A nota deixada pelo pensionista grego que se
suicidou em frente ao parlamento consternou o mundo, mas em Portugal
também há quem aponte o dedo à crise antes de pôr termo à vida. Em 2010
já houve mais suicídios que mortes nas estradas e o secretário de Estado
da Saúde diz que com o agravar da crise e do desemprego "é possível e
imaginável" que cada vez mais pessoas se suicidem.
A crise e a falta de respostas para o desemprego e a exclusão trarão mais suicídios. Foto Paulete Matos.
Questionado pela Lusa sobre se com a crise se pode haver um aumento das taxas de suicídio, o secretário de Estado afirmou que, “em todas as circunstâncias de maior crise económica ou financeira, com o aumento do desemprego, aumento de situações de maior dificuldade social, individual e familiar, é possível e imaginável que isso aconteça”. Leal da Costa diz ainda que atualmente o suicídio “é uma realidade crescente em Portugal, nomeadamente o suicídio de idosos que se prende claramente com circunstâncias que têm a ver com o abandono social e com condições mais difíceis de sobrevivência”.
Antes da intervenção da troika, a Grécia tinha a taxa de suicídio mais baixa da Europa, mas hoje já ocupa um dos lugares cimeiros. Só no último ano houve um aumento de 40% no número de suicídios registados. O caso do pensionista grego de 77 anos que pôs termo à vida na manhã de quarta-feira na praça Syntagma, trouxe ao primeiro plano o desespero das vítimas das políticas de austeridade. Dimitris Christoulas escreveu uma nota responsabilizando o Governo e comparando-o aos militares que administravam o país para os nazis durante a II Guerra Mundial: "Não vejo outra solução senão pôr, de forma digna, fim à minha vida, para que eu não me veja obrigado a revirar o lixo para assegurar o meu sustento. Eu acredito que os jovens sem futuro um dia vão pegar em armas e pendurar os traidores deste país na praça Syntagma, assim como os italianos fizeram com Mussolini em 1945”, escreveu o antigo farmacêutico de Atenas.
Em Portugal, também há notícia de casos igualmente trágicos de desespero. Em setembro passado, Pedro e Cristina, dois irmãos de 53 e 57 anos, lançaram-se para a frente de um comboio da linha de Cascais, na estação de Paço de Arcos. Segundo a notícia então publicada no Correio da Manhã, no bolso de Pedro estava uma carta a explicar a razão do duplo suicídio. Depois de trabalhar numa empresa de publicidade, Pedro estava desempregado e vivia em Lisboa com a irmã, igualmente desempregada, e a mãe, até esta falecer aos 88 anos. O senhorio despejou-os e ficaram a viver na rua por alguns meses, até à noite em que puseram um ponto final na sua história. "Estava escrito que se sentiam abandonados e viviam em pobreza extrema devido à crise económica", disse uma fonte policial citada pelo Correio da Manhã.
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