Do The Diplomat
No Viomundo
Kenneth Waltz conversa com Zachary Keck sobre seu controverso artigo na Foreign Affairs, ”Why Iran Should Get the Bomb”, sobre a China, os problemas entre Índia-Paquistão, terrorismo e mais.
Ao longo dos anos você entrou no debate político em apenas 
algumas ocasiões de sua escolha, como nas críticas à guerra dos Estados 
Unidos no Vietnã. Isso me leva a perguntar: o que o fez escrever sobre a
 questão nuclear iraniana?
Pensei que era uma questão importante que não estava sendo discutida 
adequadamente. A questão estava sendo definida de forma estreita, em 
termos do Irã. Mas há outras lições importantes além do país e da região
 que precisam ser consideradas e que podem ser aplicadas ao caso do Irã.
 Eu estava interessado no que poderia contribuir neste aspecto do 
debate. Mas fiz isso principalmente porque a [revista] Foreign Affairs 
pediu.
Os formuladores de política trabalham da perspectiva de seus 
próprios interesses nacionais. Como você nota no artigo para a Foreign 
Affairs, Israel obtém benefícios substanciais com seu monopólio nuclear 
regional e um Irã nuclearmente armado reduziria significativamente a 
liberdade de ação de Israel e dos Estados Unidos na região. Qual é o 
incentivo para que formuladores de política israelenses e 
norte-americanos evitem que o Irã obtenha armas nucleares?
Claramente Israel tem um grande interesse em evitar 
que o Irã se torne um estado nuclear. Não acho que o mesmo se aplique 
aos Estados Unidos. O interesse norte-americano de longo prazo é que a 
região seja estável e pacífica. A existência de um único poder nuclear 
sem equilíbrio é receita para instabilidade a longo prazo. O dado 
impressionante é que Israel tenha conseguido se manter o único poder 
nuclear por tanto tempo! Neste sentido, Israel é uma anomalia. A 
anomalia será removida se o Irã se tornar um poder nuclear.
Quando o governo Obama assumiu o poder, muitos ofereceram a 
visita de Nixon à China como um modelo que o presidente Obama poderia 
seguir para acabar com a natureza contraditória das relações Estados 
Unidos-Irã. Não se disse, no entanto, que a reaproximação 
sino-estadunidense ocorreu depois que a China obteve disuassão nuclear 
confiável (embora não necessariamente por causa disso). Poderia a 
conquista de uma arma nuclear pelo Irã tornar a reaproximação com os 
Estados Unidos  mais provável no futuro?
Não sei se seria uma reaproximação genuína. Mas penso que, como 
aconteceu com outros países nucleares que temíamos originalmente, os 
Estados Unidos virão a aceitar o Irã como um estado nuclear, refletindo 
um padrão bem estabelecido. Nós nos opomos a qualquer estado do qual não
 gostamos e desconfiamos quando ele se torna nuclear. Quando isso 
acontece, não temos escolha a não ser viver com isso. Então poderemos 
ter uma relação muito mais calma com o Irã do que temos agora.
Você frequentemente aponta para a relação Índia-Paquistão 
como exemplo de onde a introdução de armas nucleares estabilizou uma 
relação antes inclinada para a guerra. Alguns leitores do Diplomat na 
Índia devem se perguntar se tiraram alguma vantagem disso. Embora 
nenhuma grande guerra tenha sido iniciada desde os testes nucleares de 
1998, grupos terroristas paquistaneses promoveram uma série de ataques 
dentro da Índia, aos quais Nova Delhi teve dificuldade para responder 
por causa do poder disuassório nuclear de Islamabad. Dado que o tamanho 
da população e da economia da Índia fazem dela um poder militar 
convencional muito maior, Islamabad não se conteria mais se os dois 
poderes não tivessem armas nucleares?
A Índia naturalmente não queria que o Paquistão se tornasse um estado
 nuclear. Um segundo estado nuclear naturalmente prejudica o primeiro. É
 difícil imaginar um estado nuclear aceitando facilmente ou 
graciosamente que seu adversário se torne nuclear. Mas certamente, a 
longo prazo, as armas nucleares significaram paz no subcontinente. Isso 
em grande contraste com as expectativas da maioria das pessoas. 
Abundaram declarações de especialistas, acadêmicos e jornalistas 
sugerindo que as armas nucleares significariam guerra no subcontinente. 
Todos estes especialistas negaram que o relacionamento entre a Índia e o
 Paquistão poderia vir a ser parecido com o que houve entre Estados 
Unidos e União Soviética. Quando dois países tem armas nucleares se 
torna impossível para qualquer deles atacar os interesses 
manifestadamente vitais do outro. Ainda é possível, no entanto, que 
estados nucleares se envolvam em escaramuças e elas podem ser mortais. 
Um exemplo histórico disso foram as disputas fronteiriças entre União 
Soviética e China (1969) e mais recentemente os ataques em Mumbai. Mas 
nunca estas escaramuças sairam de controle para provocar uma guerra 
abertamente declarada.
