sábado, 22 de outubro de 2011
A bela Tripoli antes da invasão dos Estados Unidos e da OTAN
Estamos em Tripoli, ano 1979.
Esta noite quase não consegui pegar no sono.
No hotel  onde estava hospedado, alem dos diplomatas e alguns jornalistas, estavam  também delegações de países africanos de língua portuguesa.
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, etc.
E foram eles  que não me deixaram pegar no sono já que, sabendo que eu teria um  encontro com Kadafi no dia seguinte, queriam que eu lhe pedisse mais  explicações sobre o socialismo Líbio.
Disseram que nunca haviam visto algo igual. Nem mesmo em livros.
Ficaram admirados com a Lei do Colchão (veja post abaixo), com a assistência medica, remédios e educação tudo gratuito.
E pelo fato  de ninguém ser obrigado a trabalhar na Líbia e mesmo assim receber uma  remuneração “ fantástica”  no dizer de um angolano.
Prometi que  tentaria obter uma resposta, desde que, de fato, eu conseguisse falar  com Kadafi, por saber  que ele era imprevisível e não poucas vezes  deixou jornalistas aguardando ad infinitum.
Antes, preciso esclarecer que as portas dos apartamentos dos hotéis não possuíam fechaduras.
Por isso todos podiam entrar no apartamento de todos razão pela qual nossos apartamentos eram sempre “visitados”.
Perguntei ao gerente do hotel a razão da falta de fechaduras. 
Respondeu que na Líbia não havia ladrões como na “época da colonização italiana e por isso as fechaduras eram prescindíveis”.
Mas um  diplomata me esclareceu que a falta de fechaduras era para que os  “fiscais” do governo pudessem entrar a qualquer hora do dia ou da noite  para ver se não havia mulheres “convidadas” nos apartamentos. 
“Porque,  prosseguiu o diplomata, os líbios até hoje falam que durante a  colonização italiana e o reinado de Idris, os hotéis serviam apenas para  orgias”.
No dia seguinte me preparo para o encontro com Kadafi.
Manse, com a sua câmera e Belo com seu gravador Nagra me aguardavam ao lado do elevador.
Com cara de sono, reclamaram que seus apartamentos foram “penetrados” umas três vezes de madrugada e foi um susto só.
O carro enviado pelo governo nos esperava na entrada, mas Manse queria tomar mais um cafezinho.
Entrei no carro e aguardei.
Cinco minutos depois Luis Manse, com sua inseparável câmera chegava sozinho.
Perguntei pelo Belo, ele disse que o imaginava comigo.
Perguntei ao nosso acompanhante se ele havia visto o nosso companheiro.
Imediatamente ele foi à portaria perguntar.
Um rapaz  simpático respondeu que tinha visto Belo acompanhado por dois policiais  uniformizados a caminho da praça que ficava a uns cinqüenta metros do  hotel.
Fiquei preocupado, imaginando o pior.
Jornalista acompanhado por policiais no Brasil nunca era um bom augúrio.
Continua...http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

Nenhum comentário:
Postar um comentário