terça-feira, 2 de julho de 2013

Quem agita o Brasil e por quê 01/07/2013


1/7/2013, Nil NIKANDROV, Strategic Culture  
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Nil Nikandrov
Os protestos de rua no Brasil continuam. A maioria dos que se manifestam não pertencem a qualquer partido político e não são liderados por ninguém com quem as autoridades possam negociar para encaminhar solução para as demandas. Tudo começou com um grupo de descontentes da classe média e residentes das periferias mais pobres, ante um aumento anunciado nas tarifas do transporte público. As tarifas já eram altas e o novo aumento disparou a indignação de usuários de transportes públicos nas grandes cidades.
No Brasil, os transportes públicos são objeto frequente de muitas críticas. Muitos brasileiros consomem um total de 5-6 horas diárias para ir trabalhar e voltar para casa. O descontentamento popular foi estimulado pela divulgação pelas redes sociais, como movimento que pareceu organizado, de muito material de propaganda sobre “gastos milionários de dinheiro público” para a construção dos locais e eventos da Copa do Mundo de Futebol, em 2014; e dos Jogos Olímpicos (de verão) em 2016. 

Protestos no Brasil
Cartazes escritos à mão apareceram nas manifestações, dizendo que nem todos os brasileiros vivem para o futebol e recordes olímpicos: “Queremos transporte público moderno, educação de qualidade, serviços de saúde e garantia de emprego”. Ouviram-se também gritos de luta contra a corrupção. O boom “esportivo” aparece quase sempre associado, na opinião pública, com corrupção no governo e “conexões mutuamente vantajosas” para membros do governo e empresas construtoras e círculos financeiros e empresariais em geral. Segundo as primeiras estimativas, as manifestações começaram com algo entre 300 e 500 pessoas que se manifestaram em torno de um “Movimento Passe Livre” (MPL). E os protestos prosseguem. (...)
A convocação para os protestos surgiram em páginas anônimas de Facebook, que “mobilizavam” usuários de transporte público. A origem dessas páginas está sendo investigada, mas ainda não há informação segura, embora haja várias conjecturas. Por exemplo, no dia 19/6, a página brasileira de uma comunidade de “Direitos Humanos” publicou foto em que se via o proprietário da empresa, Mark Zuckerberg, exibindo um cartaz em que se lê “Não são os 20 centavos!” #ChangeBrasil!”.
Mark Zuckerberg (dono do Facebook)
São bem conhecidos os laços que unem o início da carreira empresarial de Zuckerberg e a CIA. Os contatos foram muitos e sabe-se que a CIA financiou o início de seu negócio. Zuckerberg tem também contatos estreitos com a Agência de Segurança Nacional dos EUA [orig. U.S. National Security Agency (NSA)], os quais não são segredo para ninguém. Difícil acreditar que Zuckerberg tenha-se envolvido por iniciativa sua nos protestos no Brasil (e ainda mais difícil, que tenha passado, repentinamente, a preocupar-se com o preço dos transportes públicos por lá).
Slogans de “luta para mudar” sempre são bem-sucedidos em campanhas em universidades e instituições de ensino superior. Estudantes sempre se apresentam como vanguarda na luta por direitos sociais e políticos. De novidade, agora, no caso do Brasil, que os manipuladores que operam nesses setores não conseguiram, até agora, criar lideranças centralizadas, em nenhum dos protestos de rua.
Edward Snowden
Mas o modo como a inteligência dos EUA opera, esse sim, acaba de ser revelado por Edward Snowden: tudo faz crer que a atividade no Brasil e em vários outros países já esteja em andamento, tratada como os EUA tratam o que definem como “ameaça de nível elevado”.
A contrainteligência brasileira e os serviços de investigadores policiais já trabalham para identificar quem se teria infiltrado nos movimentos do Brasil. Também se investiga o “uso hostil” das redes sociais. Mais de 80 milhões de pessoas são usuários de internet no Brasil; e 140 milhões usam telefones celulares. É claro que slogans construídos para desestabilizar o quadro sociopolítico no Brasil circulam nessas redes. E há também ONGs e agentes que operam através da embaixada dos EUA, como, igualmente, dos escritórios da USAID no Brasil – exatamente como em todo o mundo. Blogueiros brasileiros interessados em estudar as tendências das manifestações já observaram que só houve grandes concentrações populares em cidades nas quais operam escritórios de representação diplomática ou comercial dos EUA – na capital, Brasília; no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, dentre as principais.
Thomas Shannon
Hoje, como se sabe, está operando no Brasil uma das maiores bases organizadas da CIA e da inteligência militar dos EUA, do mundo. O coordenador político dessas operações no Brasil é o Embaixador Thomas Shannon. [1] Pode-se tomar como fato absolutamente verdadeiro que o embaixador Shannon está ocupado em tempo integral com o “despertar o gigante sul-americano”.
