Corrida aos caixas eletrônicos aumentou com a crise política e o temor de que Atenas seja obrigada a deixar a zona do euro
Andrei Netto, correspondente
PARIS - Para muitos experts, é o primeiro sinal de caos
na economia da Grécia. Desde a última segunda-feira, entre € 700 bilhões
e € 1,2 bilhões em dinheiro foi retirado por clientes do sistema
financeiro do país. A iniciativa demonstra a preocupação crescente da
opinião pública com os desdobramentos da crise política grega e o risco
crescente de que Atenas seja obrigada a deixar a zona do euro e a União
Europeia. Desde 2009, quando do início da crise das dívidas, mais de €
60 bilhões já foram retirados dos bancos, que sofrem problemas de
capitalização.
De acordo com o documento, Papoulias advertiu seus interlocutores que mais de € 700 milhões haviam sido retirados dos bancos apenas na segunda-feira. Citando o presidente do Banco Central da Grécia, George Provopoulos, o chefe de Estado afirma: "Provopoulos me disse que não se tratava de pânico, mas de grande medo que poderia evoluir para pânico". A transcrição também revela que as autoridades acompanham o caso hora a hora. "Quando eu liguei, às 16h, as retiradas excediam € 600 milhões e atingiriam € 700 milhões. Ele esperava a saques totais da ordem de € 800 milhões", advertiu Papoulias. Insensíveis ao drama, o líder da Nova Democracia (centro-direita), Antonis Samaras, do Partido Socialista (Pasok), Evangelos Venizelos, e Alexis Tsipras, da Coalizão Esquerda Radical (Siriza), não chegaram a um acordo para a formação de um governo de coalizão.
Hoje, o jornal britânico Financial Times indicou que os saques já teriam superado € 1,2 bilhão desde a segunda-feira, o que representaria 0,75% do total de depósitos do país. Desde 2009, quando do início da crise das dívidas, mais de € 60 bilhões já foram retirados dos bancos. Até fevereiro, segundo informou ao Estado a diretora-executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Miranda Xafa, o sistema financeiro grego já havia perdido mais de 30% de seus depósitos desde o início da crise das dívidas soberanas, em dezembro de 2009.
O problema é ainda mais grave porque o sistema financeiro local é um dos mais frágeis da Europa, segundo demonstraram os testes de estresse coordenados pelo Banco Central Europeu (BCE). Ontem, o presidente da instituição, Mario Draghi, afirmou que não lhe cabe decidir sobre a permanência ou não da Grécia na zona do euro, mas garantiu que a autoridade monetária seguirá "cumprindo seu mandato". Draghi, enfim, emitiu sua opinião: "Quero declarar que nossa forte preferência é de ver a Grécia permanecer na zona do euro".
Segundo a agência Reuters, o BCE suspendeu ontem as operações monetárias com bancos gregos que não passaram por recapitalizações. Bancos do país também estariam operando com capital negativo, ainda conforme a agência, o que cria um ciclo vicioso, pois o BCE não pode suprir com mais liquidez instituições nessa situação, por questões legais.
Na terça-feira, em Berlim, o novo presidente da França, François Hollande, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, reafirmaram que desejam que Atenas permaneça no grupo de 17 países que compartilha a moeda única. Nas entrelinhas, porém, afirmaram que interpretarão o resultado das urnas em 17 de junho como "a vontade dos gregos". Pesquisas de opinião realizadas até aqui indicam que o Siriza, um partido que deseja o rompimento do plano de socorro - mas não a saída do euro -, é o favorito para obter a maioria do parlamento.
"É muito bom que, a um mês da eleição, a chanceler Angela Merkel e o presidente François Hollande tenham defendido a manutenção da Grécia no euro", entende Alexandra Estiot, analista do banco francês BNP Paribas. A economista adverte, entretanto, que um eventual fracasso não pode ser considerado uma fatalidade. "A comunidade internacional, os credores privados da Grécia e os gregos mesmo trabalharam muito para evitar o divórcio", afirma.
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