domingo, 4 de março de 2012

BCs dos ricos já injetaram US$ 8,8 trilhões 04/03/2012

Dinheiro colocado no mercado nos últimos 3 anos, que a presidente Dilma chamou de ‘tsunami monetário’, é quatro vezes o PIB do Brasil


Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo
BASILEIA - Os bancos centrais dos países ricos injetaram US$ 8,8 trilhões em pouco mais de três anos em seus sistemas financeiros, o que provoca fortes críticas de autoridades de nações emergentes e causa uma divisão na comunidade internacional sobre como lidar com a crise. No total, o que a presidente Dilma Rousseff chamou de "tsunami monetário" já supera em cerca de quatro vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
Mário Draghi, presidente do BCE: ação conjunta para evitar colapso das economias - Alessandro Della Bella/EFE
Alessandro Della Bella/EFE
Mário Draghi, presidente do BCE: ação conjunta para evitar colapso das economias
Em uma reunião fechada na Basileia, sede do banco central dos bancos centrais (BIS), e com a orientação a todos os participantes para que não vazem nenhum elemento do encontro, o centro do debate foi mesmo a inundação do mercado com dinheiro barato e a intervenção das autoridades monetárias.
Analistas na Europa chegam a sugerir simbolicamente Ben Bernanke (do Fed, o banco central dos EUA) e Mario Draghi (presidente do Banco Central Europeu) para o prêmio Nobel da Paz, por terem evitado um colapso das economias.
Sexta-feira, foi a vez do presidente francês, Nicolas Sarkozy, parabenizar publicamente Draghi pela atitude. Ontem, tanto o italiano quanto o americano eram pressionados na Basileia a dar uma explicação diante dos questionamentos de seus pares de países emergentes.
Segundo essas autoridades, as nações desenvolvidas ignoram instâncias como o G-20 para coordenar uma resposta à crise. "Esse assunto precisa ser tratado abertamente. Não podemos só aceitar isso e ficar quietos. Todos estamos sendo afetados", disse ao Estado o presidente de um BC asiático, pedindo anonimato. A reunião, que termina nesta segunda-feira, 5, tem também o presidente do BC do Brasil, Alexandre Tombini, que não falou com a imprensa.
O argumento é o de que, ao pegar emprestado esse dinheiro com juros baixíssimos, bancos e investidores transferem parte desses fundos para aplicações no Brasil e outros emergentes, criando uma pressão insustentável sobre as moedas locais.
Conta alta. Na semana passada, o Banco Central Europeu colocou no mercado US$ 712 bilhões em empréstimos de longo prazo. Em dezembro, foram mais US$ 658 bilhões.
Além disso, o BCE já gastou mais de US$ 220 bilhões na compra de papéis da dívida de países em dificuldades, como Portugal, Irlanda, Grécia, Itália e Espanha. A isso se soma quase outro US$ 1 trilhão na compra de ativos de bancos à beira da falência.
Fora da zona do euro, o Banco da Inglaterra injetou outros US$ 507 bilhões apenas para garantir a liquidez do sistema. Nos Estados Unidos, só na primeira rodada, o valor chegou a US$ 1,25 trilhão. Na segunda rodada, Bernanke ampliou os empréstimos em US$ 600 bilhões. O Banco do Japão já injetou US$ 690 bilhões em empréstimos de longo prazo, sem contar instrumentos de curto prazo e papéis da dívida.
Isso tudo, sem contar os programas de incentivo para a recuperação econômica, empréstimos de curto prazo e compras de ativos de bancos, faz o "tsunami" chegar a US$ 8,8 trilhões, segundo as informações de Fed, BCE, Banco da Inglaterra e Banco do Japão.

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