Do Opera Mundi
Nome é uma homenagem ao navegador florentino Américo Vespúcio, que viajou com Cristóvão Colombo
Em 24 de abril de 1507 pouca gente
prestou atenção à impressão em Saint-Dié de um documento de cartografia.
Era um comentário anexado a um grande mapa-múndi intitulado Universalis
Cosmographiæ e desenhado pelo monge geógrafo Martin Waldseemüller.
Quinze
anos depois que Cristóvão Colombo pôs os pés numa ilha das Antilhas,
este documento com tiragem de mil exemplares iria revolucionar a
percepção que os homens tinham de seu planeta mostrando as terras
descobertas pelo navegador genovês e que constituíam um Novo Mundo e não
apenas um apêndice da Ásia. Por uma singular injustiça do destino, esse
Novo Mundo assumiria o prenome de um garrido florentino sem maiores
méritos.
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O
comentário estava dividido em duas partes. A primeira descrevia o
projeto de uma nova geografia. A segunda transcrevia em latim a carta
pela qual o navegador florentino Américo Vespúcio narrava suas viagens.
No capítulo IX da Introdução à Cosmografia, pode-se ler em latim a ata
de batismo de um novo continente: “Hoje essas partes da Terra – Europa,
Ásia e África – foram mais completamente exploradas e uma quarta parte
foi descoberta por Américo Vespúcio como veremos adiante. E como a
Europa e a Ásia receberam nomes de mulheres, não vejo nenhuma razão para
não chamar essa outra parte de América, ou seja, terra de Américo,
segundo o homem sagaz que a descobriu. Poderemos nos informar exatamente
sobre a localização dessa terra e sobre os costumes de seus habitantes
pelas quatro viagens de Américo que seguem.”
Numa das margens estava impressa pela primeira vez a palavra América, fadada a um imenso destino.
Em
junho de 1498, depois de Colombo e de alguns outros navegadores como o
espanhol Alonzo de Ojeda, uma esquadra explora o Oceano Atlântico por
conta do rei Ferdinando de Aragão, acostando na Florida, entre a baía de
Chesapeake e o atual cabo Canaveral.
A esquadra é comandada por
Juan Diaz de Solis e por Vincent Pinzon, quem comandara a Niña quando da
primeira viagem de Colombo. A seu lado figurava um homem de 46 anos,
filho de uma rica família de Florença, Américo Vespúcio.
A
família de Américo era ligada aos Médicis que governavam a República de
Florença. O navegador teve o cuidado de enviar cartas e documentos a
Lorenzo di Medici a fim de informá-lo de suas viagens e de se dar valor.
Sua
carta, judiciosamente intitulada de “Mondus Novus”, é um relato em
italiano destinado a leitores cultos mas que não conheciam técnicas de
navegação. Granjeou bastante sucesso, especialmente porque contava
histórias sobre a vida sexual dos indígenas.
Traduzido em vários
idiomas, circulou a partir de 1503 pela Europa. Numa versão latina
pôde-se ler: “A fim que as pessoas instruídas possam ver como coisas
prodigiosas foram percebidas durante esses dias”.
Martin
Waldseemüller, que se fez chamar de “Hylacomylus”, toma conhecimento, no
mesmo ano, da carta de Américo. O cartógrafo tratou de atualizar seus
mapas e
explicou por quê as novas terras deveriam ser nomeadas segundo os seus descobridores.
Américo Vespúcio nasceu em Florença em 9 de maio de 1452 numa família
bastante rica. Terceiro filho de Nastagio e Lisa Vespúcio, estudou
Platão, Virgílio, Dante e Petrarca mas se destinou ao comércio. Por
volta de 1491, foi enviado a Sevilha como agente dos Medici, o que lhe
permitiu entrar em contato com o banqueiro Gianetto Berardi, financiador
de diversas expedições marítimas espanholas.
Vespúcio
encontra-se com Colombo na casa de Berardi e se interessa pela
navegação, a cartografia e a cosmografia. Participa do afretamento das
frotas de Colombo e não tarda ele mesmo a buscar o mar. Depois da
Flórida, o Brasil. Morreu em 1512.
Em 1513, seis anos após a
primeira publicação de um mapa indicando a existência de um Novo Mundo,
Martin Waldseemüller publica uma atualização pelo editor Jean Schott, de
Estrasburgo.
Curiosamente, sobre esta nova carta conservada pela
Biblioteca Nacional e Universitária de Estrasburgo, o nome “América” é
substituído por “Terra Incógnita” e somente o nome de Colombo é
mencionado. Todavia, já era muito tarde para modificar a prática nascida
da publicação de 1507.
Em 1538, o cartógrafo flamengo Mercator
retoma o nome “América” em um de seus mapas. O Novo Mundo seria batizado
a partir de então e para a eternidade como América.
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