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CGTP e UGT manifestaram a sua oposição a mais
austeridade para trabalhadores e reformados. Uma opinião partilhada
pelas estruturas sindicais de médicos, enfermeiros, técnicos da Função
Pública, magistrados e funcionários judiciais, que sublinham os efeitos
negativos das medidas anunciadas por Passos Coelho.
Foto Paulete Matos
A agência Lusa ouviu a reação de outros dirigentes sindicais à
comunicação de Passos Coelho, como o secretário-geral adjunto da UGT,
Nobre dos Santos, que se diz "indignado" com as medidas do Governo. Para
a UGT, as rescisões com 30 mil trabalhadores "deixarão a administração
pública paralisada" e são por isso "inqualificáveis". O aumento do
horário de trabalho e a limitação da mobilidade especial a 18 meses
também merecem repúdio da central sindical, "especialmente porque o
Governo nunca cumpriu a parte dele relativamente à formação e à
requalificação", sublinhou o sindicalista. Nobre dos Santos também
criticou o Governo por não ter dito uma palavra sobre as suas intenções
na reunião da Concertação Social na véspera deste anúncio, considerando
essa atitude "uma falta de respeito e de ética com os parceiros
sociais". A UGT diz ainda que o único objetivo do aumento da
contribuição para a ADSE é mesmo o de "sacar dinheiro" aos
trabalhadores.
STE: Governo corta a quem trabalha para apoiar o setor financeiro
Já o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) fez as contas e
concluiu que "enquanto a despesa com o pessoal da administração pública
diminui 1.930 milhões de euros entre 2014 e 2017, a rubrica do consumo
intermédio", que inclui as aquisições de bens e serviços e os encargos
com as Parcerias Público-Privadas, "reduz-se apenas 39 milhões de euros
neste período". Quanto aos juros da dívida pública, "vão continuar a ter
um acréscimo significativo nos próximos anos, mais 883 milhões de euros
em termos acumulados entre 2014 e 2017, com um peso de 4,4% do PIB
entre 2012 e 2017, chegando neste último ano a pesar mais de metade da
despesa com o pessoal, o que é exorbitante", diz o STE em comunicado.
Entre 2011 e 2017, calcula o STE, o corte na despesa com pessoal na
administração pública representará quase metade do corte total da
despesa pública.
"É imperioso evitar que as medidas de contenção orçamental sejam apenas
direcionadas aos trabalhadores e pensionistas, que além de diminuírem o
rendimento de muitas famílias, já de si fragilizado, provocam mais
recessão económica. É a espiral recessiva que se instala, é o desastre",
sublinha o STE, antes de apontar o dedo às derrapagens na despesa
pública do ano passado, que "nada tiveram a ver com a despesa com o
pessoal, mas sim com o setor financeiro, com destaque para o BPN".
"Tsunami na Função Pública", dizem funcionários judiciais
Os dois pesos e duas medidas do Governo também foram apontados pelo
presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SNMP),
lamentando que o Governo penalize outra vez os que "já mais
contribuíram" e mantenha "intocadas as escandalosas rendas do setor
energético e as rendibilidades injustificadas das parcerias
público-privadas". Rui Cardoso não viu nas palavras de Passos nenhuma
"reforma do Estado", mas apenas uma "redução de custos" com contornos
que "permanecem obscuros". O "brutal aumento" dos descontos para a ADSE
suscita dúvidas ao SNMP e o argumento da igualdade entre público e
privado faz Rui Cardoso concluir que se Passos Coelho for coerente terá
de aumentar os salários dos magistrados e das profissões mais
qualificadas da Função Pública.
Para o presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ), as
medidas anunciadas por Passos Coelho são "autêntico 'tsunami' na função
pública", acabando com o "espírito, motivação, dedicação e empenho" dos
trabalhadores do Estado. Em declarações à Lusa, Fernando Jorge afirmou
que "as pessoas têm de abrir os olhos e passar a tratar o Estado como o
Estado nos trata a nós, ou seja, sem nenhuma consideração" com um
Governo que tem uma "atitude de desconsideração" para com os seus
funcionários.
"Médicos vão ganhar menos trabalhando o mesmo"
“Estamos numa situação de perfeito terrorismo laboral e social”, disse
Mário Jorge Neves, da Federação Nacional dos Médicos (FNAM),
considerando que o alargamento do horário de trabalho na Função Pública é
uma medida “altamente penalizadora e não vai resolver nenhum problema”.
A lei aplicada aos médicos desde 2012 já prevê uma transição para as 40
horas de quem trabalhe 35 ou 42 e o dirigente sindical diz que são
muitos os que têm tentado aderir ao novo regime, mas vêem os pedidos
bloqueados por atraso das administrações. Por isso, "a maioria dos
médicos ainda trabalha no regime das 35 horas semanais”, explica Mário
Jorge Neves, prevendo que na prática todos irão trabalhar as 40 horas,
mas apenas os que foram autorizados a entrar no novo regime é que irão
receber o salário correspondente ao novo horário.
Para o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), o aumento do
horário de trabalho põe outra questão: “A Organização Internacional do
Trabalho recomenda que o horário de trabalho dos enfermeiros seja de 35
horas semanais, precisamente para ser garantido o seu descanso físico e
psicológico e para estes estarem preparados para prestarem cuidados de
qualidade”, disse à Lusa Guadalupe Simões. A dirigente sindical recorda
os casos dos enfermeiros com contrato individual de trabalho a trabalhar
40 horas, que estão a solicitar o regresso às 35 horas porque estão
exaustos. “Essa possibilidade, e ainda por cima sem aumento da
remuneração, é um caminho completamente contrário às exigências da
função do enfermeiro”, diz Guadalupe Simões, prometendo "uma veemente
contestação" dos enfermeiros às medidas anunciadas pelo Governo.
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