Do Opera Mundi
Projeto de Macky Sall considera senadores “absurdamente caros” e preserva uma casa representativa
O novo presidente do Senegal, Macky Sall, colocou em prática nesta
sexta-feira (21/09) um projeto inusitado para lidar com o restrito
orçamento herdado do governo anterior de Abdoulaye Wade. Ele propôs ao
legislativo a abolição do Senado e da Vice-Presidência senegalesa para
que toda sua verba seja direcionada para programas nacionais de ajuda
humanitária.
Embora a ideia soe tentadora para muitos, a revista sul-africana The
Daily Maverick apurou as prováveis razões que determinaram a decisão de
Sall. Isso porque, de acordo com a publicação, “conseguir abolir tanto o
Senado quanto a Vice-Presidência e ainda ser aclamado como um
‘democrata reformista’” é algo que provavelmente fez com que seu
antecessor “passasse um bom tempo refletindo e coçando sua cabeça careca
e brilhante”.
WikiMedia Commons
O principal argumento do presidente é de que os salários dos
senadores, bem como o de seu vice-presidente, seriam muito melhor
empregados na amenização dos danos causados por recentes enchentes que
atingiram todo o país. Para Sall, além de os senadores serem
“absurdamente caros para o país”, seu projeto preserva uma câmara
representativa em Senegal.
A Câmara Baixa (o equivalente à Câmara dos Deputados, no Brasil) já
aprovou a decisão do presidente e encaminhará sua decisão para o Senado.
Mesmo que os senadores não aprovem o projeto (o que seria o mais lógico
a se supor), a decisão final pode ser encaminhada a uma assembleia na
qual os membros das duas casas são reunidos. Nesse caso, a coalizão
governista seria a maioria.
“Essa é uma história ideal e que causa bem-estar: 16 milhões de
dólares são economizados com o fim do Senado e podem ser destinados a
ajuda humanitarian, ajudando na reconstrução de Senegal após uma das
piores enchentes de sua história”, alega a Daily Maverick. Para a
revista, a iniciativa é tão positiva que já está sendo incorporada por
outros países. Na Nigéria, o governador da provincia de Lagos, Asiwaju
Bola Ahmed Tinubu, sugeriu que o governo de seu país seguisse os mesmos
passos que Senegal. Para a revista, o político muito provavelmente
estava sendo sincero, já que sua esposa é uma das 110 senadoras do país e
correrá o risco de perder seu emprego.
Antes oposição, agora governo, a coalizão do presidente Macky Sall
está no controle da ampla maioria da Câmara Baixa. No Senado, contudo, a
situação se inverte, e o controle majoritário passa para a base aliada
do ex-presidente Abdoulaye Wade. É daí que os críticos do projeto
extraem o argumento de que Sall estaria ruindo com as instituições e,
por extensão, com a democracia do país.
Não é o que vê David Zounmenou, pesquisador do Instituto para Estudos
de Segurança de Senegal. Para o estudioso de Relações Internacionais,
“Macky Sall não está fazendo nada que comprometa a arquitetura
democrática de Senegal”, até porque, “é o longo histórico democrático
de Senegal – rapidamente ameaçado por Wade – que trouxe Sall para o
poder”.
Para The Daily Maverick, “a verdade é que se Wade tem um histórico de
repressão às liberdades políticas e representou um grande risco de
transformar a Presidência em uma instância herdada e pseudo-monárquica”.
Por sua vez, “Sall, novo no cargo, tem uma ficha limpa e elevadas taxas
de aprovação popular. Sua reação aos danos causados pelas enchentes foi
particularmente boa e deixou claro um contraste com a administração
letárgica e apática de Wade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário