sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Esquerda internacional destaca legado de Niemeyer para socialismo 07/12/2012

Opera Mundi

Considerado revolucionário tanto por suas obras quanto militância, arquiteto é lembrado pela convicção nos ideais comunistas

O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer é caracterizado por muitos como um revolucionário não só pela inovação de seus projetos, mas também por sua orientação política, que acabou lhe obrigando a se exilar durante o regime militar. Defensor incansável dos ideais socialistas, sua morte aos 104 anos na noite desta quarta-feira (05/12) foi lamentada por movimentos e partidos de esquerda em diversos países.

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“Minha posição diante do mundo é de invariável revolta”, dizia Niemeyer que imprimiu o sonho de uma sociedade igualitária em linhas sinuosas e espaços vazios das suas 500 obras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Autor de importantes edifícios, como a sede das Nações Unidas em Nova York e os palácios do governo de Brasília, o arquiteto também projetou a sede do Partido Comunista Francês em Paris e a lápide de Carlos Mariguella em Salvador.

“Niemeyer foi coerente com suas ideias até o fim da vida. Ele não abdicou de seus ideais”, afirmou Ivan Pinheiro, secretário-geral do PCB (Partido Comunista Brasileiro), a Opera Mundi. Amigo íntimo de Luiz Carlos Prestes, o artista se juntou à organização em 1945 e continuou no grupo mesmo após a dissidência do PPS em 1992 como presidente de honra.

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“Nós o consideramos o nosso presidente de honra eterno”, acrescenta. Pinheiro lembra, no entanto, que não é apenas o PCB que está de luto: “todos os comunistas, socialistas, democratas e progressistas tiveram uma grande perda neste dia”. Não faltaram notas de pesares pelo falecimento do arquiteto, vencedor de diversos prêmios internacionais de arquitetura e consagrado nesta quinta (06/12) Cidadão Ilustre Post Mortem pelo Mercosul.

(Lápide de Carlos Mariguella com a frase "Não tive tempo para ter medo" foi projetada por Niemeyer"

Gênio brasileiro

Em nota, a presidente do Brasil, Dilma Rouseff, declarou que o artista “era um símbolo da esperança” e um “revolucionário”. “O Brasil perdeu hoje um dos seus gênios. É dia de chorar sua morte. É dia de saudar sua vida”, diz o texto.

O ex-presidente e líder político Luiz Inácio Lula da Silva também lamentou a morte de Niemeyer que apesar de ter criticado sua administração, sempre declarou apoio a sua candidatura e o cumprimentou por ter melhorado a vida dos brasileiros. “A monumental Brasília, onde deixou a marca de sua arte e concentrou seus sonhos de uma cidade que pudesse abrigar com carinho e conforto pobres e ricos, homens comuns e poderosos, será sempre a expressão máxima de sua genialidade e de sua generosidade”, afirma o texto.
Advogado da reforma agrária, o artista manteve sempre uma relação próxima com o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) que expressou “imenso orgulho de ter sido seu amigo e companheiro”.

“Niemeyer foi mais do que um arquiteto, foi um amante da vida  e um incansável defensor da igualdade entre todos os seres humanos”, diz o texto de pesar da organização. “Era comunista, não por doutrina. Mas porque acreditava que todos os seres humanos são iguais e que deveríamos ter as mesmas condições de vida”, acrescenta.

Exílio e obras na França

Em sua autobiografia lançada em 1998, o arquiteto lembra com carinho dos tempos de militância no Rio de Janeiro ainda enquanto o PCB estava na clandestinidade e nos difíceis anos da ditadura militar. Durante este período, o arquiteto encontrou dificuldade para aprovar projetos e decidiu se exilar, em 1966, na França. Nos dez anos em que permaneceu no país, desenhou a sede do PCF (Partido Comunista Francês, a casa de cultura de Havre – localizada num histórico ponto de encontro da esquerda europeia -, a bolsa de trabalho de Bobigny e a sede do jornal socialista L’Humanité em Saint-Denis.

Agência Efe (14/12/07)

Arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer em frente a um de seus desenhos, marcados pelos traços sinuosos, no Rio de Janeiro

“O Partido Comunista Francês perdeu um de seus camaradas mais fiéis; um de seus camaradas mais criativos, aquele que projetou a nossa sede em Paris”, lamentou Pierre Laurent, secretário nacional do PCF. “Ele é revolucionário de todos os pontos de vista, porque sempre ligou sua obra às suas convicções políticas”, declarou Obey Ament, diretor de América Latina e Caribe do PCF.

"Ele tinha uma relação privilegiada com a França, não somente porque construiu aqui vários edifícios cuja modernidade e originalidade têm um grande impacto nos visitantes, mas também porque morou aqui em exílio quando a ditadura reinava em seu país", declarou o presidente francês, François Hollande do PS (Partido Socialista).

Para o primeiro-ministro socialista Jean-Marc Ayrault, Oscar Niemeyer foi o "arquiteto do sonho concretizado e atravessou o século 20 com audácia, fulgurância e constância". "Membro do Partido Comunista, Oscar Niemeyer nunca renegou seus ideais, que o conduziram ao exílio na França, onde suas obras são um testemunho de seu engajamento", acrescenta.

O Partido Comunista de Portugal, onde o artista também deixou obras finalizadas, também lamentou sua morte. “Para os comunistas portugueses, a morte de Oscar Niemeyer significa a perda de um camarada, de um comunista que com a sua militância, o seu trabalho e a sua intervenção cívica e partidária, sempre procurou como afirmava ‘ser simples, criar um mundo igualitário para todos, olhar as pessoas com otimismo’”.

"Amigo da revolução cubana"

Ao longo das décadas, Niemeyer travou amizades com diversos líderes comunistas e socialistas ao redor do planeta, viajando constantemente à extinta União Soviética e a Cuba. "Nunca me calei. Nunca ocultei minha posição de comunista. É necessário protestar contra a miséria, as injustiças, as desigualdades. A arquitetura não muda a vida dos pobres. Para mudá-la, é preciso sair às ruas e protestar", disse ele aos 99 anos.

Em sua renúncia ao posto de presidente cubano, Fidel Castro citou o arquiteto: "Penso, como (o arquiteto brasileiro Oscar) Niemeyer, que se deve ser consequente até o final". Hoje (06/12), o jornal oficial Granma, porta-voz do governante Partido Comunista de Cuba, lembrou a amizade e lamentou a morte de Niemeyer, destacando sua "paixão pelos mais humildes, como revolucionário”.

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