Reforma previdenciária como mais um fator de depressão, por J. Carlos de Assis
José Carlos de Assis
Movimento Brasil Agora
Reforma previdenciária como mais um fator de depressão
por J. Carlos de Assis
O conceito de Grande Depressão nos Estados Unidos foi imposto pela realidade, não pela retórica. No início dos anos 30, estava claro que a economia entrara em recessão, isto é, que estava andando para trás. A fim de mascarar esse fato então evidente, os governistas e seus amigos na imprensa passaram a dizer que a economia estava em depressão, com o sentido de que passava por uma pequena queda logo recuperável, como se fosse uma leve depressão numa estrada. Com a continuação do que chamavam de depressão e sua evolução para níveis catastróficos, o sentido da palavra mudou para um grande desastre econômico.
Quando estudava Economia em meados dos anos 70, meus colegas e eu considerávamos a Grande Depressão como um fato histórico que jamais poderia repetir-se. Alguns marxistas, como sempre, achavam que haveria um grande cataclisma que levaria de roldão o sistema capitalista, mas os outros, certamente mais realistas, acreditavam que o keynesianismo era um antídoto definitivo contra crises capitalistas agudas. Como o sentido das palavras havia se invertido, admitia-se que haveria recessões cíclicas, mas não uma Grande Depressão que levasse a situações tão dramáticas como o New Deal e, na Alemanha, Hitler.
Na Europa social-democrata do pós-guerra, admitia-se que recessões acabariam em pouco tempo devido aos chamados “estabilizadores automáticos” da Economia. Esses estabilizadores nada são senão gastos em previdência, saúde, educação, assistência e proteção social, que mantem ganhos salariais e de proventos básicos capazes de sustentar a demanda num nível que possibilita a retomada do investimento, do emprego, de mais demanda, e assim por diante, num círculo virtuoso, acabando finalmente com a recessão sem risco de se chegar a uma depressão. É nisso, basicamente, que acreditávamos como estudantes nos anos 70.
Pessoalmente, jamais pensei que a economia brasileira poderia ter uma contração de cerca de 9% em dois anos até 2016, com sinais de que continuará a contrair-se neste ano. Poucos anos atrás isso seria impensável. No entanto, fui um dos poucos economistas que, ainda no início de 2015, disse e escrevi que teríamos, naquele ano, uma contração da ordem de 4%. É claro que não se tratava de profecia; era pura previsão racional. A combinação da Lava Jato, com a destruição do investimentos da Petrobrás e da cadeia do petróleo, mais o ajuste econômico imposto por Joaquim Levy indicavam claramente o desastre.
Isso é o exato oposto do keynesianismo, razão porque mergulhamos numa depressão e não numa simples recessão, usando a terminologia corrente. O Governo corta gastos públicos exatamente quando seria necessário aumentá-los a fim de incrementar o poder de compra da população, o investimento e o emprego. Em lugar de estimular os investimentos da Petrobrás, que nos bons tempos respondia por 80% do investimento no país, o Governo decidiu retalhar a maior empresa da América Latina para vendê-la aos pedaços ao capital estrangeiro, reduzindo as chances brasileiras de uma retomada.
A explicação oficial para essas barbaridades é a busca do equilíbrio do orçamento público a fim de que os investidores recuperem a confiança no Brasil e retomem os investimentos privados. Isso é pura macaqueação. Não existe recuperação de confiança do investidor – do investidor verdadeiro, produtivo, não do picareta internacional em busca de ganhos financeiros de agiotagem – se não há perspectiva de demanda. Em crise, quando não há investimento deficitário do Estado, quanto mais se corta gasto público mais a economia afunda em recessão, e mais cai a receita tributária, exigindo mais cortes.
Entretanto, este é um raciocínio lógico, só justificável quando se tem diante de si um interlocutor também lógico, e de boa fé. Não é o caso. Temos uma corja de bandidos que se apossou do poder com o propósito deliberado de destruir o patrimônio nacional. A ideia básica e privatizar tudo, inclusive a área social, aí incluída a saúde e a Previdência, para abrir espaço para o capital estrangeiro nos sugar à vontade. Estão vendendo até a água, um bem público indispensável à vida. Diante disso, nossa expectativa é virar o jogo político num momento futuro. Chegado esse momento, não haverá direito adquirido para os vendilhões da pátria, e nem para seus compradores!
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