Janie Hulse
Representantes da Força Aérea Brasileira
reuniram-se recentemente em São Paulo para discutir a prevenção de
ataques cibernéticos contra os sistemas de defesa. Seu objetivo é
proteger as atividades de suas unidades, fortalecendo sistemas de
informação e prevenindo a infiltração de inimigos em redes importantes.
O evento mostra o crescente papel da
Aeronáutica na área de cibersegurança. Até o momento, o Ministério da
Defesa brasileiro concentrava quase todas as questões de segurança de
informática no Exército.
O grupo de trabalho reuniu-se um mês após
o Brasil sofrer o maior ataque cibernético da história. Hackers do
país, associados ao grupo LulzSec, que derrubou temporariamente o site
da CIA em junho, fecharam diversos portais do governo brasileiro na
ocasião.
Ataques similares tendo como alvo
empresas privadas e até sites militares têm aumentado ao longo dos anos.
Alguns especialistas, inclusive, culpam os hackers por um apagão na
região norte do Rio de Janeiro, além de outro que ocorreu no Espírito
Santo, quando milhões de pessoas ficaram no escuro.
O Brasil sofreu 400.000 ataques a
computadores em 2011, de acordo com o Centro de Estudos, Resposta e
Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil – CERT, que afirma que
hackers domésticos perpetraram a maioria deles, mas não todos.
Entretanto, tais hackers não trabalham
necessariamente sozinhos, como ficou evidente no recente caso da
internacional LulzSec. Na ocasião, pelo menos três pessoas foram presas
por invadir o site corporativo da Sony Pictures, roubando dados pessoais
de milhares de clientes e disponibilizando-os online.
CERT: ameaças cibernéticas em alta
O CERT declarou que o aumento de
quantidade, magnitude e sofisticação desses ataques levantam questões
sobre a eficácia dos recentes esforços do país na área de
cibersegurança, uma preocupação especial das forças armadas, cuja missão
inclui salvaguardar as redes do país e outras infraestruturas críticas.
“O avanço tecnológico contínuo de ameaças
cibernéticas e o aumento da dependência em sistemas de informação para
incrementar a eficiência operacional da Aeronáutica exige atenção e
monitoramento da defesa cibernética, que deve ser constantemente
reformulada e atualizada”, explica o coronel Ricardo de Veiga Queiroz,
coordenador do grupo de trabalho EMAER da Força Aérea Brasileira.
Segurança da informação é um do três
pilares da Estratégia Nacional de Defesa 2008 do Brasil. Com o objetivo
de atingir suas metas, o governo investirá cerca de US$ 200 milhões (R$
400 milhões) nos próximos quatro anos para proteger as redes do Brasil,
de acordo com o general José Carlos dos Santos, comandante do CDCiber
(Centro de Defesa Cibernética) do Brasil.
“O interesse militar em defesa
cibernética vai além do conceito de guerra cibernética, em que, por
exemplo, instalações nucleares do Estado podem ser manipuladas ou
comprometidas”, afirma Gaston Schulmeister, especialista em assuntos de
segurança da América do Sul e professor na Universidad Argentina de la
Empresa (UADE), em Buenos Aires. “Questões têm sido levantadas a
respeito do controle de assuntos tais como redes de energia e represas –
a maior parte sob controle de civis – que, confrontados com um ataque
virtual, podem comprometer a infraestrutura crítica de um país.”
Com sede em Brasília, o CDCiber se prepara para Copa do Mundo e Olimpíadas
Em 2012, o governo brasileiro destinou ao
Centro de Defesa Cibernética do Exército US$ 45 milhões (R$ 90
milhões), estabelecidos dois anos antes. A primeira missão do CDCiber
foi oferecer antecipadamente segurança às redes da conferência sobre
desenvolvimento sustentável, a Rio+20, da ONU, em junho. Agora, o centro
focará na preparação dos sistemas para a Copa do Mundo da FIFA em 2014 e
para as Olimpíadas de 2016.
“O Exército Brasileiro está se preparando
para enfrentar ameaças da guerra eletrônica no mundo moderno em geral e
da defesa cibernética em particular”, declarou o ministro da Defesa
brasileiro, Celso Amorim, após visitar a sede do CDCiber em Brasília, em
junho.
No início deste ano, as Forças Armadas
concluíram a compra de um programa antivírus de simulação de
ciberataques por US$ 3,3 milhões (R$ 6,6 milhões). O programa irá
treinar oficiais do exército em 25 cenários de ataques cibernéticos em
redes semelhantes às que possuem.
Além das iniciativas individuais, as
Forças Armadas do Brasil então estabelecendo alianças com parceiros como
os Estados Unidos para aumentar as chances de sucesso na área de
proteção cibernética. Em abril, Amorim se reuniu em Brasília pela
primeira vez com o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, em um
novo acordo de cooperação que tornará a cibersegurança uma prioridade,
juntamente com transferência de tecnologia, assistência humanitária e
resposta a desastres.
“Estamos falando de uma realidade global
cuja arquitetura e governabilidade dependem de um novo conjunto de
protagonistas não estatais, que darão apoio à plataforma tecnológica
mundial e à construção dos principais componentes desse novo sistema
virtual para a humanidade”, assinala Schulmeister.
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