Luz que cai do céu
ROBERTA MACHADO, Correio Braziliense - 26/12/2012
O Brasil se prepara para instalar a primeira fábrica capaz de
realizar todo o processo de produção de células fotovoltaicas. A medida
ajudará o país a acompanhar a revolução em andamento na área da energia
solar
Neste fim de ano, os governos brasileiro e francês assinaram um
acordo que deve, finalmente, trazer a tecnologia de produção de células
fotovoltaicas para o país. Até então, a fabricação dos equipamentos no
Brasil se resumia à montagem de peças importadas. A nova fábrica, com
projeto previsto para o próximo ano, poderá realizar todo o processo,
desde a purificação do silício à produção de módulos. A ação é essencial
para o barateamento das células no mercado interno, além de incluir o
país na revolução tecnológica pela qual têm passado os coletores de
energia.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Energias Alternativas
e Meio Ambiente (Abema), o preço da energia fotovoltaica, um dos
grandes culpados pela resistência a esse tipo de fonte, caiu no último
ano de US$ 1,50 para US$ 0,50 por watt. Se esse ritmo continuar, prevê a
entidade, o custo da eletricidade de origem solar deve se igualar ao
das outras fontes até 2015. "A competição com a eólica e outras
tecnologias de fontes renováveis tem feito a energia solar caminhar a
passos gigantes", avalia Ruberval Baldini, presidente da associação.
Para o especialista, o preço mais atraente vai impulsionar as
pesquisas já em andamento em todo o mundo. "Existe uma busca por
materiais e processos sustentáveis, e a entrada desses produtos e
métodos na indústria dependerá do impacto econômico que causem",
completa.
Esse embate financeiro faz com que, pelo menos por enquanto,
descobertas fiquem restritas ao laboratório. É o caso de uma célula
fotovoltaica, inspirada nos girassóis, desenvolvida na Universidade de
Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos. Apoiado numa combinação de
elastômero líquido-cristalinos e nanotubos de carbono, o conjunto se
contrai na presença do calor, o que leva a célula a se curvar para o sol
e absorver mais luz. "Com o aperfeiçoamento dos materiais e do design,
conseguiremos a mesma eficiência de modelos com GPS e motores. Nosso
custo seria mais baixo", adianta Hongrui Jiang, criador dos módulos
móveis. "Mas nosso método ainda está na fase de pesquisa."
Sonhos
Ainda nos Estados Unidos, pesquisadores
propuseram uma técnica para a fabricação de células com qualquer
semicondutor. O método, que dispensa o tratamento químico de polarização
do material, poderia dar fim à dependência do silício, principal
matéria-prima desses equipamentos. Outras ideias que devem levar anos
para chegar ao mercado variam de módulos em formato de funil a células
escuras que absorvem o espectro infravermelho da luz solar. Na semana
passada, engenheiros da Universidade de Stanford descreveram na revista
Scientific Reports a criação de células adesivas, que podem ser
aplicadas como decalques em qualquer superfície. São módulos finos e
maleáveis que se descolam da estrutura rígida com água.
"Essas outras técnicas estão em nível de laboratório. Ainda é muito
cedo para sabermos se serão usadas em alta escala", avalia Adriano
Moehlecke, coordenador do Núcleo de Tecnologia em Energia Solar da
PUC-RS. De acordo com ele, mesmo que as células de hoje enfrentem o
preconceito pelo alto preço, a estabilidade e a eficiência comprovadas
do modelo atual satisfazem às necessidades do mercado.
Para Moehlecke, a tendência do mercado de esperar o barateamento da
tecnologia pode ser justamente o que trava o desenvolvimento do mercado.
"Todo mundo espera que, de um dia para o outro, tenhamos a invenção de
uma célula solar com a mesma eficiência e um custo de 1%. Podemos
trabalhar nisso, mas não teremos esse sonho de uma hora para a outra.
Essa expectativa freia o uso da energia solar", acredita. A tecnologia,
aponta o especialista, já vale a pena. Estima-se que o investimento em
célula tradicional seja compensado muito antes do término de sua vida
útil, que pode chegar a 30 anos.
Em países que adotaram o modelo tradicional de células, como o Japão,
as novidades tecnológicas entram com mais facilidade no mercado e
ajudam a reduzir os gastos energéticos. Uma companhia de
eletrodomésticos anunciou recentemente a venda de painéis
semitransparentes que podem ser instalados em janelas e varandas, e o
Centro de Tecnologia Industrial do país criou um tecido que poderá ser
usado em breve para a fabricação de roupas fotovoltaicas.
O arquipélogo asiático, segundo país do mundo no uso de coletores
fotovoltaicos, também criou subsídios para a energia renovável e planeja
a construção de um imenso parque solar a apenas alguns quilômetros da
Usina de Fukushima-Daiichi, cenário de um desastre nuclear em março
passado. Para Moehlecke, o apoio do governo é a maior ferramenta de que
os pesquisadores precisam neste momento crucial. "Se não houver
incentivo, nada vai ocorrer nos próximos anos. O importante é que,
gerando energia na ponta, o governo não precisa investir em novas
centrais."
Economia
A instalação de 9m² de células no
telhado de uma casa pode produzir, em média, 130Kw por mês. A um custo
inicial de R$ 9 mil, o investimento pode render uma economia de quase R$
60 mensais. Uma família que gasta 300Kw por mês, por exemplo,
recuperaria o dinheiro gasto em 12 anos.
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