Publicado
em 28/07/2013 por [*] Mário Augusto Jakobskind
Enquanto
o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, reconhecia a responsabilidade do
Estado por violações dos direitos humanos e infrações ao Direito Internacional
Humanitário no prolongado conflito armado naquele país, informação pouco
divulgada por aqui, no Rio de Janeiro ocorreu um fato extremamente
grave.
Na
edição da quarta-feira (25) do jornal O
Globo, o repórter Antônio Werneck assinava matéria mentirosa, com chamada de
primeira página, revelando que “agente da ABIN foi preso em protesto” e com o
complemento de sustentação “vândalo chapa-branca”. O jornal da família Marinho,
numa demonstração de baixo jornalismo “informava” sobre a prisão do geógrafo e
agente da ABIN, Igor Pouchain Matela junto com a mulher, Carla
Hirt.
Mentira
grosseira. Carla Hirt foi presa quando fugia da truculência policial sendo
agredida, depois de ser ferida por balas de borracha, não tendo jogado pedras em
lugar nenhum. O marido, que não estava com ela, foi até a 14a. Delegacia
Policial, no Leblon, ao ser avisado pela própria mulher da prisão e agressão por
parte de um tenente da PM.
Portanto,
ai se esclarece a primeira mentira que tem por visível objetivo induzir o leitor
a incriminar a ABIN, desviando a atenção do principal, ou seja, de que a PM de
Sergio Cabral infiltra agentes P2 nas manifestações, não propriamente para
observar, como alegam as autoridades, mas para provocar tumulto. Vídeos postados
nas redes sociais não deixam dúvidas.
Carla
foi acusada de formação de quadrilha e ter jogado pedras numa agência bancária.
Ela foi presa na rua Redentor e a PM notificou que a prisão ocorreu na Visconde
de Pirajá. Portanto, uma nova mentira, como várias outras encontradas na matéria
do repórter Antônio Werneck. A indicação da Visconde de Pirajá foi para mostrar
que ela estava no centro dos acontecimentos no momento da prisão. Se fosse
colocada a rua exata ficaria demonstrado que Carla foi presa fora do local onde
a PM agia com truculência, por orientação do trio Sérgio Cabral, José Mariano
Beltrame e Coronel Enir Costa Filho, comandante da PM.
Que
quadrilha os presos poderiam ter formado se nenhum deles se conhecia? Antes da
matéria ter sido divulgada, Carla Hirt deu entrada com uma ação no Ministério
Público informando ter sido vítima da truculência policial, agredida e baleada,
além de acusada falsamente de formação de quadrilha.
Fonte
não revelada - Mas o
que também chama a atenção da matéria é o fato dela ter sido divulgada uma
semana após os acontecimentos ocorridos na manifestação que começou nas
imediações do prédio onde reside o Governador Sérgio Cabral, no bairro do
Leblon, dia 18 de julho. Aí que mora também o perigo. A fonte da informação
sobre a falsa prisão do agente da ABIN, não citada pelo repórter de O Globo, foi
o ex-deputado Marcelo Itagiba, do PSDB.
Itagiba
não é flor que se cheire, tendo sido citado numa Comissão Parlamentar de
Inquérito da Assembleia Legislativa fluminense sobre a ação das milícias como
elemento vinculado a esse grupo criminoso que atua com ramificações no aparelho
de Estado. Uma pergunta que não quer calar: quem informou Itagiba sobre a
ocorrência na delegacia do Leblon? E por que Antônio Werneck não revelou a fonte
da sua mentirosa matéria e fez questão de contatar o ex-deputado? Ele é fonte de
O Globo?
Baixo
jornalismo
- Mas se
os leitores imaginam que o baixo jornalismo do jornal se limitou ao que foi
mencionado até agora, engana-se. Tem mais. A própria matéria desdiz a chamada de
primeira página ao revelar no meio do texto que o agente foi autuado por
desacato quando chegou à delegacia. Então, por que ter colocado com chamada de
primeira página a mentira de que o agente da ABIN foi preso no protesto? E por
que dar ênfase ao “desacato” e relegar a plano secundário a agressão sofrida por
Carla Hirt e também colocá-la no texto como agente da
ABIN?
Como
Igor Matela havia mandado uma carta ao jornal O Globo negando o desacato e
informando que ele e Carla Hirt eram alunos do Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o
repórter Antônio Werneck procurou o professor Carlos Wainer, titular do referido
instituto, perguntando se “o senhor gostaria de comentar o caso?” e se ”conhecia
o casal?”.
Vainer
respondeu, mas o que disse não foi divulgado pelo jornal:
Carla
é geógrafa, professora, brilhante estudante de doutorado em Planejamento Urbano
e Regional. Digna e íntegra, como os milhões de jovens que têm ido às ruas
manifestar sua inconformidade com a situação do país. Orgulho-me de ser seu
professor. No Rio de Janeiro, o direito de manifestação vem sendo violado por
uma polícia inepta, brutal e, como agora se sabe, capaz de forjar autuações
fraudulentas para criminalizar manifestantes. Sob pretexto de manter a ordem, a
polícia instaura o terror a cada nova manifestação pública. É necessário
investigar e punir policiais e autoridades que promovem ou acobertam essas
violências. Ouvir a mensagem das ruas, recomendou a Presidente Dilma. Querem, no
entanto, calá-la.
Igor
Matela garante também que em momento algum deu uma carteirada como agente da
ABIN, como insinua O Globo. Ao ser
enquadrado, a delegada naquele momento, Flávia Monteiro, pediu seus documentos e
que revelasse a profissão. Mostrou então a carteira de motorista e disse ser
funcionário público. A delegada insistiu perguntando em que repartição,
mencionando então a ABIN. Igor ingressou na ABIN por
concurso.
Em
suma, como tem acontecido nos últimos tempos, O Globo deu mais uma prova de baixo
jornalismo, que precisa ser denunciado em todos os fóruns, sobretudo nas escolas
de comunicação onde são formados os futuros repórteres que ocuparão as
redações.
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[*] Mário Augusto
Jakobskind é
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do
Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da
Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor,
entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE.
Enviado por Direto da Redação
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