Enviado por Miguel do Rosário
Tô falando. A ditadura ainda está muito viva.
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Saiu no Vermelho.
Mario Cesar Fonseca da Silva, advogado e militante da rede memória, verdade e justiça em Mato Grosso do Sul acompanhou um ato de “descomemorar” os 50 anos do Golpe de 1964, na última terça-feira (1°/04). O “escracho” em frente a casa do tenente da reserva conhecido por Chico Dólar – assassino e torturador confesso de militantes oposicionistas dos governos militares – por pouco não acabou em tragédia. Segue abaixo o artigo de Mario Cesar.
Na condição de advogado e militante da luta pelo direito à memória, à verdade e à justiça, externo à sociedade sul-mato-grossense e a todo o Brasil que o tenente da reserva, José Vargas Jiménez, conhecido pelo codinome “Chico Dólar”, torturador e matador confesso de militantes da resistência à ditadura no Araguaia, atirou com a intenção de matar contra integrantes da União da Juventude Socialista de Mato Grosso do Sul (UJS-MS), quando estes faziam em frente à sua casa um protesto conhecido como “escracho”, que consiste em apontar e nominar torturadores do período do regime militar, exigindo sua punição.
No último dia 1º de Abril, quando o Golpe Militar completou 50 anos, de forma pacífica, do lado de fora da residência do facínora, no meio da rua, os jovens exibiam um varal de cruzes com os nomes e as fotos dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, enquanto faziam um jogral dizendo os seus nomes. Além disso, estenderam no chão faixas com os dizeres “ditadura, nunca mais” e “juventude do Araguaia presente”, cercando-as com velas acesas. As palavras de ordem instavam “Chico Dólar” a dizer o que sabe sobre o paradeiro dos corpos dos guerrilheiros, para que seus restos mortais pudessem ser entregues aos seus familiares para um sepultamento digno, e pediam a revisão da Lei da Anistia para, a exemplo de outros países, possibilitar o julgamento e punição dos crimes dos que violaram direitos humanos nos anos de chumbo.
Logo em seguida, familiares do torturador saíram do portão e começaram a esbravejar contra os militantes da UJS, chamando-os de “subversivos”, “comunistas” e “genocidas”, ao mesmo tempo em que rasgavam, recolhiam e queimavam os materiais do protesto, usando as velas acesas.
Considerando que já tinham cumprido com o objetivo, os manifestantes começaram a se retirar do local, quando, na mesma rua, foram abordados por um homem que já chegou se identificando como o próprio “Chico Dólar” (Foto ao lado) e dizendo: “já que vocês estão me chamando de assassino, eu digo que sou assassino mesmo e que vou matar vocês”. Imediatamente, com muito ódio, tremendo, sacou uma arma de fogo, aparentemente um revólver de calibre 38, e disparou três projéteis. Um dos tiros foi disparado a curta distância com a arma apontada diretamente para o estudante Leonardo Tonon Machado, que por muito pouco não o acertou. O último tiro foi disparado na direção de um grupo de seis estudantes que estavam um pouco mais longe, também quase os atingindo. Mesmo com os estudantes se retirando, continuou proferindo as ameaças de que iria matá-los.
Após isso, os manifestantes conseguiram escapar e, três deles, acompanhados profissionalmente por mim, foram à delegacia de polícia pedir que se fizesse um Boletim de Ocorrência, que acabou sendo registrado como homicídio doloso na forma tentada e disparo de arma de fogo, a averiguar. A propósito, registro meu repúdio às mentiras que “Chico Dólar” tem dito à mídia, afirmando que agiu em legítima defesa e que atirou para o alto. “Tiros para o alto”, “em legítima defesa”? Contra manifestantes desarmados que portavam apenas cartazes, faixas e velas acesas?
Exorto a todos que se solidarizem de forma ativa com Leonardo Tonon Machado, Gabriel Lima, Érico Bispo todos os jovens que, corajosamente, arriscando-se, ousaram expor a público um sujeito completamente desprovido de humanidade, capaz de qualquer coisa, e que ainda se diz “heroi nacional”. A liberdade de “Chico Dólar”, além de ser um escárnio para com as famílias dos desaparecidos, representa um perigo concreto contra a vida de todos os que buscam esclarecer e fazer justiça em relação aos crimes da ditadura. As entidades, partidos, militantes e autoridades públicas devem se esforçar para que este caso seja apurado e punido.
Prisão para Chico Dólar!
Pela revisão da Lei da Anistia!
*Mario Cesar Fonseca da Silva, advogado e militante da rede memória, verdade e justiça em Mato Grosso do Sul.
“Escracho” em frente a casa do tenente da reserva conhecido por Chico Dólar no MS
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