Bento XVI saúda D. Javier
Echevarría Rodríguez, Bispo titular de Cilibia, Prelado da Prelazia
Pessoal do Opus Dei, Foto Flickr (Escritório de informação do Opus Dei
Título original: A Ópus Dei na América Latina
A Opus Dei atua também no monopólio da
imprensa. Controla o jornal "El Observador", de Montevidéu, e exerce
influência sobre órgãos tradicionais da oligarquia como "El Mercurio",
no Chile, "La Nación", na Argentina e "O Estado de São Paulo", no
Brasil.
O elo com a imprensa é o curso de
pós-graduação em jornalismo da Universidade de Navarra em São Paulo,
coordenado por Carlos Alberto di Franco, numerário e comentarista do
"Estadão" e da Rádio Eldorado.
O segundo homem da Opus Dei na imprensa
brasileira é o também numerário Guilherme Doring Cunha Pereira, herdeiro
do principal grupo de comunicação do Paraná ("Gazeta do Povo").
Os jornalistas Alberto Dines e Mário
Augusto Jakobskind denunciam que a organização controla também a
Sociedade Interamericana de Imprensa - SIP (na sigla em espanhol).
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Analisando a estrutura de classes dos
países latino-americanos, Darcy Ribeiro identificava como segmento
hegemónico dentro das classes dominantes o corpo de gerência das
transnacionais. Ponta de lança do imperialismo, é ele quem dita ordens e
impõe ideologias às demais fracções e, em muitos casos, organiza-as
politicamente. A desnacionalização das economias latino-americanas na
década de 90 agravou este quadro. A alteração de mais relevo no perfil
da classe dominante verificada no bojo deste processo é o crescimento da
influência da Opus Dei. Sustentada pelo capital espanhol, a organização
controla jornais, universidades, tribunais e entidades de classe, sendo
hoje peça chave para se compreender o processo político no continente,
inclusive no Brasil, onde quer eleger Geraldo Alckmin presidente da República.
Procissão Católica na Espanha, berço da Opus Dei.
Mas o que é afinal, a Opus Dei (em latim, Obra de Deus)?
Em seu campo original de atuação, é a
vanguarda das tendências mais conservadoras da Igreja Católica. "Este
concílio, minhas filhas, é o concílio do diabo" teria dito seu fundador,
Josemaria Escrivá de Balaguer, sobre o Vaticano II, no relato do
jornalista argentino Emilio J. Corbiere no seu livro "Opus Dei. El
totalitarismo católico".
Fundada na Espanha em 1928, a
organização foi reconhecida pelo Vaticano em 1947. Em 1982, foi
declarada uma prelatura pessoal, o que, sob o Direito canónico,
significa que só presta contas ao papa e que seus membros não se
submetem à jurisdição dos bispos. "A relação entre Karol Wojtyla e a
Opus Dei" conta o teólogo espanhol Juan José Tamayo Acosta "atinge seu
êxito nos anos 80-90, com a irresistível ascensão da Obra à cúpula do
Vaticano, a partir de onde interveio altivamente, primeiro no esboço e
depois na colocação em prática do processo de restauração da Igreja
católica sob o protagonismo do papa e a orientação teológica do cardeal
alemão Ratzinger."
Fontes ligadas à Igreja Católica
atribuem o poder da Obra à quitação da dívida do Banco Ambrosiano,
fraudulentamente falido em 1982.
Obscurantismo e misoginia são traços que
marcam a organização. Exemplos podem ser encontrados nas denúncias de
ex-adeptos como Jean Lauand, professor da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo - Universidade de São Paulo (USP), que
recentemente escreveu junto com mais dois ex-membros, o juizMárcio
Fernandes e o médico Dário Fortes Ferreira, o livro "Opus Dei - os
bastidores". Em entrevista ao programa Biblioteca Sonora, da Rádio USP,
Jean Lauand conta que a Obra tem um "Index" de livros proibidos que
abrange praticamente toda a filosofia ocidental desde Descartes. Noutra
entrevista, à revista Época, Jean Lauand denuncia as estratégias de
fanatização dos chamados numerários, leigos celibatários que vivem em
casas da organização: "Os homens podem dormir em colchões normais, as
mulheres têm de dormir em tábuas. São proibidas de segurar crianças no
colo e de ir a casamentos". É obrigatório o uso de cinturões com pontas
de ferro fortemente atados à coxa, como prática de mortificação que visa
refrear o desejo. Mas os danos infligidos pelo fanatismo não se limitam
ao corpo.
No site que mantém com outros
dissidentes (http://www.opuslivre.org/), Jean Lauand revela que a Obra
conta com médicos especialmente encarregados de receitar psicotrópicos a
numerários em crise nervosa.
