Há mais terremotos na Terra? Não! Há mais pessoas morando em áreas de alto risco!
Não, não há mais terremotos que antes, simplesmente há muito mais pessoas que moram em áreas de alto risco
Em 2010 o chão sacudiu no Haiti, em seguida, no Chile e depois na Turquia. Parece que os terremotos vieram cedo e forte no ano de 2010, levando as pessoas a se perguntar se algo sinistro está acontecendo debaixo de seus pés. Contudo, não é bem isto que acontece na realidade…
Embora tenhamos a impressão que mais terremotos estão ocorrendo agora, não é este realmente o caso. O problema é o que acontece acima do solo e não o que acontece embaixo, dizem os especialistas.
Cada vez mais, as pessoas se mudam para as mega-cidades que infelizmente foram construídas sobre as linhas de falha. Lá chegando, novos problemas surgem uma vez que há novos edifícios que têm sido construídos sem atender aos padrões mínimos necessários para resistir aos terremotos, dizem os cientistas.
O progresso tecnológico gera uma falsa impressão da onipresença dos terremotos
Além disso, a moderna cobertura global com 24 horas de notícias, bem como um melhor acompanhamento sísmico, devido ao progresso tecnológico, faz parecer que os terremotos estão onipresentes.
“Eu posso definitivamente afirmar que o mundo não está chegando ao fim”, disse Bob Holdsworth, especialista em placas tectônicas da Universidade de Durham, norte da Inglaterra, referindo-se ao número atual de terremotos.
Um terremoto de magnitude 7,0 no mês passado matou mais de 230.000 pessoas no Haiti. Há quase duas semanas, um sismo de magnitude 8,8 (o quinto mais forte do século desde 1900), matou mais de 900 no Chile. Agora, na segunda-feira, um abalo de magnitude 6,0, antes do amanhecer, varreu a área rural leste da Turquia, matando mais de 50 pessoas.
Usualmente, em média, há 134 sismos por ano, com uma magnitude entre 6,0 e 6,9 de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). Este ano, tivemos um início um pouco mais acelerado com 40 sismos dessa classe até agora (09 de março de 2010), o que representa mais do que a média habitual para este período de tempo.
Mas isso ocorreu porque o recente e poderoso terremoto de 8,8 graus no Chile gerou um grande número de réplicas, enchendo as estatísticas, disse Paul Earle, sismólogo da USGS.
Além disso, não é apenas o número de terremotos que realmente importa, mas o impacto devastador que nos chama a atenção, com grandes fatalidades em grande parte devido às desobediência em seguir as normas de segurança na construção e a excessiva aglomeração de pessoas em áreas de alto risco, disse Earle.
“O mantra que entoamos é que os terremotos não matam as pessoas, o que as mata são os edifícios”, exclamou Earle.
Notamos mais mortes por terremotos na última década do que em períodos recentes anteriores, disse o geólogo Roger Bilham da Universidade do Colorado, que acaba de regressar do Haiti. Em uma coluna de opinião no mês passado na revista Nature, Bilham reivindicou a aplicação de melhores padrões de construção em megacidades em todo o mundo. Em seu estudo, realizado em 2009, as mortes por terremotos, a população, a intensidade dos terremotos e outros fatores terremoto produziram resultados alarmantes. E isto foi relatado antes Haiti, Chile e Turquia.
“Nós observamos que houve quase 4 vezes mais mortes nos últimos 10 anos do que nos 10 anos anteriores”, disse Bilham à Associated Press na segunda-feira, 08 de março de 2010. “Este resultado é definitivamente assustador.”
Recorde Chinês: 440.000 mortos na década de 70
Outros especialistas afirmam também que eles têm notado um aumento geral de mortes por terremotos. A Organização Mundial de Saúde relata cerca de 453 .000 mortes por terremotos na década de 2000-2009, significativamente mais do que nas duas décadas anteriores. Em contrapartida, na década de 70, um forte terremoto havia dizimado 440.000 pessoas na China (o número correto de vítimas permanece desconhecido).
Mas esses números variam contundentemente a cada ano. Os peritos em estatística alegam que a natureza de sucesso ou fracasso da quantidade de mortes por terremoto faz com que seja difícil estabelecer as reais tendências das mortes.
Uma rápida análise por dois peritos em estatística não encontrou nenhuma tendência significativa de variação na quantidade de terremotos na Terra para cima ou para baixo desde a década de 1970 devido à variabilidade. No entanto, a percepção dos especialistas em terremotos é que as mortes aumentaram pelo menos desde o início 1980 (a década de 70 foi um ‘ponto fora da curva’ devido à catástrofe chinesa, já citada).
Densidade da população faz com que terremotos mais fracos produzam mais vítimas
O terremoto no Haiti provavelmente estabeleceu um sombrio recorde moderno de mortes para sua magnitude (não tão elevada quanto ao valor da intensidade do sismo no Chile) “somente em função de uma multidão de pessoas aglomeradas em uma região que não estava preparada adequadamente para sofrer um terremoto” (!), ressaltou o geólogo da Universidade de Miami, Tim Dixon.
Especialistas em desastres dizem estar observando agora mais mortes, especialmente em terremotos que não seriam tão letais há algumas décadas. Eles apontam para dados relativos a dois tremores na Turquia e na Índia: um terremoto em Izmit em 1999 que matou 18.000 pessoas e o de 2001 em Bhuj, um desastre que matou 20.000.
“Olhe para alguns dos últimos grandes” tremores recentes, disse Debarati Guha-Sapir, diretor de epidemiologia de desastres centro de pesquisa da OMS. “Se tivesse acontecido um terremoto como estes de Bhuj ou Izmit há 30 anos atrás, os eventos teriam sido relativamente insignificantes, dado que as populações dessas cidades [há 30 anos] eram pouco mais de um terço da que presenciou os terremotos. O aumento da densidade populacional faz com que pequenos eventos tornem-se mais importantes.”
Cenário sombrio
Os especialistas em desastres e terremotos dizem que o cenário só irá piorar. Das 130 cidades no mundo com mais de 1 milhão de habitantes, mais da metade estão em locais com falhas geológicas, em regiões de alto risco, tornando-as mais propensas a terremotos, lembrou Bilham.
“Eu calculei que atualmente mais de 400 milhões de pessoas correm riscos somente por causa disto”, completou Bilham.
As nações em desenvolvimento, onde há uma explosão demográfica, não tem prestado atenção nos preparativos contra terremotos, comentou Bilham. “Se você tem graves problemas para se alimentar, você não vai efetivamente se preocupar com terremotos.”
Ele disse que quando foi ao Haiti após o terremoto de janeiro de 2010, tinha esperança de que a construção seria a prova de terremotos, pois isto já havia sido enfatizado. Em vez disso, as pessoas tiveram suas casas reconstruídas de forma insegura.
Outra razão que os terremotos parecem piores é que eles atualmente chamam mais atenção da humanidade. O fenômeno do Haiti foi rapidamente seguido pelo tremor de escala 8,8 no Chile que captou a atenção de todos.
Mas isto não vai durar muito tempo, disse o pesquisador Dennis Mileti, ex-comissário para a segurança sísmica do Estado da Califórnia.
“As pessoas prestam muita atenção ao mundo violento em que sempre temos vivido”, afirmou Mileti. “Se aguardarmos por mais seis meses e não ocorrerem novos terremotos [com vítimas], a maioria das pessoas irá esquecer estes eventos do início de 2010″.
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