domingo, 13 de dezembro de 2015

Como os EUA e a UE manipulam a consciência pública – O caso de Montenegro 13/12/2015



por Ion Todescu



Trabalhei neste texto durante longo tempo, coleccionando meticulosamente bocados de informação peça por peça a fim de apresentar um quadro abrangente.

É bem sabido que os EUA utilizam uma rede complexa de organizações não governamentais para manipular a consciência pública em múltiplos países por todo o mundo. As ONGs também desempenham um papel chave na preparação de revoluções coloridas.

Nestes últimos meses acompanhei de perto os acontecimentos no Montenegro, um pequeno país apreensivo quanto aos esforços que fazem os seus "parceiros" da NATO para integrar aquele estado balcânico na aliança. Bem, ficará muito surpreendido ao descobrir a escala desses esforços.

Seria insuficiente dizer que uma rede de organizações controladas do estrangeiro está activa no Montenegro. Não se trata apenas de uma rede, é um sistema por si próprio, uma "rede de redes".

Este esquema ilustra a ligações estruturais entre os agentes de influência que tentam manipular e lavar os cérebros dos cidadãos montenegrinos:



Como pode ver, estruturas governamentais, ONGs, media e entidades comerciais estão envolvidas no processo contra natura de puxar o Montenegro para dentro da NATO.

O processo é coordenado pelo Congresso dos EUA e pelo Departamento de Estado através da USAID, NED, NDI, Open Society Foundation, companhias consultoras Orion Strategies e RIF Group, enquanto a NATO utiliza a sua Divisão de Diplomacia Pública e os países europeus actuam através das suas embaixadas.

O organismo coordenador sobre o terreno é representado pelo Conselho para o Ingresso na NATO do Parlamento com o conselheiro do primeiro-ministro para Assuntos Estrangeiros, Vesko Garcevic, como Coordenador Nacional para a NATO.

O Conselho estabeleceu um grupo de comunicação de 12 membros directamente responsável por criar apoio público do Montenegro para o acesso à NATO. Os membros chave são os seguintes:

-Olivera Dukanovic, coordenador de relações com os media
-Ana Dragic, administrador do sector ONGs
-Valentina Radulovic Scepanovic, administrador de partidos políticos e administração local

O grupo de comunicação assinou um memorando com mais de 60 ONGs montenegrinas para impulsionar suas iniciativas e criar ferramentas para manipular a opinião pública. Portanto, criou uma rede em grande escala e em desenvolvimento constante. Ele continua a atrair novos membros e a constituir unidades para atingir as mentes do público montenegrino a partir de múltiplos ângulos sob a cobertura de actividades sociais. Isto resultou numa complexa estrutura hierárquica com grandes ONGs a distribuírem tarefas entre organizações mais pequenas.

Eis as maiores ONGs no Montenegro:

-Network for Affirmation of the NGO Sector (MANS), director executivo Vanja Calovic
-Atlantic Council of Montenegro, presidente Savo Kentera
-Youth Atlantic Treaty Association (YATA) in Montenegro, presidente Vladan Balaban
-Center for Democratic Transition, director executivo Dragan Koprivica
-Center for Monitoring and Research
-Alfa Center
-Foundation for the Development of Northern Montenegro

Naturalmente, nenhuma campanha de informação pode ter êxito sem os media. A cada dia as cabeças dos montenegrinos são lavadas a fundo com programas de entrevistas, vídeos promocionais, artigos de jornais e mensagens na net advogando a ideia da adesão à NATO.

A opinião pública é trapaceada pelos canais nacionais de TV, TVCG 1 e TVCG 2, Pink Media Group, TV Vijesti, Prva crnogorska televizija, MBC, RTV Atlas, NTV Montena; pelos jornais Dan, Vijesti, Pobjeda, Dnevne Novine, Blic Montenegro, Informer; pelos sítios web de notícias Cafe Del Montenegro, Vijesti, Radio and Television of Montenegro, etc.

Mensalmente, o conjunto dos canais de TV apresenta 15 a 25 programas de apoio à NATO e o conjunto de todos os jornais publicam não menos do que 40-50 editoriais por mês.

O dinheiro vem das embaixadas dos EUA e de países europeus (especificamente do Reino Unido, Holanda e Noruega), USAID, NED, NDI, Konrad Adenauer Foundation, Marshall Foundation, Rockefeller Foundation, Open Society Foundation, Balkan Trust for Democracy, ONGs globais tais como Transparency International, etc.

O acesso do Montenegro à NATO também é considerado benéfico pelas corporações multinacionais. Esta é a razão porque a Coca-Cola, Microsoft, Diners Club, T-mobile and Media Developmetn Loan Fund estão a financiar agressivamente o sector não-governamental do país e as campanhas de publicidade da NATO.

