O Flávio Gomes foi mais a fundo. Olhem só
GIRA MONDO, GIRA
SÃO PAULO (não ofende) – Faz mais de uma
semana das bombas de Boston. Eu não pretendia escrever nada sobre isso,
porque esses campos de batalha virtuais têm-se tornado muito mais
cansativos e inúteis do que enriquecedores.
Mas OK, vamos travar mais uma. Porque depois de ver o que a imprensa
ocidental chamou de “multidão” na pequena Watertown gritando “USA! USA!”
à passagem dos furgões e caveirões da SWAT, dos Hummers do Exército,
das Forças Especiais, do Corpo de Paraquedistas e do Esquadrão
Anti-Bombas, me vi pensando em algumas coisas.
Qual a grande diferença entre aquela “multidão” e os norte-coreanos
que assistem aos desfiles militares em Pyongyang e choram a morte de
seus líderes? Entre a “multidão” de Watertown e os muçulmanos que bradam
seus fuzis e queimam bandeiras dos EUA quando se esfalfam de júbilo
diante de uma embaixada estourada por um carro-bomba?
Eu digo qual é. As camisetas Hollister da “multidão” de Watertown e seus by Browse to Save" href="http://flaviogomes.warmup.com.br/2013/04/gira-mondo-gira-48/#">iPhones gravando tudo para logo depois pingarem os vídeos no YouTube. Os iPhones são os fuzis.
Acompanhei o noticiário nos últimos dias quase que exclusivamente
pelos canais americanos de notícias. É espantoso como a imprensa de lá
(não, não é a imprensa venezuelana) tem seu by Browse to Save" href="http://flaviogomes.warmup.com.br/2013/04/gira-mondo-gira-48/#">trabalho
controlado pelas autoridades, que empurra suas versões oficiais e não
abre sequer a possibilidade de serem feitas algumas perguntas. Ninguém
contesta nada. O que as autoridades dizem é a verdade. Ponto.
Pois eu faria várias perguntas. Oito dias depois, ainda as tenho e
não vi nenhuma delas respondida. Posso ter perdido alguma coisa, e se
vocês tiverem respostas, digam aí quais são. Mas cuidado com as fontes.
Tendo a não acreditar em quase nada que vem de lá. Mas como a torrente
de informações e “informações” é permanente, pode ser, sim, que tenha
perdido algo crível.
O que ainda não sei, pois:
1. Onde está a tal SUV Mercedes que teria sido roubada pelos garotos
da Chechênia? Quem é seu proprietário? Alguém falou com ele? Os meninos
disseram ao dono, realmente, que eram os responsáveis pelas bombas? A
troco de quê diriam isso? Numa cidade/região monitorada por câmeras a
cada esquina, por que não apareceu nenhuma imagem desse carro sendo
conduzido pelas ruas em fuga?
2. Os dois garotos, segundo as autoridades, foram perseguidos pela
polícia. Houve tiroteio e granadas lançadas. Outras bombas atiradas.
Sabemos o contingente que a polícia americana desloca para qualquer
ocorrência. Como é que o menino de 19 anos conseguiu fugir ao cerco? A
pé? Como assim? Se escondeu onde? Como é possível demorar tanto para
encontrar um garoto de 19 anos que estava cercado pela polícia?
3. O que é que os meninos chechenos estavam fazendo no MIT na noite
de quinta-feira? Por que é que não fugiram da cidade depois de
explodirem as bombas? Terroristas de verdade ficariam batendo perna pela
cidade onde cometeram seus atentados por qual motivo? Há alguma
explicação para isso? Se você explodisse uma bomba nos EUA ficaria na
cidade? Não teria um plano de fuga? Não sumiria? Por que atiraram num
policial no campus? Não há imagens desse confronto no campus da
universidade, monitorado por câmeras em todos os cantos?
4. Falaram, no início, que os meninos assaltaram uma loja de
conveniência. Depois, que não houve assalto algum, e que foram apenas
vistos na tal loja num posto de gasolina. O que aconteceu de verdade,
afinal? Como é que aquelas imagens surgiram tão rápido, logo depois de
serem divulgadas as fotos dos suspeitos?
5. Os meninos moravam, segundo as autoridades, num pequeno
apartamento em Cambridge. O que foi encontrado lá? A Globo, domingo,
mandou um repórter ao prédio. O cara subiu as escadas e chegou à porta
do suposto apartamento. Que estava fechado apenas com um cadeado. Como
assim? A residência de dois perigosos terroristas não está isolada, não
tem nem um agente na porta, não tem uma fita daquelas onde se lê “crime
scene”? Qualquer um vai lá, sobe e dá uma olhada? Ninguém impede?
