quinta-feira, 23 de junho de 2011

Vem aí a Brasilfértil?

A Vale anunciou hoje o fechamento do capital de sua subsidiária Vale Fertilizantes.
Por que? Qual a razão de ela pagar até 41% de prêmio aos investidores que compraram os 31,77% de suas ações preferenciais (sem direito a voto) e os 0,09% das ordinárias, representando pouco mais de 15% do capital da empresa?
É óbvio que a empresa não está fazendo isso para baixar seu volume de recursos em caixa.
É evidente que ela se prepara para uma operação de grande envergadura, já que a área de fertilizantes, após a mineração, é o maior plano empresarial da Vale.
E por que é?
Porque a alta do preço das commodities agrícolas e do consumo interno estão empurrando a produção agrícola no Brasil.
O aumento da produção agrícola pressupõe um aumento na produção de fertilizantes.
E o Brasil não é auto-suficiente em fertilizantes, ao contrário.E é o quarto maior consumidor mundial de adubos artificiais.
Importou, na média dos últimos cinco anos, 65% do que consome.
Nos primeiros cinco meses do ano, a importação bateu 85%, e nem mesmo chegou a época de maior consumo.
A Vale pretende ser o grande produtor mundial de potássio e fósforo e, por isso, no ano passado, comprou os ativos da multinacional Bunge no Brasil, inclusive a Fosfértil que é detentora de grandes jazidas de fósforo.
O potássio teve, há pouco tempo, grandes descobertas na região amazônica, capaz de levar o Brasil á condição de maior potencial neste minério, atrás de Canadá e Rússia, que hoje têm quase dois terços das reservas economicamente viáveis no mundo. O Brasil já produz, em Sergipe, numa mina que era explorada pela Petromisa, o braço minerador da Petrobras, extinto nos anos 90, na era das privatizações. A mina foi arrendada à Vale.
Fósforo (P) e potássio (K), sabe qualquer jardineiro doméstico, são dois dos três principais componentes do famoso “NPK”, a fórmula mais comum de fertilizante.
O “N” é de nitrogênio, que se obtém a partida da uréia que, artificialmente, é produzida a partir da amônia que, por sua vez, é produzida a partir da água, do ar e do gás natural.
E quem produz e opera o gás natural no Brasil? Adivinhou?
A Petrobras, portanto, é a grande produtora de ureia – leia-se “nitrogênio sólido” – a partir do gás. E isso é extremamente econômico para ela, uma vez que, além do gás novo que vem associado às novas jazidas de petróleo que vão entrando em processo de extração, ela ainda tem de dar destino ao gás que temos contratado – em volume fixo diário – com a Bolívia e que, nos períodos de chuva, não é destinado às termoelétricas, que não precisam operar quando as hidrelétricas, para não verter água de seus reservatórios, têm de estar no pico de sua produção de eletricidade. Foi por isso, aliás, que a empresa está construindo uma megaplanta de processamento de ureia em Três Lagoas (MS), juntinho do gasoduto Brasil-Bolívia.
Já fechou a equação? Entendeu o que os tecnocratas chamam de “sinergia”? Se não fechou, veja o que disse Lula, em abril do ano passado, quando a Vale ainda vivia sob o reinado de Roger Agnelli e tinha nojo de tudo o que fosse investimento estratégico e benéfico ao país.
Está lá, no Estadão:
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que Vale e Petrobras têm de formar parceria para atuar na área de fertilizantes. “Vamos chamar a Vale e a Petrobras, porque a nossa agricultura não pode ficar dependente de duas ou três empresas externas”, afirmou Lula, na cerimônia de posse dos novos ministros. Ele garantiu que o governo não entrará diretamente na área, mas que fará o papel de coordenar o setor.
Existe a expectativa de que uma estatal seja criada para gerenciar a área de fertilizantes no Brasil. “O Estado não vai se meter, mas vai conduzir oxigênio para que nossa agricultura possa se desenvolver”, afirmou o presidente. Ele disse que a proposta encaminhada pelos ministérios da Agricultura e de Minas e Energia já foi enviada à Casa Civil para avaliação. Ele parabenizou a decisão da Petrobras de construir fábricas de ureia e de amônia em Uberaba (MG) e Três Lagoas (MS).
Está evidente que vem coisa aí, não é? Como você vê, nossa imprensa está tão preocupada em achar notícias catastróficas que “papa mosca” no que pode ser uma grande notícia no mundo econômico, já que o negócio de fertilizantes movimenta quase 10 bilhões de dólares por ano.
Aliás, falando em imprensa, no dia destas declarações, o presidente Lula, neste dia, fez um discurso que merece ser revisto e que posto aí embaixo. É do tempo em que o Blog do Planalto se preocupava em difundir a palavra do presidente e não de reproduzir burocraticamente a transmissão dos eventos oficiais.


http://www.tijolaco.com/

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