Para entender o papel dos investimentos estrangeiros na propaganda do ingresso na NATO pode-se dar uma olhadela à escala de financiamento estrangeiro de uma das ONGs montenegrinas, como o Center for Democratic Transition. Obtive os dados para 2009. Apenas oito mil euros, do total de 160 mil, foram concedidos pelas estruturas governamentais do Montenegro.


Fonte de financiamento Montante


Fonte de financiamento
Montante
National Democratic Institute US$60.000
Embaixada da Holanda €36.140
Foundation Open Society in Montenegro €12.000
OSCE mission to Montenegro €16.000
NATO Public Diplomacy Division €8.000
USAID US$30.000
Governo do Montenegro €3.000
Parlamento do Montenegro €5.000
Companhias privadas €20.000
Total Cerca de €160.000



As campanhas publicitárias contínuas louvando a NATO e ignorando os bombardeamentos do Montenegro em 1999 não são a única coisa em que investidores estrangeiros gastam dinheiro. Os manipuladores não receiam jogar sujo.

A ONG MANS colecciona informação que compromete responsáveis do governo e autoridades. Assim, o interesse de governos ocidentais e europeus e de estruturas não governamentais no funcionamento desta organização poderia ser explicado pelo seu desejo de obter informação que lhes permita influenciar a liderança do Montenegro.

Além disso, este ano vídeos de eminente figuras públicas montenegrinas a apelarem à adesão à NATO foram difundidas na TV e distribuídas na web. Posteriormente muitos dos que falaram retrataram-se das suas palavras, declarando que estavam desinformados acerca do objectivo real dos vídeos. Aqui está um trecho da retratação feito pelo conhecido dono de restaurantes Krsto Niklanovic: https://www.youtube.com/watch?v=I90nWUuWY6U

As autoridades do Montenegro perseguem aqueles que se opõem à orientação pró NATO e pune os dissidentes. Em Abril último, Marko Milacic, um activista do Movimento pela Neutralidade do Montenegro, foi preso. Os que se opõem à adesão à NATO vivem sob constante supervisão da polícia e são detidos periodicamente.

Entretanto, protestos em massa na capital montenegrina mostram que o processo de remoldagem da opinião pública no sentido de apagar estereótipos anti-NATO não é tão simples.

Isso é confirmado pelos inquéritos de opinião efectuados pela companhia de internacional de pesquisa IPSOS Strategic Marketing no período de Fevereiro de 2013 a Outubro de 2015. Quando indagada, "se efectuado hoje, como votaria num referendo sobre a adesão à NATO", a maioria dos montenegrinos manifestou-se contra a adesão.



 
Dez 2013
Jan 2014
Fev 2014
Mar 2014
Abr 2014
Mai 2014
Jun 2014
Jul 2014
Ago 2014
Set 2014
Por 36% 37% 41% 42% 43% 39% 39% 37% 36% 33%
Contra 46% 43% 42% 45% 44% 47% 43% 44% 46% 50%
Abst. 18% 20% 17% 13% 13% 14% 18% 19% 18% 17%

 
Out 2014
Nov 2014
Dez 2014
Jan 2015
Fev 2015
Mar 2015
Abr 2015
Mai 2015
Jun 2015
Jul 2015
Por 32% 35% 34% 32% 37% 32% 36% 36% 47% 52%
Contra 50% 48% 51% 49% 48% 54% 53% 53% 41% 46%
Abst. 18% 17% 15% 19% 15% 14% 11% 11% 12% 2%




Deve-se prestar atenção às medidas tomadas pelo IPSOS antes da reunião de ministros de Negócios Estrangeiros da NATO, em 1 de Dezembro, quando o Montenegro foi oficialmente convidado a aderir à NATO. Os dados do IPSOS afirmam que o número de votos pela adesão à NATO subiu drasticamente em Outubro, ao passo que o número de abstenções declinou. Tudo aponta para uma fraude.

Desde que o Montenegro recuperou sua independência os EUA e a UE criaram um sistema hierárquico de camadas múltiplas que compreende estruturas e organizações múltiplas a fim de reformular a consciência pública dos montenegrinos e garantir que o país adira à NATO. Esta complexa "rede de redes" engolfou estruturas governamentais, ONGs e companhias comercial a trabalharem para um objectivo único. Este método demonstrou ter êxito na Ucrânia, onde os EUA e a UE alcançaram seus objectivos. Quanto ao Montenegro, só o tempo dirá.

12/Dezembro/2015 O original encontra-se em thesaker.is/how-u-s-and-eu-manipulate-public-consciousness-montenegro/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

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