SÃO PAULO, 28 Dez (Reuters) - Fortes intervenções das autoridades brasileiras no mercado de câmbio levaram o dólar a encerrar 2012 ligeiramente acima de 2 reais, dentro de uma banda informal que o governo considera ideal para estimular as exportações sem causar grandes danos à inflação.
O intervencionismo estatal gerou grande desconforto entre investidores e analistas que, apesar de esperarem manutenção da taxa de câmbio acima de 2 reais em 2013, preocupam-se com possíveis mudanças na estratégia do governo.
A moeda norte-americana encerrou a última sessão do ano cotada a 2,0447 reais na venda, praticamente estável em relação à véspera, mas acumulando em 2012 alta de 9,43 por cento sobre o real.
"O dólar fechou o ano nesse nível por causa do governo. Se não fosse por isso, a moeda estaria rondando 1,60 real", afirmou o economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos.
A divisa norte-americana iniciou o ano cotada em torno de 1,80 real, mas massivas injeções de liquidez por bancos centrais de países desenvolvidos chegaram a trazer o dólar para cerca de 1,70 real, com investidores à procura de maior rentabilidade em mercados emergentes.
BC e governo iniciaram então a chamada "guerra cambial", anunciando intervenções e medidas para segurar a valorização excessiva do real e proteger o país do que a presidente Dilma Rousseff frequentemente chama de um "tsunami monetário".
Entre as ações, vieram leilões de compra de dólares no mercado à vista e alterações na cobrança do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos externos.
Juntamente com um período de aversão ao risco no exterior, as intervenções surtiram efeito e, em junho, o dólar disparou e ameaçou ultrapassar 2,10 reais. O BC, então, passou a atuar na ponta oposta, interrompendo a alta com leilões de swap cambial tradicional, equivalentes a venda de dólares no mercado futuro e que ajudam a puxar a cotação da divisa para baixo.
As ações chegaram a derrubar o dólar para 1,98 real, levando o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, a declarar que o dólar abaixo de 2 reais não era bom para a indústria.
Estabeleceu-se, assim, a banda informal de 2,0 a 2,1 reais que viria a vigorar praticamente durante todo o resto do ano. Nos quase quatro meses seguintes, o dólar se manteve em torno de 2,03 reais.
Embora as autoridades nunca tenham declarado a existência de uma banda, o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu um sistema de "flutuação suja" no país.
"O governo brasileiro faz bem em administrar a flutuação do câmbio", avaliou o Professor Doutor do Instituto de Economia da Unicamp Pedro Rossi.
"O padrão de volatilidade da taxa de câmbio brasileira nos últimos seis meses mudou completamente e a volatilidade é a mais baixa desde que findou o regime de bandas cambiais em 1999", completou.
Neste final de ano, no entanto, o mercado de câmbio saiu do marasmo e viu o dólar raspar em 2,14 reais devido a expectativas de que o governo favoreceria um real mais desvalorizado para impulsionar as exportações.
Mais uma vez, no entanto, o governo interveio.
O mês de dezembro foi marcado por uma enxurrada de leilões de venda de dólares com compra conjugada, cujo objetivo primordial é prover liquidez ao mercado no fim do ano, quando normalmente há escassez de moeda estrangeira. Como resultado, o dólar recuou 4,04 por cento em dezembro.
BC e governo também reverteram parte das medidas tomadas no início do ano e reabriram a torneira para entrada de dólares no país, o que trouxe novamente a moeda para abaixo de 2,10 reais. O tiro de misericórdia foi dado na última quarta-feira, quando a autoridade monetária realizou dois leilões de swap cambial tradicional com o dólar já em baixa e em torno de 2,07 reais.
INFLAÇÃO E CRESCIMENTO
Trazer o dólar para abaixo de 2,05 reais neste final do ano é uma tentativa do BC de ancorar as expectativas de inflação para 2013 e trazer mais previsibilidade aos investidores, segundo analistas.
Uma importante fonte da equipe econômica disse à Reuters no início de dezembro que o dólar em torno de 2,03 e 2,04 reais agrada a boa parte da equipe da presidente Dilma Rousseff, pois aumenta a competitividade das exportações brasileiras e favorece os investimentos, sem pressionar a inflação.
"Na ótica do BC existe o interesse de evitar um deslocamento muito grande das expectativas", afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, referindo-se ao papel de regulador da autoridade monetária.
Um real muito desvalorizado aumentaria ainda mais as pressões inflacionárias, que poderiam ameaçar o projeto do governo de manter as taxas de juros na mínima histórica de 7,25 por cento ao longo do ano que vem.
Nesse contexto, o dólar tem pouco espaço para subir mais, afirmam economistas. Segundo eles, a estabilidade da taxa cambial deve ser a bandeira defendida pelo governo ano que vem para trazer previsibilidade e incentivar investimentos do setor privado no país.
"Todo esse intervencionismo dificultou o ambiente de negócios", afirmou Santos, do BES Investimento. "O real continua sujeito a variações por causa do ambiente externo, mas a tendência do governo é deixar o dólar se mexer o menos possível. Acredito que dessa vez aprenderam a lição", emendou o economista-chefe.
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