A captação de numerários dá-se entre
estudantes de universidades e escolas secundárias de elite. Centros de
estudos e obras de caridade servem de fachada. A Opus Dei tem forte
presença na USP, em especial na Faculdade de Direito, onde parte do
corpo docente é composta por membros e simpatizantes,como o numerário
Inácio Poveda e o diretor Eduardo Marchi. Outro expoente da organização
na USP é Luiz Eugênio Garcez Leite, professor da Faculdade de Medicina e
autor de panfletos contra a educação mista. A Obra atua também na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Campinas
(Unicamp) e Universidade de Brasília (UnB).
Fazendo a América
Mas a Opus Dei é mais que um tema de
saúde pública. Ela tem, desde a origem, uma clara dimensão política.
Durante a ditadura de Franco, praticamente fundiu-se ao Estado espanhol,
ao qual forneceu ministros e dirigentes de empresas e órgãos
governamentais. No fim da década de 40, inicia sua expansão rumo à
América Latina. Não foi difícil conquistar adeptos entre oligarquias
como as da Cidade do México, Buenos Aires e Lima, que sempre buscaram
diferenciar-se de seus povos apegando-se a um conceito conservador de
pretensa hispanidade. Um dos elementos definidores desse conceito é
exatamente o integralismo católico.
Alberto Moncada, outro dissidente, conta
em seu livro "La evolución del Opus Dei": "os jesuítas decidiram que
seu papel na América Latina não deveria continuar sendo a educação dos
filhos da burguesia, e então apareceu para a Opus Dei a ocasião de
substituí-los - ocasião que não hesitou em aproveitar".
No Brasil, a organização deitou raízes
em São Paulo no começo da década de 50, concentrando sua atuação no meio
jurídico. O promotor aposentado e ex-deputado federal Hélio Bicudo
conta que por duas vezes juízes tentaram cooptá-lo. Seu expoente de
maior destaque foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF)por Médici em 1972 e tio do atual
governador de São Paulo. Acontece que nos anos 70, o poder da Opus Dei
era embrionário. Tinha quadros em posições importantes, mas sem atuação
coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e Propriedade
(T.F.P.) as simpatias dos católicos de extrema-direita.
Era natural, da mesma forma, que, alguns
quadros dos regimes nascidos dos golpes de Estado de 1966 e 1976, na
Argentina, e 1973, no Uruguai, fossem também quadros da Opus Dei. Mas
segundo se lê no livro de Emilio J. Corbiere , sua atuação era ainda
dispersa, o que não os impediu de controlar a Educação na Argentina
durante o período Onganí (1966-70).
Já no Chile, a Opus Dei foi para o
pinochetismo o que havia sido para o franquismo na Espanha. O principal
ideólogo do regime,Jaime Guzmá, era membro activo da organização, assim
como centenas de quadros civis e militares.
No México, a Obra conseguiu fazer Miguel
de la Madrid presidente da República em 1982, iniciando a reversão da
rígida separação entre Estado e Igreja imposta por Benito Juárez entre
1857 e 1861.
Internacional reacionária
A Opus Dei não criou o reacionarismo
católico, antes, teve nele sua base de cultura. Mas sistematizou-o
doutrinariamente e organizou politicamente seus adeptos de uma forma
quase militar. Hoje, funciona como uma espécie de Internacional
reaccionária, congregando, coordenadamente, adeptos em todo o mundo.
Concorrem para isto, nos anos 90, o
ápice do poder da Obra no Vaticano e a invasão da América Latina por
transnacionais espanholas.
A Argentina entregou suas estatais de
telefonia, petróleo, aviação e energia á Telefónica, Repsol, Iberia e
Endesa, respectivamente. A Telefónica controla o sector também no Peru e
em São Paulo. A Iberia já havia engolido a LAN, do Chile, onde a
geração de energia também é controlada pela Endesa. Bancos espanhóis
também chegaram ao continente neste processo.
No Brasil, o Santander comprou o Banespa
e o Meridional, enquanto que o BBVA recebeu os ativos do Excel através
do Proer, no governo de Fernando Henrique Cardoso.
"A Opus Dei tem sido para o modelo
neoliberal o que foram os dominicanos e franciscanos para as cruzadas e
os jesuítas frente à Reforma de Lutero" compara José Steinsleger,
colunista do diário mexicano "La Jornada".
A organização atua também no monopólio
da imprensa. Controla o jornal "El Observador", de Montevidéu, e exerce
influência sobre órgãos tradicionais da oligarquia como "El Mercurio",
no Chile, "La Nación", na Argentina e "O Estado de São Paulo", no
Brasil. O elo com a imprensa é o curso de pós-graduação em jornalismo da
Universidade de Navarra em São Paulo, coordenado por Carlos Alberto di
Franco, numerário e comentarista do "Estadão" e da Rádio Eldorado. O
segundo homem da Opus Dei na imprensa brasileira é o também numerário
Guilherme Doring Cunha Pereira, herdeiro do principal grupo de
comunicação do Paraná ("Gazeta do Povo"). Os jornalistas Alberto Dines e
Mário Augusto Jakobskind denunciam que a organização controla também a
Sociedade Interamericana de Imprensa - SIP (na sigla em espanhol).