Na Foreign Affairs e em outros lugares você disse que muitos 
estados se tornam menos agressivos depois de obter o poder disuassório 
nuclear. Um país que não parece seguir este padrão, no entanto, é a 
Coreia do Norte. As ações de Pyongyang em anos recentes incluem o 
afundamento do [navio] Cheonan e os ataques a Yeonpyeong [na Coreia do 
Sul]. O que impediria o Irã, armado com bombas nucleares, de seguir o 
mesmo padrão?
É verdade que a Coreia do Norte tem se envolvido em negócios 
nefastos. Mas é importante ter em mente que não é um rompimento com a 
tradição. O regime de Kim se engajou em terrorismo e provocações por 
décadas — você pode se lembrar que a Coreia do Norte foi responsável 
pelo assassinato de vários ministros da Coreia do Sul em 1968. Assim, é 
verdade que a Coreia do Norte não se tornou completamente pacífica desde
 que conseguiu armas nucleares. Mas ao mesmo tempo não penso que se 
tornou muito mais agressiva. Na verdade, tem sido notavelmente constante
 em sua tendência de ameaçar a Coreia do Sul.
O objetivo de abolir armas nucleares recebeu uma grande 
atenção em anos recentes, com alguns formuladores de política alinhados 
ao realismo dando apoio à ideia. Você se mantém cético. Por que?
O presidente Obama e vários outros advogam a 
abolição das armas nucleares e muitos aceitaram este objetivo como 
desejável e realista. Mesmo considerar o objetivo e contemplá-lo me 
parecem estranhos. De um lado o mundo conhece as guerras desde tempos 
imemoriais até agosto de 1945 [quando os Estados Unidos detonaram a 
bomba de Hiroshima]. Desde então, não houve guerras entre os maiores 
estados do mundo. A guerra foi relegada a estados periféricos (e, 
naturalmente, dentro deles). As armas nucleares são as únicas armas 
promotoras da paz que o mundo já conheceu. Seria estranho para mim 
advogar a abolição delas, já que tornaram as guerras praticamente 
impossíveis. Minhas ideias são reforçadas e melhor explicadas no [livro] Spread of Nuclear Weapons, que escrevi com Scott Seagan.
Em recente entrevista a James Fearon, você predisse que o 
período do mundo unipolar em breve acabaria e apontou a China como o 
país emergirá como o próximo superpoder. Qual deveria ser a resposta dos
 Estados Unidos ao crescente poder da China? Você acha que a nova 
política do governo Obama na Ásia é devida ou os Estados Unidos não 
deveriam se preocupar demais, dada a estabilidade inerente à 
bipolaridade e ao fato de que os dois países são poderes nucleares?
Deveríamos nos preocupar, naturalmente, como qualquer país se 
preocupa quando as relações de poder no mundo mudam. Certamente, os 
Estados Unidos estão dedicando maior atenção à Ásia. Isso é justificável
 por vários motivos, inclusive pela crescente importância econômica da 
Ásia. Não há razão para os Estados Unidos ficarem preocupados 
indevidamente com a crescente importância da China. A China não pode 
usar suas armas nucleares para intimidar, não mais que os Estados 
Unidos. A situação entre os dois grandes poderes é inerentemente estável
 por esta razão. Entre os Estados Unidos, a China e entre outros grandes
 poderes, vai haver um extenso período de ajustamento sobre uma série de
 questões locais (China e Japão, China e o Sudeste da Ásia, demandas da 
China sobre ilhas, etc.). Mas estas devem ser disputas menores e não 
devem ser encaradas como perigosas.
Finalmente, qual é sua avaliação geral da política externa do
 governo Obama? O que, em sua opinião, ele fez certo e onde há 
necessidade de mudanças?
O governo Obama fez bem ao tentar reduzir a proeminência da dimensão 
militar na política externa norte-americana. Mas há muito por fazer. 
Nossos gastos militares não foram reduzidos tanto quanto deveriam ter 
sido. Os Estados Unidos não enfrentam ameaça militar fundamental e 
raramente um país esteve nesta posição. Precisamos completar a retirada 
do Afeganistão. O motivo que nos leva a seguir o exemplo tolo e secular 
de ficar atolado naquele país me escapa. No Iraque, erramos ao invadir. 
Por isso apoiei a retirada do Obama. Gostaria de ver o mesmo no 
Afeganistão o mais rapidamente possível. O governo Obama também adotou 
uma política mais sistemática em relação ao terrorismo. O governo Bush 
reagiu com força a um ataque terrorista, mas o terrorismo como ameaça a 
interesses norte-americanos foi grandemente exagerado nestes anos — 
houve um exagero absurdo na reação. A reação do governo Bush ao 
terrorismo não foi surpreendente porque tinhamos tido pouca experiência 
com o terrorismo internacional. Mas o governo Obama adotou uma política 
mais equilibrada — um sinal da crescente sabedoria que advém de anos de 
experiência sobre o significado do fenômeno. Em geral, esse equilíbrio 
tem sido uma característica da política externa do governo Obama.
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