sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O Império e a “faca só lâmina” [1]: exércitos globais + ONGs [3/4] 22/11/2013

Dividir nações soberanas & substituí-las por sistemas de administração global

12/2/2012, [*] Tony CartalucciBlog Land Destroyer 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu (sugestão do Chico Villela)

Leia antes:


Parte 3: O imperialismo reimaginado para o século 21

Mapa do Pentágono que, sob o disfarce de "Combate ao Terrorismo", demonstra o Imperialismo do século 21 (clique na imagem para aumentar)
Já vimos alguns exemplos de como o imperialismo está vivo e bem. Também já vimos como o imperialismo foi implantado pelos britânicos. Mas como, exatamente, está sendo implantado e mantido hoje? E por que tantos embarcam, por vontade própria, nesse navio fantasma?


Vídeo: Thomas Barnett descreve a construção de um exército de “sistemas administradores” (codinome: “sociedade civil”), para expandir-se em “espaços de paz”, ao mesmo tempo em que os exércitos globais norte-americanos expandem-se nos “espaços de batalhas”. A ONG Revenue Watch de Georges Soros, e a organização National Endowment for Democracy criaram precisamente esse exército de ONGs.

E, assim como tantos soldados promovem o imperialismo, convencidos de que estariam lutando por “liberdade”, inúmeros militantes dessas ONGs expandem os tentáculos globais de Wall Street & London, convencidos de que estariam promovendo “direitos humanos”.
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A expressão “sistemas administradores” foi usada pelo estrategista militar do EUA, Thomas Barnett, para uma audiência embevecida, na conferência “2008 TED [Technology, Entertainment, Design]” intitulada  The Pentagon’s New Map for War & Peace” [O novo mapa do Pentágono para Guerra & Paz] (vídeo acima). Aos 18 minutos desse vídeo, Barnett começa a explicar um conceito de como reformar os militares dividindo-os em duas forças separadas, “a força de Leviatã que os EUA já construíram” e “os sistemas administradores”.

A primeira daquelas forças derruba as redes em operação nos países-alvos, usando ataques aéreos, operações especiais, invasões; para isso, precisa de soldados, armamento, munição, bombardeiros. A segunda, consiste de sistemas administradores que passam a construir sobre as cinzas deixadas pela “força Leviatã” ou sobre o caos semeado por uma “desestabilização” paga com dinheiro vindo de fora. Esses “sistemas administradores” incluem tudo: de ONGs, organizações internacionais e empresários e empresas, até agentes civis e de negócios internos (guerra psicológica) e às vezes, sendo necessário, também soldados e Marines.

Barnett avisa que se alguém tentar interferir na construção das redes de “sistemas administradores” do ocidente, “os Marines vêm aí e matam você!”. Provavelmente, exatamente o que os soldados ingleses faziam, sempre que havia insatisfação nas suas colônias.

O Massacre de Boston. Os que resistam contra os “sistemas administradores”, muito cuidado! Metam-se a querer contê-los, e “os Marines vêm aí e matam vocês!”
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Aquela palestra do vídeo acima aconteceu em 2008, e já vemos passos sólidos dados na direção de expandir e utilizar precisamente aquela tal força. Barnett disse dos “gatilhos” das operações especiais, que desejava que as regras fossem “as mais soltas possíveis”. 

Recentemente, o Corbett Report e Media Monarchy falaram do papel expandido proposto para a “elite” das forças militares. Recentemente, se falou do almirante William McRaven do Comando de Operações Especiais, que estaria buscando “mais autonomia para posicionar suas forças e seu equipamento de combate nos pontos que a inteligência e os eventos globais indiquem que são mais necessários”. 


Vídeo: Comando das Operações Especiais em busca de mais “autonomia” para posicionar-se onde “a inteligência e os eventos globais indiquem que são mais necessários.” Esse “afrouxamento das regras” foi parte da formatação da “faca de dois gumes”, “faca só lâmina”, da conquista neoimperial: o exército global e o sistemas administradores.
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Além disso, entre 2008 e 2011, antes da eclosão da Primavera Árabe, o Departamento de Estado dos EUA e sua rede de facilitadores globais embarcaram numa campanha para criar um literal exército de ONGs e grupos de oposição para começar a derrubar governos e a construir exatamente a rede global de administração que Barnett expôs na conferência TED. Foi noticiado recentemente (vide Soros Big-Business Accountability Project Funded by Big-Business [O big-business da “empresa transparente”, de Soros, financiado pelo big-business]) que um outro exército de ONGs está sendo mobilizado para construir sistemas administradores dedicados a gerenciar os recursos de determinados países. Chama-se “Revenue Watch” e está focado prioritariamente na África e no Sudeste da Ásia; é a abordagem por “sistema administrador” que complementa (a) os movimentos de agressão bélica que oComando da África, AFRICOM-EUA, move contra países africanos e (b) a declaração, pelos EUA do Século do Pacífico na Ásia.