Sedeada na Espanha, a Universidade de
Navarra é a jóia da coroa da Opus Dei no negócio do ensino. Sua receita
anual é de 240 milhões de euros. Além disso, a Obra controla as
universidades Austral (Argentina), Montevideo (Uruguai), de Piura
(Peru), de Los Andes (Chile), Pan Americana (México) e Católica André
Bello (Venezuela).
Dentro da igreja católica, a Opus Dei
emplacou, na última década, vários bispos e Cardeais na América Latina. O
mais notável é Juan Luís Cipriani, de Lima, no Peru, amigo íntimo da
ditadura de Alberto Fujimori. Em seu estudo "El totalitarismo católico
em el Peru", o jornalista Herbert Mujica denuncia que quando o Movimento
Revolucionário Tupac Amaru tomou a embaixada do Japão, em 1997, Juan
Luís Cipriani, valendo-se da condição de mediador do conflito, instalou
equipamentos de escuta que possibilitaram à polícia invadir a casa e
matar os ocupantes.
Na Venezuela, a Obra teve papel
essencial no fracassado golpe de 2002 contra Hugo Chávez. Um dos
articuladores da tentativa foi José Rodríguez Iturbe, nomeado ministro
das Relações Exteriores. Também participou da articulação à embaixada da
Espanha, governada na época pelo neo-franquista Partido Popular (PP).
Após os reveses na Venezuela, as
esperanças da Opus Dei voltaram-se para Joaquím Laví, no Chile, e
Geraldo Alckmin, no Brasil, hoje seus quadros políticos de maior
destaque. Joaquím Laví foi derrotado nas últimas eleições presidenciais
chilenas em Dezembro. Resta o Brasil, onde a Obra tenta fazer de Geraldo
Alckmin presidente e formar um eixo geopolítico com os governos Álvaro
Uribe (Colombia) e Vicente Fox (México), aos quais está intimamente
associada.
Entranhas mafiosas
Além das dimensões religiosa e política,
a Opus Dei tem uma terceira face: a de sociedade secreta de cunho
mafioso. Em seus estatutos secretos, redigidos em 1950 e publicados em
1986 pelo jornal italiano "L´Expresso", a Obra determina que "os membros
numerários e supernumerários saibam que devem observar sempre um
prudente silêncio sobre os nomes dos outros associados e que não deverão
revelar nunca a ninguém que eles próprios pertencem à Opus Dei."
Inimiga jurada da Maçonaria, ela copia sua estrutura fechada o que frequentemente serve para encobrir atos criminosos.
Entre os católicos, a Opus Dei é
conhecida como "Santa Máfia",Emilio J. Corbiere lembra os casos de
fraude e remessa ilegal de divisas nas empresas espanholas Matesa e
Rumasa, em 1969, onde parte dos activos desviados financiaram a
Universidade de Navarra. Bancos espanhóis são suspeitos de lavagem de
dinheiro do narcotráfico e da máfia russa. A Opus Dei também esteve
envolvida nos episódios de falência fraudulenta dos bancosComercial
(Uruguai, pertencente à família Peirano, dona de "El Observador") e de
Crédito Provincial (Argentina).
Na Argentina os responsáveis pelas
desnacionalizações da petrolífera YPF e das Aerolineas Argentinas,
compradas por empresas espanholas, em dois dos maiores escândalos de
corrupção da história do país, tiveram sua impunidade assegurada pela
Suprema Corte, onde pontificava António Boggiano, membro da Opus Dei.
No Brasil, as pretensões de controlo sobre o Judiciário esbarram no poder dos Maçons.
A Opus Dei controla, porém, o Tribunal
de Justiça de São Paulo através da manipulação de promoções. Segundo
fontes do meio jurídico paulista, de 25 a 40% dos juízes de primeira
instância no estado pertencem à organização - proporção que se repete
entre os promotores, no tribunal, a proporção sobe para 50 a 75%.
Recentemente, o tribunal, em julgamento
secreto, decidiu pelo arquivamento de denúncia contra Saulo Castro Abreu
Filho, braço direito de Geraldo Alckmin, acusado de organizar grupos de
extermínio desde a secretaria de Segurança, e contra dois juízes
acusados de participação na montagem desses grupos.
A fusão dos tribunais de Justiça e de
Alçada, determinada pela Emenda Constitucional n.º 45, foi uma medida da
equipe do ministro da Justiça, Mácio Thomaz Bastos, para reduzir o
poder da Obra no judiciário paulista, cuja orientação excessivamente
conservadora, principalmente em questões criminais e de família, é
motivo de alarme entre profissionais da área jurídica.
por Henrique Júdice Magalhães
Blog GeoSapiens leia Como a Obra faz sofrer a família
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