quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Há 70 anos, Batalha de Stalingrado selava derrota do nazismo 31/01/2013


Estava encerrada a mais feroz, renhida e sangrenta batalha militar que a História da humanidade conheceu

Faz exatos 70 anos. Em 31 de janeiro de 1943, o marechal Friedrich Von Paulus, comandante do VI Exército alemão, comunicava sua capitulação incondicional ao general Vassili Chuikov, comandante do Exército Vermelho em Stalingrado. Os remanescentes do exército alemão renderam-se em 2 de fevereiro; 91 mil homens, entre eles 22 generais.

Estava encerrada a mais feroz, renhida e sangrenta batalha militar que a História da humanidade conheceu. A Batalha de Stalingrado quebrou a espinha dorsal da poderosa máquina de guerra nazista e do Terceiro Reich e provocou uma dramática guinada à Segunda Guerra Mundial.

Por causa dos soldados do Exército Vermelho, o mundo se livrou naquele momento do nazi-fascismo. Caso tivesse saído vitoriosa, a sombra da Alemanha nazista pairaria por muitas e muitas décadas sobre povos e nações, com todo o seu horror ideológico e racial.

Por volta de setembro de 1942, a soma das conquistas de Adolf Hitler era estarrecedora. O Mediterrâneo havia se tornado praticamente um lago do Eixo, com a Alemanha e a Itália dominando a maior parte da costa setentrional, desde a Espanha até a Turquia e a costa meridional da Tunísia até cerca de 100 quilômetros distante do rio Nilo.

As tropas da Wehrmacht mantinham guarda desde o cabo setentrional da Noruega, no Oceano Ártico, até o Egito; da ocidental Brest no Atlântico até a parte sul do rio Volga, às bordas da Ásia Central. Regimes fascistas pré-existentes e governos fantoches faziam o jogo do Reich nazista. França, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, Polônia, os Bálcãs, a Grécia e outras mais já haviam sido engolidas pelas Panzer Divisionen.


Hitler parecia estar em situação confortável. Os submarinos alemães estavam afundando 700 mil toneladas por mês de barcos britânicos e norte-americanos no Oceano Atlântico, mais do que se poderia substituir nos estaleiros navais dos Estados Unidos, Canadá e Escócia, então em franco progresso. Além disso, as tropas nazistas do 6º Exército do marechal Friedrich von Paulus haviam alcançado o Volga, exatamente ao norte de Stalingrado em 23 de agosto.

Dois dias antes, a suástica tinha sido hasteada no monte Elbruz, o ponto mais alto das montanhas do Cáucaso (5.642 metros). Os campos petrolíferos de Maikop, que produziam anualmente 2,5 milhões de toneladas de petróleo, haviam sido conquistados em 8 de agosto. No dia 25, os blindados do general Kleist chegaram a Mozdok, distante apenas 80 quilômetros do principal centro petrolífero soviético, nas imediações de Grozny e a cerca de 150 quilômetros do mar Cáspio.

Stalingrado

Então, em 31 de agosto, Hitler ordenou que o marechal-de-campo List, comandante dos exércitos do Cáucaso, reunisse todas as forças existentes para o assalto final a Grozny, a fim de se apoderar de todos os ricos campos petrolíferos da região. O líder alemão determinou que o 6º Exército e o 4º Exército Panzer se lançassem para o Norte, ao longo do Volga, cercando e sufocando Stalingrado, em um vasto movimento envolvente que lhe permitisse avançar de leste e de oeste contra o centro da Rússia, tomando, finalmente, Moscou.

Ao almirante Raeder, no final de agosto, Hitler disse que a União Soviética "era um 'lebensraum' (espaço vital), à prova de bloqueio" o que lhe ensejava voltar-se para os ingleses e norte-americanos, que "seriam obrigados a discutir os termos da paz". Com essas conquistas vitais, o "Reich de mil anos" estaria garantindo sua subsistência e permanência. Isso porque teriam controle das vastas estepes da Ucrânia, ubérrimas, a fazer brotar um infindável celeiro dourado de trigais e os abundantes campos de ouro negro a besuntar de energia a máquina bélica e industrial alemã.

