Estará a Líbia, como o Iraque, a ser bombardeada com armas radioactivas?
“O 
mísseis com ogivas de urânio empobrecido (DU) encaixam perfeitamente na 
descrição de bomba suja… Eu diria que é arma perfeita para matar montes 
de gente” (Marion Falk, físico-química, Laboratório Lawrence Livermore, 
Califórnia, EUA)
Nas 
primeiras 24 horas do ataque à Líbia, aviões norte-americanos B-2 
despejaram 45 bombas de mil quilos. Não sabemos se estas bombas, mais os
 mísseis Cruzeiro lançados dos aviões e navios franceses e britânicos, 
contêm ogivas de DU. Mas se a prova passada do seu uso pelas forças 
militares dos EUA e Reino Unido serve de guia, pode muito bem acontecer 
que essas armas façam parte do bombardeio que a Líbia está a sofrer.
O DU é 
um detrito do processo de enriquecimento do minério de urânio. É usado 
em armas nucleares e em reactores. Por ser uma substância muito pesada 
(1,7 vezes mais densa que o chumbo), é muito valorizado pelos militares 
pela capacidade que tem de atravessar veículos blindados e edifícios. 
Quando uma arma com ogiva de DU atinge um objecto maciço, como o 
exterior de um tanque, atravessa-o e estoira numa nuvem de vapor. O 
vapor assenta na forma de poeira que é não só venenosa mas também 
radioactiva.
Efeitos a prazo
No 
impacto, um míssil de DU arde a 10 mil graus centígrados. Quando atinge 
um alvo, 30% fragmenta-se em pedaços. Os restantes 70% vaporizam-se em 
três óxidos altamente tóxicos, incluindo o óxido de urânio. Esta poeira 
negra fica suspensa no ar e, conforme o vento e o clima, pode viajar a 
grandes distâncias. Se acharem que o Iraque e a Líbia ficam muito longe,
 lembrem-se que a radiação de Chernobil atingiu o País de Gales.
Partículas
 com menos de 5 mícrons de diâmetro são facilmente inaladas e podem 
permanecer nos pulmões ou outros órgãos durante anos. No corpo, o DU 
pode causar danos no fígado, cancros nos pulmões e ossos, perturbações 
de pele, perturbações cognitivas, alterações de cromossomas, síndromes 
de imunodeficiência e doenças raras dos rins e intestinos. As mulheres 
grávidas expostas ao DU podem dar à luz a crianças com deficiências 
genéticas. Depois da poeira vaporizada não se espere que o problema 
desapareça rapidamente. Como emissor de partículas alfa, o DU tem uma 
semi-vida de 4,5 mil milhões de anos.
O caso do Iraque
No 
ataque ao Iraque “Choque e pavor”, só em Bagdad foram lançados mais de 
1500 mísseis e bombas. Seymor Hersh afirmou que só o Third Marine 
Aircraft Wing dos EUA lançou mais de “500 mil toneladas de artilharia”. 
Todas elas com ogivas de DU.
A 
Al-Jazira noticiou que as forças invasoras dos EUA dispararam 200 
toneladas de material radioactivo contra edifícios, habitações, ruas e 
jardins de Bagdad. Um repórter do Christian Science Monitor levou um 
contador Geiger para locais da cidade que tinham sido sujeitas a severos
 bombardeamentos por tropas dos EUA. Encontrou níveis de radiação 1000 a
 1900 vezes maiores do que o normal para áreas residenciais. Para uma 
população de 26 milhões, os EUA lançaram uma bomba de uma tonelada por 
cada 52 iraquianos ou 20 quilos de explosivos por pessoa.
Negócio de milhões
Nas 
primeiras 24 horas do ataque dos EUA e seus aliados foi lançada sobre a 
Líbia artilharia no valor de 115 milhões de euros. Muita dela, sem 
dúvida, destruiu armamento e instalações militares vendidas à Líbia 
pelos mesmos países que agora a bombardeiam. O relatório de controlo de 
armas da União Europeia diz que os estados membros passaram licenças em 
2009 para venda de armas e equipamento militar à Líbia no valor de mais 
de 330 milhões de euros. A Grã-Bretanha passou licenças a empresas de 
armamento para venda de 25 milhões de euros de armas e foi igualmente 
paga pelo coronel Gadafi para enviar as SAS (forças especiais) para 
treinar a sua 32.ª Brigada.
Forte suspeita
No 
Iraque, é amplamente reconhecido (mas não pelos governos ou pelos 
militares) que houve uso extensivo de armamento radioactivo, como DU. 
Isto é provado de forma irrefutável pelo imenso crescimento do número de
 crianças nascidas com defeitos genéticos e de pessoas que contraem 
cancros e outras doenças. Esperamos que, no caso da Líbia, o silêncio 
que todos os governos guardam acerca deste assunto signifique que não 
foram usadas armas de DU.
Mas a 
tragédia é que só o podermos saber anos após os bombardeamentos, como o 
povo de Faluja, no Iraque, está agora a descobrir através das horríveis 
consequências do bombardeamento da cidade, em 2004, com armas de DU e de
 fósforo branco.
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