ao declínio do capitalismo ocidental, as potências ocidentais do século passado tentam desesperadamente resolver os próprios dilemas aprofundando, cada vez mais, velhos conflitos com a Rússia. A expansão da aliança EUA-OTAN contra o território russo é o corolário. A guerra parece ser, mais uma vez, o último refúgio dos canalhas.


Há um século, as potências sempre podiam safar-se das provocações mais alucinadas, porque elas tinham monopólio completo, total e inabalável da informação e da propaganda.


No novo mundo das comunicações globais multipolares e dos sempre novos canais alternativos de informações, a tendência à guerra inerente às potências ocidentais podem ainda ser perigo mortal – mas cada dia mais − está aí, exposta, desmascarada, para que todos a vejam. Em 2015, a batalha por verdade, justiça e paz será terrível... mas já é batalha que se pode vencer.


O desafio está exposto, visível, em nível global de consciência e clareza. A causa-raiz das guerras e conflitos afinal emergiu, perfeitamente clara, ao longo do ano passado: o inimigo da paz é o capitalismo ocidental “conduzido” pelos EUA.





[*] Finian Cunningham nasceu em Belfast, Irlanda do Norte, em 1963. Especialista em política internacional. Autor de artigos para várias publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi expulso do Bahrain (em 6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as violações dos direitos humanos por parte do regime barahini apoiado pelo Ocidente. É pós-graduado com mestrado em Química Agrícola e trabalhou como editor científico da Royal Society of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira no jornalismo. Também é músico e compositor. Por muitos anos, trabalhou como editor e articulista nos meios de comunicação tradicionais, incluindo os jornais Irish Times e The Independent. Atualmente está baseado na África Oriental, onde escreve um livro sobre o Bahrain e a Primavera Árabe.


POSTADO POR CASTOR FILHO
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