Um 
visitante tira fotos de uma aeronave de treinamento Super Tucano, 
durante a mostra BIDBrasil, na Base Aérea de Brasília, em 17 de agosto. 
(Foto: AFP/Evaristo Sá)
 indústria de defesa do Brasil está no 
auge, prestes a passar por um “boom”, apoiada por incentivos públicos em
 um país empenhado em modernizar suas Forças Armadas e criar um parque 
industrial com tecnologia de ponta e de exportação.
 “Os empresários estão felizes, veem um 
caminho positivo, existe uma vontade de crescer e investir; há cinco 
anos a situação era oposta”, explica à AFP o vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), Carlos Pieratoni Gamboa.
 A ABIMDE, que compreende 170 empresas, 
espera investimentos de US$ 120 bilhões a longo prazo e, para 2020, 
projeta duplicar os 25 mil empregos diretos que gera e elevar as 
exportações anuais do atual US$ 1,7 bilhão para US$ 4 bilhões.
 O Brasil, a sexta economia mundial e com 
um enorme território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, busca 
proteger milhares de quilômetros de fronteira e gigantescas reservas 
petrolíferas oceânicas, garantir a segurança na Copa do Mundo 2014 e nos
 Jogos Olímpicos 2016 no Rio, além de melhorar seu desempenho no combate
 aos desastres naturais.
 O país, que já foi o oitavo exportador 
mundial de produtos de defesa nos anos 80 e que hoje não passa do 30º 
lugar, segundo dados do setor, tem as maiores Forças Armadas da região, 
embora elas estejam dizimadas por mais de duas décadas sem investimentos
 em equipamentos.
 A relação da presidente e ex-guerrilheira
 Dilma Rousseff com os militares passou por momentos de tensão com a 
criação da Comissão da Verdade, que investigará torturas e 
desaparecimentos durante a ditadura (1964-1985). Mas ela e seu 
antecessor Luiz Inácio Lula da Silva também propiciaram o atual auge do 
setor ao retomarem os investimentos em equipamentos e considerarem 
estratégica uma indústria bélica nacional.
 O Brasil lançou em 2008 “uma estratégia 
nacional de defesa” e neste ano Dilma Rousseff aprovou um plano de 
incentivos à produção e compras nacionais.
 O Brasil comprou submarinos e 
helicópteros da França, com a condição de que este país transfira 
tecnologia e produção para o território brasileiro, ressuscitou o 
projeto de um submarino nuclear que pretende começar a construir em 2016
 e tem pendente a compra de 36 caças.
 “Necessitamos dessa indústria porque é 
estratégica em nossa soberania: pelo tamanho do nosso território, pela 
extensão das nossas fronteiras e por termos sido agraciados com enormes 
riquezas”, garante Rousseff.
 A política brasileira já atrai empresas internacionais que buscam mercados em um mundo em crise.
 “Há um nítido movimento de empresas 
estrangeiras buscando as brasileiras para associar-se”, uma estratégia 
que garante ao Brasil a transferência de tecnologia e aos estrangeiros o
 acesso a compras públicas que priorizam a indústria nacional, explica à
 AFP Oswaldo Luiz Guimarães, gerente de engenharia da brasileira Jaraguá.
 Esta empresa, que está ampliando sua área
 de defesa para aproveitar o bom momento, associou-se à italiana Oto 
Melara para fabricar canhões no Brasil e instalar um centro de 
assistência para a América Latina.
 O Brasil vê como mercados naturais seus 
vizinhos e outros países em desenvolvimento, com os quais intensificou a
 cooperação militar e industrial.
 Vários países latino-americanos 
participam de projetos como o desenvolvimento do novo avião de carga 
KC-390 da empresa aeronáutica Embraer, com indústrias da Argentina, 
Chile e Colômbia, que também o compraram.
 Para o diretor da página especializada na
 internet Defesanet, Nelson During, essa estratégia permite ao país 
ganhar clientes e contribui com uma indústria regional, ao mesmo tempo 
em que dilui o temor com um crescimento militar brasileiro.
 A brasileira Flight Technologies, que no 
fim de semana passado participou da primeira exposição da indústria de 
defesa em Brasília, beneficia-se dessas políticas: desenvolve aeronaves 
não tripuladas para proteger as fronteiras e já desperta interesse nos 
países vizinhos, explica à AFP seu gerente comercial, Noli Kozenieski.
 O orçamento para defesa no Brasil foi o 
10º do mundo em 2011, com US$ 36,6 bilhões, segundo o Instituto 
Internacional de Estudos Estratégicos (IIES), ainda que tradicionalmente
 mais de 80 por cento sejam para o pagamento de pessoal. Muitos 
investimentos, como a compra de aviões de caça, foram protelados.
 Segundo dados do Ministério da Defesa, o 
Brasil investe 1,5 por cento do PIB em defesa, menos do que alguns 
vizinhos e grandes países emergentes, embora os incentivos e algumas 
partidas adicionais prometam beneficiar o setor.
 “A situação é promissora” para a 
indústria brasileira, mas enfrenta desafios: que o governo garanta os 
investimentos que pretende apesar da crise e que o Brasil consiga 
posicionar-se nesse mercado altamente tecnológico e competitivo, além 
dos grandes exportadores como a Embraer, disse During à AFP.
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