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segunda-feira, 17 de agosto de 2015
O que é "a Esquerda"? Dez observações 17/08/2015
Qualquer semelhança com o BE português não será coincidência
por Antonis
1. Na Grécia, "a Esquerda" existe desde 1951, desde a fundação naquele ano da Esquerda Democrática Unida (EDA). Como categoria do pensamento político, no período anterior a 1950 não tinha significado no país. O "anarquismo" era muito mais importante como descritor da ideologia nos princípios do movimento operário grego do que "a Esquerda" – sem mencionar o significado, para uma política anti-burguesa, de expressões como "Bolchevismo" e "Terceira Internacional". Estruturalmente, a condição prévia para o nascimento de "a Esquerda" era a auto-censura da designação de um sector da população como "comunista" em consequência do terror de Estado. "A Esquerda" nasceu sob condições de repressão estatal, como uma troca de nomes defensiva, como uma pseudo-denominação com objectivos de auto-protecção.
2. A derrota do Exército Democrático da Grécia (EDG), em combinação com o terror de estado e a repressão, também criaram as condições prévias para a pseudo-categoria de "a Esquerda" (como uma abstracção nominalista, ao invés de um designador concreto de uma tendência dentro de um partido socialista de trabalhadores – uma utilização com uma genealogia inteiramente diferente) adquirir o seu próprio significado substantivo. Ela criou, para dizer mais simplesmente, a possibilidade de uma secção dos comunistas fazerem realmente (e não apenas superficialmente) a transição para a "ideologia democrática", a qual nas condições da inabalável dominação capitalista significa necessariamente a transição para o lado da democracia burguesa. "A Esquerda" é o resultado da efectiva rendição de uma secção dos comunistas ao vitorioso estado burguês.
3. Economicamente falando, "a Esquerda" significa a reivindicação de "uma distribuição da riqueza mais justa", ou do "produto social". Ela nunca significa a luta para mudar o modo de produção, nunca a mudança de relações produção, nunca a socialização dos meios de produção. Já em 1875, Karl Marx mostrava, no seu Crítica do programa de Gotha, quão contraditório é o próprio conceito de uma "justa distribuição" da riqueza dentro do capitalismo. O cultivo da ilusão de que as apostas de "a Esquerda" eram porventura algo mais do que esta vaga reivindicação de uma "distribuição mais justa" era um tanto activado pela coexistência compulsória, sob o regime de terror de estado da década de 1950, de sociais-democratas e comunistas. Esta coexistência foi utilizada para promover confusão e gerar placebos agradáveis para um movimento desarmado e derrotado.
4. Porque a suprema reivindicação de "a Esquerda" é uma "distribuição mais justa" da riqueza capitalista acumulada, a Esquerda por definição está do lado da Reforma contra a Revolução.
5. Porque a crise financeira do capitalismo torna extremamente estreitas as margens para satisfazer a reivindicação da "distribuição mais justa", "a Esquerda" não pode ter conteúdo económico que seja diferente daquele dos partidos burgueses em tais períodos. Ela pode adquirir um tal conteúdo só em períodos de desenvolvimento económico das taxas de acumulação capitalistas, sempre sob a condição prévia de que ela tenha na sua perspicácia meios de exercer pressão de modo que lhe seja permitido aparecer como um "provedor" para a classe trabalhadora e como um "negociador" no seu interesse. Mas a subversão do socialismo realmente existente significa que tais meios não existem, tanto durante crises financeiras como durante período de desenvolvimento capitalista. Consequentemente, não se pode esperar de "a Esquerda" vir a obter um conteúdo económico que a diferencie de qualquer formação política burguesa no futuro próximo.
6. Dada a ausência de um conteúdo económico distinto na categoria de "a Esquerda", tanto na Grécia como no exterior, a palavra evoluiu, a partir das décadas de 1960 e 1970, para uma categoria da superestrutura .
7. A primeira esfera fundamental dentro da qual "a Esquerda" obteve um conteúdo foi a estética , em todas as suas formas. Por esta razão, hoje continua mais fácil localizar a "Esquerda" no cinema, poesia, pintura, imagística, retórica, do que num programa económico da "Esquerda" que seja diferente da generalidade dos programas económicos burgueses. Após a década de 1960, "a Esquerda" tornou-se predominantemente uma categoria estética , uma proposta para uma estética.
8. A segunda esfera fundamental na qual "a Esquerda" obteve um conteúdo, durante o mesmo período, e enquanto estava a ser disseminada no terreno da estética, foram os "direitos sociais", concebidos como direitos individuais baseados na "diferença". Estes, inevitavelmente, são direitos que pressupõem uma norma que eles simultaneamente questionam. Todos os movimentos sociais de "a Esquerda" criados desde a década de 1950 são determinados por esta contradição entre o não-questionamento da existência de uma norma – a aceitação da estabilidade e da sustentabilidade, efectivamente, do modo de produção capitalista – e o seu questionamento ao nível ideológico e retórico, bem como a contradição decorrente entre a rejeição da normatividade como tal e o esforço para fazê-la mais "inclusiva" do que fora no passado.
9. Em períodos de recessão, as vitórias dos "novos movimentos sociais" não só desaparecem como revelam-se miragens. Como não é possível qualquer desvio das necessidades da acumulação capitalista, assim os "direitos sociais" revelam-se serem destituídos de substância ou absolutamente "seguros" para o sistema social, mesmo durante períodos de repressão social. Esta é a era na qual o casamento gay pode ser percebido como uma reivindicação muito menos radical do que o direito a uma casa ou a cuidados médicos, porque estes últimos têm um custo para o capital, ao passo que o primeiro exige apenas um "ajustamento ideológico" no estado burguês.
10. "A Esquerda" é o aspecto essencial e orgânico da "Grande ilusão" de um importante sector dos estratos médios e baixos. Estes estratos tiraram conclusões erradas quanto à natureza do sistema capitalista ao limitarem suas observações ao período no qual os ritmos de desenvolvimento económico e a pressão tornada possível pelo socialismo realmente existente permitiu que a reivindicação de uma "distribuição mais justa do produto social" tivesse algumas limitadas consequências práticas para a qualidade da vida diária em sociedades ocidentais. Hoje, a única utilidade de "a Esquerda" é promover a confusão quanto à natureza real de uma categoria que historicamente é muito mais importante e substantiva – a Social-Democracia – e assisti-la na reprodução da elites intelectuais e tecnocráticas que a utilizam para ganhar legitimidade popular, levando portanto à sua sempre maior deslegitimação aos olhos de estratos populares, com todas as graves consequências políticas que isto pode ter para a conversão destas últimas à Reacção. Não é preciso dizer que todo o debate, na Grécia e no exterior, a respeito do que é "a Esquerda real" e de que partido político "realmente" exprime algo destituído de qualquer conteúdo económico real é desorientador em termos definicionais. O único objectivo de um tal debate é a perpetuação da paralisia política e da impotência dos estratos sociais mais baixos.
15/Agosto/2015
O original encontra-se em leninreloaded.blogspot.pt/2014/06/blog-post_6471.html
e a versão em inglês em indefenseofgreekworkers.blogspot.pt/2015/08/what-is-left-ten-remarks.html#more
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
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