6. A família chechena foi para os EUA há uns dez anos. Os pais
voltaram para a Rússia há um ano, é isso? Assim, do nada? Largaram os
meninos lá? E eles viviam de quê? Trabalhavam? Recebiam dinheiro do
governo?
7. O Suspeito #1 tinha esposa e filhos. Onde está essa moça? É americana? E os filhos? Alguém falou com ela? Onde vive?
8. No dia das explosões, as autoridades (e a imprensa) informaram que
outras bombas foram encontradas e desarmadas. Onde? Quantas? Estavam
nas mesmas mochilas? Havia outras mochilas? Eles foram filmados
carregando várias mochilas? Há vídeos nos locais dessas supostas bombas
que mostram os suspeitos passando por lá? Os meninos passaram a manhã
espalhando mochilas pela cidade, é isso?
9. O que aconteceu exatamente na biblioteca JFK? Ninguém mais fala dela? Primeiro, era uma bomba. Depois, não era mais. E então?
10. Acharam o Suspeito #2 escondido dentro de um barco. Rendido e
ferido, de acordo com as autoridades. Todo ensanguentado. E o que foi
aquele tiroteio todo? Se ele estava tão ferido, como reagiu? Atiraram em
quê, afinal? Há perfurações de bala no barco? O menino estava armado
com quê? Com tudo aquilo de tiro, como é que ele não morreu? Ficou
ferido bem na garganta? Porque assim não consegue falar?
11. Há imagens de um cidadão sendo preso pelado, em plena saúde. No
início, tinha sido identificado como o Suspeito #1. Depois disseram que
não era ele. Quem era o peladão, afinal? Desapareceu? Era ele o Suspeito
#1? Foi preso inteiro e depois morreu? Não está faltando alguma
explicação aí?
12. Como morreu o Suspeito #1? As fotos que circulam na internet são
reais, do corpo ferido e arrebentado? Ele foi atropelado pelo irmão? Foi
baleado? Reagiu aos tiros com quais armas? Tinha granadas e bombas?
Onde estão elas? Alguém na vizinhança viu esse embate?
13. Por que ninguém do governo americano se manifestou sobre a cada
vez mais documentada presença de agentes da Craft, uma empresa privada
de segurança formada por ex-militares e mercenários, na cena das
explosões? O que aqueles caras todos estavam fazendo lá? As fotos são falsas? Se são, por que ninguém vem a público para negar sua veracidade?
14. Os garotos chechenos são tratados quase o tempo todo como
“suspeitos”. Se são suspeitos, é porque não existe certeza de que
cometeram os atentados. Certo? Mas no dia da prisão do segundo menino, o
presidente dos EUA e as autoridades policiais afirmaram em cadeia
nacional que “acabou” e que a população de Boston e arredores podia
dormir tranquila. “Pegamos eles.” Se acabou, é porque as autoridades não
consideram a hipótese de terem sido outros os autores dos atentados,
concordam? Sendo assim, eles não são suspeitos. São culpados. Culpados
sem uma investigação? De onde vem a certeza de que os suspeitos não são
suspeitos, mas sim os culpados? Do fato de que foram fotografados
carregando mochilas? Todos que carregavam mochilas em Boston naquele
feriado, assim, deveriam ser suspeitos, não?
15. Em quais condições o Suspeito #2 foi preso, realmente? Como foi
ferido? Se está em estado grave, como é que consegue responder “por
escrito” às perguntas do FBI? Quem está acompanhando esses
interrogatórios? Qual certeza se tem de que o menino está de fato
respondendo alguma coisa? Alguém vai ter acesso a essas respostas “por
escrito”? Alguém vai ter acesso a esse rapaz um dia? Ele vai poder falar
sem ser aos interrogadores do FBI? Cadê a liberdade de imprensa, com
tanta coisa escondida pelas autoridades?
Como não tenho resposta para pergunta nenhuma, tudo que posso dizer é
que é tudo muito esquisito. Um dos casos mais esquisitos de todos os
tempos, e não sou só eu quem pensa assim. Em termos menos, digamos,
eloquentes, o colunista Clóvis Rossi levanta algumas questões na “Folha” de hoje, também.
Só sei que depois de Boston ninguém mais fala das ameaças de guerra
nuclear que a Coreia do Norte estaria preparando para dar cabo ao
planeta. E surge não se sabe bem de onde a notícia de que os generosos
americanos estão dispostos a mandar alimentos para
os famélicos norte-coreanos — que, sabe-se lá por quê, são considerados
famélicos pelo Ocidente; mas, até onde se sabe, não estão pedindo
comida para ninguém. E o Congresso americano começa a ser pressionado
pela mídia conservadora para mexer nas leis de imigração.
É um mundo muito esquisito, o nosso. A única certeza é que ele gira.
http://flaviogomes.warmup.com.br/2013/04/gira-mondo-gira-48/
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