Na noite de quarta-feira (30), o auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio, com capacidade para 600 lugares estava lotado e ainda havia gente pelos corredores, saguão, hall de entrada, e na calçada em frente ao prédio esperando uma oportunidade para entrar. A atração? O Ato Pela Anulação do Julgamento da Ação penal 470, o chamado "mensalão", promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Foto montagem: Brasil247
“Não vou me calar!”, exclamou o militante José Dirceu, ovacionado pelos presentes, no final do evento, feito em parceria com a Central Única de Trabalhadores (CUT). Alvo da Ação Penal 470, o processo conhecido como ‘mensalão’, ex-ministro-chefe da Casa Civil no governo Lula, deputado federal e ex-exilado político por combater a ditadura militar instaurada no país, em 1964, Dirceu definiu a decisão dos magistrados como uma “violência jurídica nunca vista”.
Altamiro Borges, presidente do Barão de Itararé e Secretário
Nacional da Questão da Mídia do PCdoB, a quantidade de pessoas
interessadas em acompanhar o debate é uma demonstração de que há uma
quantidade expressiva de brasileiros de setores expressivos da sociedade
que discordam do resultado do julgamento da Ação Penal.
"Tinha gente pendurada no prédio inteiro, até gente lá fora na calçada esperando para ver se conseguia entrar. Isso demonstra que há setores significativos da sociedade que discordam do resultado do julgamento da ação Penal 470, qualificando o mesmo como um julgamento político e, como disse o Raimundo [o jornalista Raimundo Pereira], 'medieval', feito em grande medida pela mídia", disse Altamiro Borges ao Vermelho.
Foi durante o evento que o jornalista Raimundo Pereira, editor-chefe da revista Retrato do Brasil e um dos integrantes da mesa, afirmou que se tratou de um julgamento “medieval”: "Foi medieval porque seguiu a dinâmica dos julgamentos no medievo, quando uma bruxa era torturada até a morte para que confessasse ser uma bruxa. Se morria sem confessar, ficava provado que era mesmo uma bruxa, pois nenhum ser humano normal poderia resistir a tamanha tortura sem confessar qualquer coisa. Se confessasse, morria na fogueira. Ou seja, a bruxa não tinha chance nenhuma".
Raimundo é uma das diversas figuras importantes que questionam o processo que condenou José Dirceu, o deputado José Genoino, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares e o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizolatto.
José Dirceu, ao iniciar o discurso, cumprimentou Altamiro Borges e concordou com o professor Adriano Pilatti, advogado e docente na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, também na mesa, que “apenas um milagre” impedirá que ele cumpra a pena imposta pelo Supremo. Porém, frisou que passar um novo período na prisão não será impeditivo de lutar com todas as suas forças para provar sua inocência no caso.
"Pode ser regime fechado, pode ser segurança máxima, pode ser solitária. Não vão me calar! Eu vou lutar!", afirmou o dirigente do PT.
Dirceu demonstrou sua indignação ao afirmar que “não há testemunhas e base na acusação de compra de votos” de congressistas e apontou uma possível manobra política na condução do julgamento. A realização das sessões durante o período eleitoral, afirmou, “foi falta de pudor”.
"O julgamento teve quatro meses e parou de julgar toda a sua pauta, por algo que era transmitido por TV aberta. Algo que não existe. Sendo assim, se transformou num julgamento de exceção. Mas, perdemos essa batalha. Foi a primeira derrota que tivemos desde 2002", disse.
O "Ato Pela Anulação do Julgamento do Mensalão" no Rio de Janeiro faz parte de uma programação que levará a atividade de solidariedade para diversas cidades em todo o país. Nesta quinta-feira, Dirceu seguiu para Belo Horizonte, em ato convocado em sua defesa.
"Eu optei por lutar, apesar do linchamento e da violência da imprensa. Vou percorrer todo o Brasil. É uma luta longa que só está começando", afirmou Dirceu.
Apoio emocionado
Presente ao “ato público em defesa da democracia, da verdade e da justiça”, a jornalista Hildegard Angel, emocionada, leu um depoimento que a plateia ouviu em silêncio e aplaudiu de pé:
“Venho, como cidadã, como jornalista, que há mais de 40 anos milita na imprensa de meu país, e como vítima direta do Estado Brasileiro em seu último período de exceção, quando me roubou três familiares, manifestar publicamente minha indignação e sobretudo minha decepção, meu constrangimento, meu desconforto, minha tristeza, perante o lamentável espetáculo que nosso Supremo Tribunal Federal ofereceu ao país e ao mundo, durante o julgamento da Ação Penal 470, apelidada de Mensalão, que eu pessoalmente chamo de Mentirão", iniciou a jornalista.
'Mentirão' já que os cálculos matemáticos demonstraram não haver correlação de datas entre os saques do dinheiro no caixa do Banco Rural com as votações em plenário das reformas da Previdência e Tributária, que aliás tiveram votação maciça dos partidos da oposição. "Mentirão, sim!", reforçou Hildegard Angel.
Da redação do Vermelho com agências
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