Por Erick M
China, de país rural a urbano
Pela 1ª vez na História, população nas cidades supera a do campo. PIB no 4º trimestre fica acima do previsto e sobe 9,2% em 2011
Em meio ao anúncio de que a economia chinesa cresceu no quarto trimestre de 2011 a um ritmo anualizado de 8,9% - ligeiramente superior à previsão de 8,7% de analistas, mas no menor patamar em dez trimestres -, outra informação bem mais importante foi divulgada ontem pelo Escritório Nacional de Estatísticas, sem chamar atenção: em 2011, pela primeira vez em sua história, a população urbana da China superou a rural. O país, de 1,347 bilhão de habitantes, entra em 2012 com 690,7 milhões de chineses morando em áreas urbanas (51,2%) e 656,5 milhões em áreas rurais. Não é um fenômeno espontâneo, mas induzido pelo governo de Pequim, que já percebeu que o futuro da sua economia só estará garantido se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) for de fato sustentável.
p>Para isso, a China precisa reduzir sua enorme dependência das exportações (que hoje têm um peso de 38% no PIB) e dos investimentos públicos e privados (outros 35% do PIB) e apostar mais na criação de um sólido mercado consumidor doméstico. Desde o início da implementação das reformas econômicas na China, na década de 80, o governo de Pequim estimulou a migração controlada de sua população rural para os centros de forma a criar uma massa trabalhadora barata (e passiva), um fenômeno que justificou a transferência de milhares de fábricas de vários países para o território chinês nos últimos anos. De lá, as exportações chinesas - a maioria de empresas estrangeiras ali instaladas - ganharam o mundo. Crescimento garante estabilidade política
Para os camponeses chineses, acostumados a trabalhar de sol a sol numa lavoura que mal lhes dá a chance de sobreviver com dignidade, um salário mensal de US$50 por uma jornada de 12 horas numa fábrica de cacarecos na grande cidade virou um belo projeto de vida, sobretudo entre os mais jovens e menos instruídos. O benefício da migração controlada foi a criação de uma classe média urbana e consumidora estimada em cerca de 250 milhões de pessoas (18,5% da população).
Mas há percalços para este projeto de consolidação do mercado doméstico chinês. A começar pela natureza do governo, que de comunista hoje tem muito pouco. Como não há um sistema universal gratuito de saúde e as aposentadorias estão restritas ao funcionalismo público federal, às grandes estatais e às maiores empresas do setor privado, os chineses - empresas e famílias - poupam ferozmente para se garantir num futuro duvidoso. A taxa de poupança das famílias chega a 30% do PIB, enquanto as empresas poupam o equivalente a 26% do PIB.
Desde a década de 90, o Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC) vem discutindo uma saída para este impasse, sempre preocupado com a garantia do crescimento econômico. Afinal, o presidente Hu Jintao, o primeiro-ministro Wen Jiabao e suas bases de apoio sabem que, numa ditadura política que prende até blogueiros que criticam o governo, o desenvolvimento econômico é uma maneira de legitimizar a permanência do PCC no comando do país. Se o crescimento do PIB cai muito abaixo dos 8% ao ano, para os comunistas chineses, a estabilidade política corre riscos.
Mas analistas preveem que o choque global oriundo da turbulência na zona do euro - e seus efeitos nas exportações chinesas - deve empurrar o PIB chinês para um patamar abaixo de 8% nos próximos meses. Segundo o "Financial Times", alguns chegam a apostar numa expansão de 7,5%. Esse quadro pressiona o governo a afrouxar as medidas de aperto adotadas no início de 2011 para conter a inflação anualizada, que caiu de 6,5% em julho para 4,1%, em dezembro. A meta do governo é 4% ao ano. A inflação acelerou depois que o governo ampliou os investimentos para estimular a economia, na crise financeira de 2008. Em todo o ano de 2011, a economia do país cresceu 9,2%, ante 10,4%, em 2010.
E há as consequências da urbanização. Com a alta progressiva dos salários e presença maior das multinacionais, os chineses passaram a exigir remunerações ainda maiores e mais benefícios. Tanto que muitas empresas já decidiram expandir suas fábricas da China para países periféricos, como Vietnã ou Camboja.
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