Veja imagens da Batalha de Stalingrado:



As imagens mais longínquas de minha meninice datam dessa época. Lembro-me de meu pai, cercado de amigos, debruçados sobre um mapa da Europa estendido sobre a mesa, lupa em punho, rádio em ondas curtas. Esta mesma cena provavelmente estaria se repetindo em milhões de outros lares pelo mundo afora. Anos mais tarde, meu pai, um jovem revolucionário imbuído de ideais socialistas, que no começo dos anos 1930 tinha abandonado a Polônia de governo pró-nazi e anti-semita para vir ao Brasil, relatava a agonia e o horror com que acompanhavam a expansão irrefreável do império nazista.

Riscos do nazismo

Quando os cabogramas anunciaram que a infantaria alemã havia atravessado o Don silencioso em direção a Stalingrado, o assombro se instalou. E se a Alemanha nazista derrotasse a União Soviética?

A ideologia da supremacia racial ariana de Hitler se abateria sobre grande parte do mundo. Negros, eslavos, indígenas, árabes, mestiços, mulatos, amarelos, sub-raças e escória social, trabalhariam sob o tacão de ferro do nazismo, como semi-escravos, para a glória da raça superior. Povos inteiros, judeus, ciganos, seriam aniquilados em nome da limpeza étnica. Comunistas, socialistas e liberais seriam confinados em campos de concentração e de lá não sairiam vivos.

O colonialismo na África e Ásia ganharia alento. As liberdades seriam espezinhadas e governos lacaios em todos os quadrantes se encarregariam de organizar gestapos em cujos porões um elenco monstruoso de torturas ao som da Deutschland Über Alles seria levado a cabo contra os inimigos do regime. As conquistas sociais dos trabalhadores estariam esmagadas. O progresso, as artes, as ciências sofreriam abalo.

Além disso, Werner von Braun e seus assistentes em Penemunde teriam aperfeiçoando as mortíferas bombas voadoras de longo alcance com ogivas nucleares e outras máquinas bélicas de alta tecnologia a pender como espada de Dâmocles sobre qualquer país que ousasse desafiar o Reich alemão. E se alguma nação pretendesse enfrentar os interesses do Grande Império Germânico novas ondas de panzers ou de bombas V1 e V2 desencadeariam ‘blitzkriegs’ preventivas para aniquilar pelo terror qualquer tentativa.

Wikicommons
Assim, quando o jovem general Konstantin Rokossovsky (foto à esquerda), levando a cabo as instruções táticas da Operação Uranus ordenadas diretamente de Moscou e arquitetadas pelos generais Alexander Vasilievsky e Vasily Volsky, conseguiu romper, em 19 de novembro, o anel de aço que cercava Stalingrado, a esperança reacendeu.

No entanto, a cidade estava sitiada, os seguidos bombardeios da Luftwaffe haviam-na reduzido a escombros. Dia após dia o cerco se apertava.
No final de novembro, a zona urbana foi invadida e veio a ordem terminante: defender a todo custo as fábricas Outubro Vermelho e Barricadas, que produziam os carros de assalto, a Fábrica de Tratores que construía os blindados T-34 e a estação ferroviária central onde as matérias primas eram desembarcadas.

A Batalha

Iniciou-se então a mais feroz, a mais encarniçada, a mais renhida e sangrenta, a mais dramática das batalhas militares que a História da humanidade conheceu.
O terreno coberto de destroços impedia qualquer ação de blindados e a proximidade dos contendores tornava impraticável a cobertura aérea. Só restava calar baionetas e passar a travar a luta.

