sexta-feira, 23 de março de 2012

Embraer, Airbus e Boeing se unem por novo combustível 23/03/2012

De O Estado de S. Paulo


As três maiores fabricantes de aviões assinam acordo pela criação de padrão mundial de biocombustível para a próxima geração de jatos
Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo
GENEBRA - Diante da alta do preço do petróleo e da crise mundial, as três maiores fabricantes de aviões do mundo - Airbus, Boeing e a brasileira Embraer - se unem e firmam um raro acordo em Genebra para acelerar as pesquisas para criação de um biocombustível para a aviação. O esforço, na prática, caminha para estabelecer um padrão mundial de combustível para a próxima geração de jatos e harmonizar a corrida pela alternativa ao petróleo.
Até hoje, 1,5 mil voos testes foram realizados com biocombustíveis. Em junho, será a vez de a Embraer fazer seu primeiro voo, com a Azul. Mas o grande obstáculo, segundo as empresas, é garantir que haja a produção de um combustível a preço competitivo e um jato possa ser abastecido com o mesmo etanol no Brasil, na África ou na Europa. "Há muita pesquisa. Mas não existe uma produção em escala que permita que seja econômico", disse ao Estado o presidente da divisão de Aviação Civil da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva. "Hoje, o preço do biocombustível é três vezes maior que o combustível que usamos."
Para superar esses desafios, a estratégia das fabricantes é de unir esforços para convencer governos a financiar pesquisas, dar incentivos a produtores e encontrar parceiros que possam fabricar em grande escala o novo combustível. Na avaliação do executivo brasileiro, o acordo permitirá uma aceleração nos resultados das pesquisas e na adoção do novo combustível no mercado.
Outro fator que promete ajudar é o envolvimento dos três maiores atores do mercado, o que garantirá que o combustível será o adotado por todo o mundo. "Há momentos para competir e há momentos para cooperar", disse Jim Albaugh, presidente da Boeing, que já tem projetos com a Embraer no Brasil.
Juntas, as três empresas concorrem por um mercado anual de US$ 100 bilhões e a disputa principalmente entre a Airbus e Boeing chega a se transformar em batalhas judiciais. Ontem, as empresas colocaram as rivalidades de lado para apostar numa alternativa. "Duas das maiores ameaças à nossa indústria são o preço do petróleo e o impacto do tráfego aéreo comercial no meio ambiente", afirmou Albaugh. Segundo ele, as patentes que sairão dessas pesquisas serão compartilhadas entre as empresas.
O objetivo do plano também é permitir que a meta do setor, de ter um crescimento neutro em emissões de CO2 após 2020, possa ocorrer. Até 2050, a meta é reduzir as emissões em 50%. "A produção de biocombustíveis é fundamental nisso", disse Tom Enders, presidente da Airbus. Para ele, porém, chegou a hora de governos abrirem seus cofres e dar incentivos à empreitada.
Guerra. A união entre as maiores fabricantes não se limita ao combustível. As três gigantes do setor deixaram claro ontem seu apelo para que a Europa abandone a ideia de exigir que empresas aéreas estrangeiras que ultrapassem um teto de emissões de CO2 a partir de 2013 sejam obrigadas a comprar créditos de carbono. China, EUA, Índia, Rússia e Brasil já assinaram um documento se opondo à iniciativa e prometendo retaliações se suas empresas forem multadas pela UE.
Enders, da europeia Airbus, disse ontem que a China já deixou de comprar seus aviões desde que a UE passou a ameaçá-la. O congelamento da encomenda de 55 jatos pode trazer prejuízos de US$ 14 bilhões à empresa e ameaçar 2 mil empregos.
As grandes empresas e governos apelaram ontem para que seja suspensa qualquer medida pelos próximos dois anos, dando espaço a um acordo no marco da Organização d a Aviação Civil Internacional (Icao). "Na prática, alguns de nossos maiores mercados poderão nos retaliar", disse Enders.
A Embraer também é contra a iniciativa. Mas acredita que o Brasil não seguirá o caminho da China de impor retaliações. "O diálogo é a característica do Brasil", disse uma fonte da empresa. Tanto a Boeing quanto a Airbus estimam que o crescimento do PIB brasileiro fará com que empresas aéreas tenham de se equipar no Brasil. "Temos ótimas perspectivas para o Brasil. Sempre que há um crescimento do PIB há um crescimento de passageiros", disse Albaugh.

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