Do Opera Mundi
Correia da desinformação gira velozmente na Web, aproveitando marcas de protesto em outras partes do mundo
“O que eu fiz foi uma tentativa de sujar o governo brasileiro no
mundo, exatamente como o vídeo diz.” Assim definiu Thismr Maia,
pseudônimo de Silvio Roberto Maia Junior, porta-voz do movimento Change
Brazil, o objetivo dos vídeos que postou na Web, segundo o site Direto da Aldeia.
Nascido em 14 de junho, no momento em que uma onda de manifestações
eclodiu no país, o movimento vocalizou por meio de vídeos de Maia
pedindo – em inglês – um pedido de “ajuda” internacional.
No vídeo, que já tem mais de um milhão de acessos no YouTube, Maia
fala da repressão sofrida por manifestantes em 13 de junho. Nesse dia, a
polícia militar, controlada pelo governador de São Paulo Geraldo
Alckmin (PSDB), reprimiu com bombas de gás lacrimogêneo e balas de
borracha o protesto, ferindo também jornalistas.
Boa parte da mídia, que anteriormente havia criminalizado os
protestos – especialmente por meio de editoriais raivosos pedindo a
“retomada da Paulista” –, mudou completamente o tom e passou a defender o
movimento Passe Livre.
Ali, naquele momento, nascia também o Change Brazil, ou
#changebrazil. Nas redes sociais, pipocou um vídeo, em inglês, com
legendas em inglês, que se intitulava “Please Help Us” (Por favor, nos
ajude). Em um estúdio bem iluminado, em gravação de qualidade
profissional, Maia começa falando sobre o aumento da tarifa de ônibus e
imediatamente cita os levantes populares na Turquia e na Síria –
“espontâneos”.
De fato, o caso turco foi rapidamente comparado ao brasileiro pela
mídia brasileira e internacional, que apontou como o denominador comum o
caos das grandes metrópoles. Manifestantes aqui e lá trocaram afagos,
com brasileiros levando aos protestos bandeiras da Turquia e vice-versa.
O premiê turco, Tayyip Erdogan, porém, avalia que não se trata de uma
coincidência e que os dois países são alvo, na verdade, de conspiração
internacional. Não está claro que haja uma articulação externa, mas a
correia da desinformação gira velozmente na Web.
O Anonymous Brasil, um perfil que, como o próprio nome indica,
preserva a identidade de quem o dirige, precisou desmentir que tinha
publicado um vídeo que também teve mais de um milhão de visitas, que
elencaria cinco bandeiras do movimento que segue nas ruas. Entre os
perfis que espalharam este vídeo, um deles, talvez o mais acessado, é
assinado por “Dilma Bolada” — ao que tudo indica, um perfil no You Tube
falso que se aproveita da popularidade da personagem, essencialmente
pró-governo, do Facebook.
Falando rápido, Maia critica a mídia, pedindo que o espectador tenha
em mente que a “verdade” sobre os protestos não será reportada nem no
Brasil nem no exterior. Por isso a “boa ação” do vídeo. Ainda antes de
completar um minuto de fala – o vídeo tem mais de cinco minutos –, Maia
já condena a classe política brasileira e aponta que a motivação dos
manifestantes é justamente um rechaço contra a roubalheira e má fé,
generalizadas. Ele não menciona nomes de partidos ou políticos.
Nos protestos seguintes, coincidentemente, muitos gritos eram
direcionados exatamente contra os políticos, vários pedindo o
impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em 17 de junho, a matriz foi
repetida pelos apresentadores de telejornais, enquanto as imagens da
multidão espalhada pelas ruas das principais cidades brasileiras eram
transmitidas ao vivo. Alguns jornalistas, enquanto narravam “o despertar
do Brasil”, se emocionaram. Poucos dias antes, os mesmos reclamavam do
trânsito provocado pelos protestos do Passe Livre e chegavam a chamar
alguns manifestantes de “vândalos”.
No dia seguinte, os principais jornais, como Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo,
seguiram disseminando o “basta” escutado nas ruas brasileiras. Não
demorou para o espírito do Change Brazil se espalhar. Mais tarde, na
quinta-feira passada, membros de partidos de esquerda foram agredidos na
Avenida Paulista.
Organizada pelo Passe Livre para comemorar a redução da tarifa, a
manifestação logo perdeu o intuito inicial. “Sem partido” e “Aqui é
Brasil” eram as consignas tanto dos agressores como do resto dos
manifestantes, muitos enrolados na bandeira nacional, com pinturas em
verde e amarelo no rosto.
Também se ouviu “Quem não pula quer a Dilma”, adaptado do protesto
pelo aumento da passagem do transporte público, “Quem não pula quer
tarifa”. Com o aumento da violência nos protestos, cada dia mais
numerosos, a presidente se dirigiu à nação em cadeia de rádio e TV, onde
deixou claro seu respeito aos manifestantes pacíficos. Ela também se
disse disposta a analisar todas as demandas apresentadas nas ruas. “Eu
estou escutando vocês”, sublinhou Dilma.
Maia comemora o êxito.
“Essa tática sempre funcionou bem historicamente. Como também diz no
vídeo, a Dilma não pode deixar o Brasil ficar feio no mundo agora. Eu só
queria trazer a atenção mundial para o Brasil, e junto com a
companheira que não conheço, do vídeo ”No, I’m not going to the world
cup”, tenho orgulho de dizer que conseguimos. Agora, com pressão
internacional, a Dilma e companhia são mais obrigados a nos ouvir”,
comemora o brasileiro, em entrevista dada ao Aldeia.
Ainda segundo ele, “historicamente, pressão mundial tem se provado
extremamente eficaz em relação a mudar governos opressores. Recentemente
pedi para pessoas mandarem outro vídeo nosso para organizações
humanitárias, e agora fiquei sabendo que a Greenpeace tem se pronunciado
sobre o que está acontecendo aqui também”.
Após celebrar a grande adesão ao movimento, Maia lança a chantagem:
“se a Dilma quer que sua administração seja vista favoravelmente, ela
terá que nos ouvir”.
Uma visita à página no Facebook do porta-voz do Change Brazil nos
revela ainda mais sobre esse curioso personagem, que sublinhou na
entrevista ser contra governos repressores. A foto acima simula Maia
levando um tiro na cabeça de uma arma – desenhada na parede com as cores
da bandeira dos Estados Unidos. Os “miolos” também estão pintados nas
cores azul e vermelha.
No resto da página, mais fotos de armas, com mensagens apoiando o
porte civil. “Quando eu falei ‘o Brasil terá que se dobrar’, é óbvio que
eu me referia ao governo brasileiro, né. Pelo amor de deus, gente”,
justifica o porta-voz do Change Brazil.
PS do Viomundo: Também no Direto da Aldeia,
ele esclareceu que “resido na cidade de Joinville, Santa Catarina.
Tenho 28 anos, sou professor de ingles. Morei nos Estados Unidos por 13
anos, desde os 10 até os 23. Fiz algumas faculdades lá, e voltei pra cá á
uns 5 anos atrás. Tenho também um canal de Youtube chamado Mr. Maia, no
qual ensino ingles”.
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