EPA
A intenção é louvável. Mas os resultados
práticos de todas as "guerras humanitárias" são decepcionantes. Para a
manutenção das tropas se gastam somas colossais dos orçamentos dos
países-benfeitores e as operações de pacificação dos descontentes
demoram anos. As autoridades e a população dos países são ensinadas a
viver de maneira diferente. Também aqui à sua custa. Mas tropas partem e
volta a se estabelecer o modo de vida habitual com os seus métodos de
governação autoritários e uma ativa continuação dos conflitos armados
religiosos e étnicos. Talvez o problema não sejam os malfeitores
individuais, mas as particularidades da consciência coletiva?
Este
ano, o Pew Research Center norte-americano realizou uma pesquisa, em
mais de 80 línguas, de mais de 38 mil muçulmanos de 23 países da Europa,
da Ásia, do Oriente Médio e de África. Como entendem o mundo
circundante os cidadãos do Oriente muçulmano e como eles se reveem nele?
O
problema principal é o terrorismo. Tal como em todo o mundo, no Oriente
não gostam de explosões e tiroteios nas ruas. Pelo menos metade dos
muçulmanos inquiridos está preocupada com as atividades dos grupos
extremistas religiosos nos seus países. Mais de dois terços da população
têm medo disso no Egito (67%), na Tunísia (67%), no Iraque (68%), na
Guiné-Bissau (72%) e na Indonésia (78%).
Os atos de
violência contra a população civil as ações dos bombistas-suicidas só
são apoiados por 1% dos muçulmanos inquiridos. Contudo, no Egito e na
Autonomia Palestina, por exemplo, uma parte considerável da população
(29 e 40%, respetivamente) considera que por vezes eles são
justificáveis. Já no Afeganistão esse ponto de vista é apoiado por 39%
dos inquiridos. Apesar de neste país, durante décadas, cidadãos
inocentes estarem a morrer às mãos dos terroristas. Porque será que um
terço da população justifica essa matança inútil?
Ainda
há mais. Tem sido considerado, tradicionalmente, que as mulheres do
Oriente querem muito, mas não conseguem, se liberar do poder dos homens.
Afinal não é assim. Nalguns países muçulmanos nove em cada dez homens e
mulheres inquiridos aprovam a disposição de que a mulher deve sempre
obedecer ao marido. Isso é assim em Marrocos (92%), na Tunísia (93%), na
Indonésia (93%) e na Malásia (96%). Hoje no Iraque 92% dos homens e das
mulheres são contra a igualdade, no Afeganistão são 94%. Além disso, o
Iraque e o Afeganistão são os únicos países em que a maioria da
população aprova as execuções extrajudiciais de mulheres apenas
suspeitas de terem tido relações extraconjugais. Depois de décadas de
“humanização das consciências”, no Afeganistão 85% dos muçulmanos que
apoiam a sharia continuam a considerar que os amantes devem ser mortos
por lapidação. No Iraque 58% pensam o mesmo.
A maioria
dos inquiridos no Afeganistão e no Iraque (81 e 56%, respetivamente) se
pronuncia pelo castigo com chicotadas e pela amputação das mãos aos
ladrões e assaltantes. Na realidade, 99% da população do Afeganistão
pensa que é melhor regressar do humanismo europeu de volta às leis
severas da sharia.
A favor de a sharia se tornar "na
legislação oficial do país" se pronuncia também a maioria dos muçulmanos
da Nigéria (71%), da Indonésia (72%), do Egito (74%), do Paquistão
(84%) e da Autonomia Palestina (89%). Em Marrocos e no Paquistão, onde o
Islã, de acordo com as suas constituições, já está acima das outras
religiões, os muçulmanos (83 e 84%, respetivamente) querem ainda mais: a
introdução da sharia como código de leis.
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