Os protestos de junho continuarão pelo mês de julho e, em grande medida, já começam a afetar a imagem que o Brasil oferecia ao mundo, de país bem-sucedido em seu projeto de desenvolvimento com orientação social.
Em outubro de 2014 haverá eleições presidenciais no Brasil; a atual presidenta Dilma Rousseff é candidata a um segundo mandato. Nesse contexto, qualquer ação para desestabilizar seu governo é apresentada como tentativa dos adversários políticos, com olhos nas eleições: “Estão nos testando”.
De início, as autoridades de alguns estados responderam com extrema dureza aos manifestantes. A presidenta Rousseff condenou o “uso de força excessiva” pelas Polícias Militares dos estados.
Há muitos no Brasil que se opõem a “governos de esquerda” e sentem que, nos dez anos dos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff “o regime corrompeu-se” e que, por isso, tem de ser mudado. Não admitem continuar afastados do poder federal por mais quatro anos.
Dilma Rousseff
Ao analisar os eventos em curso no Brasil, mais de um cientista político brasileiro já comentou que a presidenta e seu governo foram colhidos de surpresa pelos eventos; que a presidenta teve de cancelar uma visita programada ao Japão. Depois de várias reuniões, com ministros e especialistas, a presidenta Rousseff adotou a única via de ação possível: uma rota de conciliação, não confrontacional que aqueceria ainda mais as paixões. Disse, essencialmente, que apóia os manifestantes. Em pronunciamento ao país, por televisão, disse que se orgulha de tantos brasileiros desejarem lutar por um futuro melhor para o país. Enfatizou que em nenhum caso admitiria que se realizassem eventos esportivos internacionais a custa de dinheiro público retirado de programas sociais.
Na tentativa para conter a onda de protestos, Dilma Rousseff sugeriu que se realize um “plebiscito” cujas decisões orientarão uma reforma política de fundo a ser feita no país. O plebiscito deve levar, em momento posterior, à convocação de uma Assembleia Constituinte, com poderes para alterar amplamente a Constituição vigente. Todos esses planos enchem de preocupações as elites financeiras brasileiras. A oposição à presidenta Rousseff entende que “o projeto Lula-Dilma de modernização sociopolítica” nos levará na direção de um “regime populista” semelhante ao de Hugo Chavez.
O governo Obama já está fazendo tudo que esteja ao seu alcance para impedir tal desenrolar.
Hoje, está criando a Aliança Pacífica, [2] unindo quatro países da região – México, Colômbia, Peru e Chile – sob comando dos EUA. Do ponto de vista de Washington, a Aliança Pacífica, dentre outros efeitos, ajudará a limitar a influência do Brasil no hemisfério ocidental e criará “um poderoso contrapeso geoestratégico à expansão do Brasil”. Sob vários pretextos, o Pentágono está organizando exercícios armados conjuntos com países vizinhos do Brasil – Trinidad e Tobago, Suriname, Guiana e Peru. Na essência os EUA estudam um futuro teatro de operações militares. A 4ª Frota dos EUA patrulha as regiões do Oceano Atlântico próximas dos depósitos de petróleo da plataforma continental brasileira. Os EUA farão todos os esforços para enfraquecer os aliados e parceiros do Brasil na região, a começar por Venezuela, Equador, Nicarágua e Cuba. A reaproximação entre OTAN e Colômbia também se explica em parte como projeto para criar mais um “fator de pressão” sobre o Brasil.
Os protestos continuam. Começam a aparecer também detalhes sobre as condições desumanas em que vivem as populações em torno dos estádios (dos antigos e dos que estão sendo construídos) e sobre a violência das “desocupações” e operações para “limpar” as áreas dos elementos considerados “perigosos”, com imagens sobre como as casas dos mais pobres estão sendo demolidas para construção de novas edificações, sem a necessária indenização aos proprietários anteriores. O governo central está tendo de responder por ações de governadores e prefeitos, autoridades locais.
Os eventos no Brasil estão sendo acompanhados pela mídia ocidental em todos os detalhes. Cientistas políticos avaliam a ação das empresas locais de imprensa como operação deliberada para comprometer a imagem do Brasil e a capacidade do país para organizar grandes eventos esportivos internacionais. Não faltou sequer quem dissesse que a Copa do Mundo de futebol devesse ser cancelada, por o país não poder dar garantias de vida aos jogadores e torcedores.
O que se viu agora, na “Copa das Confederações” pode ser considerado como ensaio geral do que se verá acontecer em futuros eventos esportivos no Brasil. Tudo para pressionar o país, em questões e interesses que nada têm a ver com esportes...

Notas dos tradutores

[1]
Sobre o embaixador Thomas Shannon e seus contatos no Brasil ver, dentre outros muitos telegramas Wikivazados:



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