21/2/2013, Thierry Meyssan, Red Voltaire
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Thierry Meyssan |
A
democracia iraniana está viva e vibrante. As divisões de 2009 já são passado, a
tal ponto que até o presidente Obama teve de admitir publicamente que Mahmoud
Ahmadinejad foi eleito em eleições legítimas e limpas, pela maioria dos
iranianos. O movimento Verde uniu-se à burguesia urbana, e parte da “juventude”
já amadureceu.
Hoje,
Washington já não acalenta qualquer esperança de derrubar o regime; então,
trabalha para dividi-lo. Os EUA bem que gostariam de extrair algum lucro da
atual crise entre a corrente religiosa do clã Larijani e a corrente nacionalista
da família Ahmadinejad.
A
aliança histórica entre as correntes religiosa e nacionalista está abalada pelo
fraco desempenho de Ali Larijani nas pesquisas eleitorais e pela avassaladora
popularidade de Ahmadinejad. Com as eleições de junho já batendo à porta, a
crise acabou por vir a público.
Ali Larijani e Mahmoud Ahmadinejad lado a lado no Parlamento iraniano |
A
quatro meses das eleições no Irã, ainda não se sabe quem será o candidato que
substituirá o carismático Mahmoud Ahmadinejad para os próximos quatro anos. A
Constituição proíbe um 3º mandato para Ahmadinejad, mas ele pode manter-se
próximo ao poder e pode voltar nas eleições seguintes, como fez Vladimir Putin.
Em
2009, os protestos varreram Teerã e Isfahan: apoiadores do candidato liberal
acusavam as autoridades de ter manipulado os resultados das eleições. Esse
movimento rapidamente perdeu fôlego, mas deixou feridas profundas no movimento
da juventude. O qual foi afinal calado depois de uma massiva demonstração de
apoio às instituições da Revolução Islâmica. Os próprios iranianos teriam sido
convencidos pelos vencidos? Inúmeras vozes argumentaram que as instituições
estimularam os tumultos.
Hussein Moussaoui |
A
juventude não conhecia o programa de Moussaoui e ignorava completamente que ele
promovia o capitalismo global e alinhava-se a ele. Erradamente, os jovens
supunham que Moussaoui representasse a moral social liberal. Sem perceber,
haviam sido persuadidos de que tinham de escolher entre “liberdades individuais”
e “o regime”. E os jovens desapareceram das cerimônias nacionais.
Surpreendidas
pela violência do protesto, as autoridades foram lentas em responder.
Primeiro,
houve uma defesa pela mídia. Por exemplo: um grupo de especialistas analisou
quadro a quadro o famoso vídeo do jovem Neda, apresentado como morto por forças
de segurança durante uma manifestação antirregime. Concluíram que o vídeo havia
sido forjado. Depois se organizaram grupos de discussão, mediados por
instrutores adultos que iniciaram os jovens na compreensão do pensamento dos
revolucionários iranianos mais velhos. Todos esses esforços deram fruto, e hoje
se vê outra vez forte participação dos iranianos com menos de 30 anos nas
recentes cerimônias nacionais oficiais.
Washington,
por sua vez, não poupou esforços para semear a cizânia na sociedade iraniana e
trabalhou para acentuar os conflitos generacionais.
Foram
criadas mais de uma centena de estações de televisão por satélite, em farsi,
para inundar o país com propaganda do “Sonho Norte-americano”. Conseguiram
distrair a atenção dos iranianos e afastá-los de suas redes locais e nacionais,
mas, no geral, não há sinais de que tenham seduzido a população que vota.
No
momento em que tantos se preparavam para mais uma tentativa de “revolução
colorida” e “mudança de regime”, a surpresa veio da coalizão governante.
A
confrontação clássica entre as facções religiosa e nacionalista endureceu e,
afinal, explodiu numa cena pública.
Aiatolá Ali Khamenei |
O
presidente da República, Mahmoud Ahmadinejad, e o presidente do Parlamento, Ali
Larijani, puseram-se a acusar-se mutuamente de proteger assessores corruptos. As
redes ocidentais em farsi exibiram imagens dos bate-bocas. Apesar das exortações
à calma e ao bom-senso, o Supremo Líder, Aiatolá Ali Khamenei não consegue
acalmar os protagonistas.
Além
do mais, Ahmadinejad conta com apoio popular massivo em todo o país, exceto,
paradoxalmente, em Teerã, cidade da qual foi prefeito. A rápida industrialização
do país, programas recentes de redistribuição dos lucros do petróleo, pagos
mensalmente a todos os cidadãos adultos, e a construção de moradias por todo o
país vendidas a preços subsidiados, conquistaram os votos de trabalhadores
urbanos e da agricultura.
Ahmadinejad,
que sente que seu candidato será eleito por ampla margem de votos, não hesita em
desafiar a oposição mais religiosa, e mostra que, se dependesse dele, as
exigências dos jovens seriam atendidas. Permitiu-se inclusive celebrar uma “Miss
hijab”, para poder criticar mais livremente a lei que torna obrigatório o
uso do véu.
Sadeq Larijani |
Ali
Larijani e seu irmão Sadeq (presidente do Judiciário) estão forçados a constatar
que o candidato rival está avançando no trabalho de promover a candidatura do
chefe de gabinete de Ahmadinejad, Rahim Mashaei Esfendiar. Esfendiar dedica-se a
reescrever discursos oficiais, trocando as referências religiosas por
referências mais universais, não tão exclusivamente xiitas.
Os
religiosos temem que essa flexibilização abra a porta para o declínio do Islã.
Responderam espalhando boatos de que a família Ahmadinejad perdeu a cabeça; que
se creem em contato direto com o Parlamento e, enquanto esperam, tenham garantir
lugar, reservando para eles mesmos uma cadeira no Conselho de Ministros.
Para
acalmar as coisas e preservar a unidade da Revolução, o Supremo Líder pode
exigir que o grupo Ahmadinejad indique candidato menos divisionista e
polarizador que Mashaei.
A
imprensa-empresa ocidental está em surto de esquizofrenia.
Enquanto
as redes em farsi só falam dessa confrontação, as redes europeias não publicam
uma linha sobre o caso. Só fazem continuar a induzir os públicos a crerem que o
Irã seria uma ditadura monolítica comandada por mulás.
Os
jovens, que tomaram as ruas contra “o regime” em 2009, já são hoje aplicados
apoiadores de Ahmadinejad e muito provavelmente votarão no candidato que
Ahmadinejad indique, em junho.
Os
jovens iranianos acreditam que, com Ahmadinejad (e seu candidato às próximas
eleições), a Revolução Islâmica conseguirá conciliar a libertação nacional e o
respeito pelas liberdades individuais.
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