É absolutamente claro que a proposta de Barnett não exige, necessariamente, a colaboração da “força Leviatã armada pelos EUA” para detonar as redes que interesse detonar – como se viu na Primavera Árabe financiada pelos EUA.

Fomentar tumultos e agitação, até a insurreição armada, não é ação muito distante de aberta intervenção militar, e usa ativos que Barnett incluiu na força Leviatã, como “desencadear” operações especiais, e criar unidades civis, ONGs e empresas recrutadas dentro do sistema local.

Na Líbia, por exemplo, os estrategistas de ONGs e assuntos civis iniciaram as agitações em fevereiro de 2011, enquanto entravam no país e nos grupos as armas necessárias para derrubar o governo de Gaddafi. Organizações internacionais como a Corte Criminal Internacional fora usadas para envenenar a opinião pública contra o governo líbio, usando informação que aquelas organizações recebem de várias ONGs; e a OTAN começou a preparar o assalto, com ataque aéreo de ampla escala. Depois de iniciado o bombardeio, foi questão, apenas, de acionar forças especiais, armas e os demais facilitadores infiltrados, para preencher o vácuo deixado pela violentíssima campanha aérea da OTAN. Assim, as forças de Leviatã e os sistemas administradores trabalharam coordenadamente, uma limpando o caminho, varrendo de lá as velhas redes instaladas; os outros construindo as novas redes, para facilitar a permanência dos EUA, já residentes, e do presidente do Instituto do Petróleo, Abdurrahim el-Keib, como primeiro-ministro.

Em nações onde as opções militares como essa não sejam possíveis, sejam difíceis ou impossíveis de justificar, como na Tailândia, por exemplo, todo o peso do apoio de Wall Street & London é aplicado para fortalecer sistemas administradores e movimentos “adequados” de oposição que lá ficarão, como procuradores “seguros”, no caso de ser possível detonar as redes locais.

No caso da Tailândia, o “preposto seguro” é Thaksin Shinawatra, grande empresário e ex-consultor do Grupo Carlyle, que conta com extensivo apoio dos EUA, com serviços de lobbying fornecidos a ele por outro membro do Grupo Carlyle, James Baker e de sua empresa Baker Botts; do enviado pessoal de Bush ao Iraque, Robert Blackwill; da empresa Barbour Grifith & Rogers; e de Keneth Adelman, signatário do PNAC, da empresa Edelman.

Durante seu governo, de 2001 até ser derrubado por golpe popular em 2006, na véspera do qual ele estava literalmente prestando contas de seus serviçosao Conselho de Relações Exteriores em New YorkThaksin envolveu soldados tailandeses na invasão norte-americana do Iraque e autorizou a CIA a incluir a Tailândia para seu horrendo programa de entrega especial de prisioneiros para serem torturados.

Atualmente, o mesmo Thaksin é comandante-em-chefe de uma “revolução colorida”, bastião da força de ocupação de Barnett, porque nenhuma força ocidental é sustentável naquelas circunstâncias. Inclui-se entre seus serviços o uso documentado de manifestantes armados, em 2010, contra uma tentativa de insurreição. Esses exército privado de Thaksin é chamado “camisas vermelhas” ou “Frente Unida pela Democracia contra a Ditadura” [orig. United Front for Democracy Against Dictatorship (UDD)] e reuniu-se com a ONG Human Rights Watch, mantida pela Open Society de Soros; com oNational Democratic Institute for International Affairs (NDI); com a National Endowment for Democracy (NED) e com o Conselho Comercial EUA-ASEAN,em abril de 2011, em visita a Washington, DC.

É evidente que ONGs e movimentos de oposição que muitos creiam ser espontâneos, legítimos, locais e independentes são, de fato, parte de uma rede mais ampla criada para o único objetivo de impor e manter o sistema administrador global. Não é rede de associações vagas ou indefinidas. Em cada caso há uma via direta que liga os movimentos a fundações e think-tanks ocidentais que traçam as políticas das ONGs e movimentos, e em todos os casos são mantidos e comandados pelas empresas “as 500 +” da revista Fortune de Wall Street & London. (clique na imagem para ampliar).
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Há também círculos acadêmicos organizados para dar apoio a todos os esforços que surjam para minar as redes locais soberanas da Tailândia. Desses círculos, os mais conhecidos são “Nitirat”, ou “Juristas Esclarecidos”, cujo público é formado quase completamente dos “camisas vermelhas de Thaksin, e inclui, sempre sentado na primeira fila, Robert Amsterdam, o lobbysta profissional norte-americano cujos serviços Thaksin contratou.  