Casa a casa, corpo a corpo, em cada centímetro de chão a luta se dava. Para ilustrar a tenacidade com que se combatia, basta lembrar que a plataforma semidestruída da estação de trens mudou de mãos sete vezes em um único dia. Os operários da Outubro Vermelho empunharam armas e estabeleceram uma muralha de fogo em torno da fábrica. Jamais se havia visto tantas cenas de heroísmo, bravura e coragem, de lado a lado, naquele cenário lúgubre das ruínas da cidade. Nunca antes soldados haviam lutado com tanto denodo para conquistar e defender.

Em 30 de janeiro de 1943, décimo aniversário da subida de Hitler ao poder, o führer fazia uma solene proclamação pelo rádio: "Daqui a mil anos, os alemães falarão sobre a Batalha de Stalingrado com reverência e respeito, e se lembrarão que a despeito de tudo, a vitória final da Alemanha foi ali decidida".

Veja imagens feitas durante discurso de Hitler em 1943:


Três dias depois, em 2 de fevereiro, o marechal-de-campo Von Paulus assinava diante do general Vassili Chuikov, comandante das tropas do Exército Vermelho em Stalingrado, a rendição do 6º Exército alemão.

A transmissão da capitulação foi feita em Berlim, através da rádio alemã, pelo general Zeitzler, chefe do Alto Comando da Wehrmacht (OKW) precedida do rufar abafado de tambores e da execução do segundo movimento da Quinta Sinfonia de Beethoven.

A maior e a mais épica das batalhas da 2ª Guerra Mundial que tivera início em 26 de junho havia chegado ao fim. Foram feitos prisioneiros pelos soviéticos 94,5 mil soldados alemães dos quais 2,5 mil oficiais, 24 generais e o próprio marechal Von Paulus. Foram mortos cerca de 140 mil soldados da Wehrmacht e 200 mil homens do Exército Vermelho. Os soviéticos tomaram do exército inimigo 60 mil veículos, 1,5 mil blindados e seis mil canhões. A espinha dorsal do exército nazista e do Terceiro Reich estava irremediavelmente quebrada.

Celebração

Os mesmos milhões de lares que tinham vivido momentos de apreensão e pavor explodiram de emoção. Hitler havia mordido o pó da derrota. Corações e mentes voltaram-se para glorificar os heróis combatentes do Exército Vermelho e honrar os que tombaram no campo de batalha pela liberdade.

A admiração pela extraordinária façanha impunha a pergunta: o que levou aquele contingente de centenas de milhares de jovens a lutar com tal fúria e obstinação? Certamente, além do apelo da Grande Guerra Patriótica, por livrar o solo pátrio do invasor, havia outro ingrediente.

A leitura das lancinantes cartas aos familiares escritas no front deixava evidente a determinação de defender as conquistas da Revolução de Outubro, por cuja consolidação seus pais, 25 anos antes, haviam derramado sangue enfrentando e derrotando o exército branco e tropas invasoras de catorze 14 países mobilizados para sufocar no nascedouro a revolução bolchevique.

Logo após a vitória em Stalingrado, o Exército Vermelho arrancou impetuoso rumo à capital do Reich nazista, abrindo em sua passagem os portões macabros de Auschwitz-Birkenau. As tropas anglo-americanas desembarcam na Normandia em 6 de junho de 1944. No dia 2 de maio de 1945, soldados do destacamento avançado do general Ivan Koniev hasteiam a bandeira soviética no mastro principal do Reichstag.

Cinco dias depois, numa pequena escola de tijolos vermelhos em Reims, França, na madrugada de 8 de maio de 1945, o almirante Friedeburg e o general Jodl assinam, em nome do que restou da máquina de guerra nazista, diante do general Ivan Susloparov pela União Soviética, e do general Walter Bedell Smith pelos aliados, a rendição incondicional. Os canhões cessaram de troar e as bombas deixaram de cair. Um estranho silêncio pairou sobre o continente europeu pela primeira vez desde 1º de setembro de 1939. O mundo estava livre da sanha nazi-fascista.

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