quinta-feira, 28 de março de 2013

Rússia, China, Estados Unidos: dialética do triângulo 28/03/2013

Voz da Rússia






china, rússia

EPA

A julgar pela reação de alguns políticos americanos e publicações em veículos de comunicação social, os Estados Unidos, com evidência, têm ciúmes da China em relação à Rússia. De fato, as relações das três potências formam um triângulo geopolítico, mas em nenhum caso amoroso.

Segundo se pode concluir de um artigo publicado na revista semanal The Nation (EUA), os Estados Unidos e a China competem nas tentativas de obter boas graças da Rússia. O autor da publicação destaca que a visita do novo líder da China a Moscou, que coincidiu com uma certa renovação do diálogo russo-americano na área da defesa antimíssil (ABM), diminui a influência de novos conservadores e de outros falcões com ânimos anti-russos no “establishment” político dos EUA. O mais conhecido “falcão” americano, Zbigniew Brzezinski, foi um dos primeiros a reagir à aproximação entre Moscou e Pequim. É muito mal que o presidente da China, Xi Jingpin, efetuou a sua primeira visita oficial estrangeira nomeadamente à Rússia, porque, na opinião de Brzezinski, a China deveria aspirar em primeiro lugar a uma cooperação mais estreita com os Estados Unidos.
Naturalmente, cada parte do triângulo condicional Moscou-Pequim-Washington parte em primeiro lugar dos seus próprios interesses políticos e econômicos. Assim, o volume anual das trocas comerciais entre a China e os Estados Unidos ronda 500 bilhões de dólares e é evidente que os dois países são ligados muito estreitamente nesta área. Ao mesmo tempo, a Rússia e os EUA não têm e, pelo visto, não terão nos próximos tempos uma cooperação econômico-comercial de envergadura. Por isso, a China é mais importante para a Rússia do que os Estados Unidos desde o ponto de vista dos interesses econômicos tradicionais de venda de recursos energéticos. Neste sentido, a Rússia está ligada à China como mercado emergente e à Europa que continua a ser seu parceiro principal.
Quanto aos lados políticos do triângulo, a intriga aqui é mais complicada. A reorientação do programa de ABM americano para o Extremo Oriente colocou a China junto da Rússia, porque Washington tampouco pede conselhos a Pequim acerca do desdobramento de sistemas adicionais de defesa antimíssil. Na opinião do economista Alexander Salitsky, as relações políticas entre a Rússia e China estão em ascenso. O fato de Moscou e Pequim terem começado a resolver mais depressa e mais eficientemente seus problemas bilaterais passou a ser evidente para muitos atores do palco internacional, inclusive para Washington.
Ao mesmo tempo, entre os políticos russos é corrente a opinião de que a Rússia, sem tentar conquistar amizade dos Estados Unidos, está perdendo muitas perspectivas. Mas os americanos não entendem a palavra “amizade”, diz Alexander Salitsky:
“Esta palavra não tem para eles qualquer precedente histórico. Quando, por exemplo, referimos a palavra ´amizade´ num tratado com a China, entende-se uma reminiscência histórica absolutamente clara, um estilo de relações absolutamente compreensível para ambas as partes. Alguns podem interpretá-lo como passado fora da moda, mas não é assim. Com os americanos, ao que tudo indica, o nível de relações deve ser definido num outro formato. Não é a melhor maneira de interagir com a Rússia, quando os nossos interesses na esfera da segurança não se respeitam abertamente e não se consideram como algo sério. A meu ver, a própria lógica das relações com a China obrigará mais cedo ou mais tarde os Estados Unidos a formar atitudes mais positiva em relação à Rússia”.
Os Estados Unidos têm a vontade de neutralizar a China, que eles mesmos fizeram ascender a altitudes brilhantes na economia e na política mundial, aponta Andrei Volodin, doutor em ciências históricas e dirigente do Centro de Pesquisas Orientalísticas da Academia Diplomática do MRE da Federação da Rússia:
“Os interesses dos americanos são bastante simples: voltar em primeiro lugar a um mundo unipolar, que eles perderam, a meu ver, após a intervenção no Iraque em 2003. A China, por sua vez, está interessada em utilizar a Rússia como um contrapeso dos Estados Unidos, que pretendem, na opinião de Pequim, cercar a China na Região Asiática do Pacífico. Esta é uma dialética complexa de relações e espero que a nossa diplomacia a leve em conta. É necessário evitar confrontos abertos com os Estados Unidos e, ao mesmo tempo, defender firmemente os nossos interesses, como acontece no caso da Síria. Quanto à Rússia e à China, trata-se de relações próximas de confiança. Mas são as relações de parceiros e não de aliados próximos. Há processos objetivos. Por isso consideramos elementos de rivalidade nas relações entre a China e os Estados Unidos como um fator favorável para a realização dos nossos interesses políticos externos”.
Contudo, tanto na composição do triângulo geopolítico, como fora dele, a principal e a mais próxima tarefa da Rússia consiste em garantir o seu próprio desenvolvimento econômico. Sem uma economia forte, a Rússia não poderá tornar-se um parceiro internacional de direitos iguais nem dentro de um triângulo, nem fazendo parte de outras configurações geopolíticas.

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