Finalmente, há ONGs de propaganda, que empregam jornalistas, como a conhecida Prachatai, que recebe centenas de milhares de dólares por ano do Departamento de Estado dos EUA, mediante o National Endowment for Democracy (NED); da Open Society de George Soros; e da USAID.

NED também financia o Comitê de Campanha pelos Direitos Humanos, a Fundação Cruz-cultural e a Environmental Litigation and Advocacy for the Wants. Dado que todas são mantidas por dinheiro da mesma fonte, cada ONG assina as petições das demais, e assim todos perpetuam suas agendas comuns (além de idênticas).

Por mais que suas declarações digam promover “liberdade”, “democracia” e “direitos humanos”, não deixa de ser impressionante o quão completamente conseguem misturar os interesses dos patrocinadores e das organizações “internacionais”, com as causas locais que dizem promover, e com o trabalho que, afinal, esses grupos realmente fazem.

Claramente há “fios” que ligam o dinheiro que a ONG Prachatai recebe do National Endowment for Democracy e “Freedom House”, que regularmente publica postados, colunas, indicações para prêmios e premiação de “jornalistas independentes” tailandeses. Também é absolutamente claro como todos esses mesmos interesses estão envolvidos também no apoio à volta de Thaksin Shinawatra ao governo, como preposto preferido do Império para a Tailândia.  (clique na imagem para ampliar) 
(...)

Como se viu acontecer também na Geórgia, EUA (Parte 2/4), a ignorância e as boas intenções são usadas para atrair quadros para essas ONGs. Também como na Georgia, essas organizações dependem, propositalmente, de repetido e substancial aporte de dinheiro que lhes vem de Wall Street & London, dado que o dinheiro que esses grupos arrecadam localmente praticamente nunca é suficiente. E embora muitos “seguidores” desses movimentos e ONGs creiam que estejam trabalhando para alguma “alta causa”, não passam de mercenários a serviço de forças que desconhecem completamente, num outro tipo de sistema imperial que se foi aperfeiçoando ao longo dos séculos, por tentativa e erro. (...)

Trevor Reese oferece uma interessante observação sobre o estado do imperialismo no século 18, que ainda se aplica aos nossos dias:

No século 18, os negócios coloniais eram questões subsidiárias na vida política inglesa; o dictum de Sir John Seeley, de que o povo britânico fundou um império num momento de desmaio ou privação de sentidos, é verdadeiro, no sentido de que a expansão imperial nunca foi objeto da atenção da opinião pública. Embora sempre tenha havido alguns críticos no país que manifestaram sentimentos anti-imperiais e temiam que o império escapasse a qualquer controle dos ingleses, sempre foram pequena maioria. Geralmente, quando se pensa sobre as colônias, o que raramente acontece, as pessoas as veem com aprovação, e creem que há vantagem em ser um império, embora saibam praticamente nada desse assunto.

Assim também, a grande maioria da opinião pública é deixada em completa escuridão sobre o que Wall Street & London fazem do outro lado do mundo.

Enquanto intervenções militares são manchete e todo o mundo e criam diversão (confusa e para confundir) para muitos, esses mesmos, a chamada “opinião pública”, é mantida absolutamente ignorante sobre tudo que tenha a ver com ONGs, sobre o conceito, mas e mais importante, também sobre a terrível, horrenda máquina de guerra à qual as ONGs estão integradas e que hoje está em operação da Tunísia à Tailândia e em todo o território entre uma e outra. (...)

[A seguir: Parte IV (final). A fraqueza do império é a independência]



Nota dos tradutores
[1] É imagem-criação de João Cabral de Melo Neto, no poema A faca só lâmina: “assim como uma faca / que sem bolso ou bainha / se transformasse em parte / de vossa anatomia”. Lê-se, na íntegra, na Revista Bula.. Recolhemos aqui, para traduzir o título original “Empire’s Double Edged Sword: Global Military + NGOs”.
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[*] Tony Cartalucci é um pesquisador de geopolítica e escritor sediado em Bangkok, Tailândia. Seu trabalho visa cobrir os eventos mundiais a partir de uma perspectiva do Sudeste Asiático, bem como promover a auto-suficiência como uma das chaves para a verdadeira liberdade.

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