(Alguns dos mais imundos momentos
da imprensa-empresa dos EUA, durante o ano)
27/12/2012 - FAIR, Fairness
& Accuracy in Reporting
Traduzido e comentado pelo pessoal
da Vila Vudu
(Aconteceu
nos EUA. Mas no DESJORNALISMO BRASILEIRO, o negócio é MUUITO
PIOR)
A
organização
FAIR,
Fairness & Accuracy in Reporting
[Correção
e Investigação Acurada na Reportagem] distribuiu sua lista de Prêmios
Des-Pulitzer [P.U.-litzer Prizes] de 2012: “Os momentos mais sórdidos da
imprensa-empresa no ano que se encerra (nos EUA)”.
A
lista é interessantíssima, porque, mudando os nomes dos jornalistas, não é
difícil encontrar no Brasil não um, mas DÚZIAS de jornalistas que fazem, no
Brasil-2012, o mesmo monumentalmente péssimo jornalismo; e não o fazem só uma
vez, mas vááárias vezes por dia, em matérias
desavergonhadamente REPETIDAS incontáveis vezes, pelas redes
comerciais de televisão aberta e também pelas redes a cabo.
Muitas
dessas práticas que a FAIR
des-premiou como casos excepcionais, com pequenas variações, fazem o
dia-a-dia do “jornalismo” brasileiro.
Não
há dúvidas de que as televisões comerciais no Brasil – sobretudo as redes que
mantêm noticiários e programas de entrevista nos canais a cabo, que são PAGOS
por telespectadores consumidores – vendem, aqui, O PIOR JORNALISMO DO MUNDO.
Se
a imprensa-empresa brasileira (o chamado GRUPO GAFE – Globo-Abril-Folha de
S.Paulo-Estadão; as mesmíssimas empresas comerciais reunidas no PiG – Partido da
imprensa Golpista) absolutamente não reconhece os direitos democráticos dos
partidos e dos eleitores que elegeram os seus representantes que governam o
Brasil...
temos
de ter meios, pelo menos, para EXIGIR que a imprensa-empresa, no Brasil-2012,
respeite, pelo menos, os CONSUMIDORES PAGANTES, né-não?!
Se
não temos STF que nos salve dos jornalistas, dos jornais e das televisões da
imprensa-empresa no Brasil... talvez tenhamos algum delegado de delegacia do
Consumidor? O Instituto de Defesa do Consumidor, IDEC? Quem?
Vejam
aí a lista dos des-prêmios e dos jornalistas e veículos des-premiados da FAIR e pensem bem: coisas semelhantes e
outras, muito piores, acontecem DIARIAMENTE nas redes da imprensa-empresa
comercial no Brasil. Isso é fato!
Lista
dos premiados do DESJORNALISMO-2012!
Mais
uma vez houve muito mais indicados do que seria possível premiar. Todos
mereceriam os prêmios. Assim sendo, considerem essa lista como simples amostra
da informação falseada, da distorção na notícia, de que todos fomos vítimas
durante o ano [nos EUA].
–
Prêmio “Obscura Arte da Distorção Sutil”: Alex Altman, revista Time
Quando a revista
Time pôs-se a comparar mentiras de Obama e Romney, logo encontrou
um terrível problema: a campanha de Romney produziu mentiras imensamente
maiores, mais graves, mais substanciais. Como manifestar “isenção” e
“equilíbrio” ante tal fato? Altman
explicou (3/10/12)
que “não raras vezes, a mentira mais efetiva esconde-se na que parece mais
próxima da verdade; o time de Obama superou Romney várias vezes na obscura arte
da distorção sutil”.
–
Prêmio “Só empresários e presidentes-de-banco entendem de tudo”: Noticiário “CBS
Evening News”
Com a mídia-empresa em Washington
em pânico total à beira do “despenhadeiro fiscal”, o noticiário CBS Evening
News pôs-se a entrevistar um
estranhíssimo grupo de “especialistas” : só presidentes-de-bancos e de
grandes empresas. Dia 19/11, os entrevistados foram Lloyd Blankfein, do Bank of Goldman Sachs, como se fosse
especialista em orçamento público.
Noite seguinte, David Cole, presidente da Honeywell. Na terceira noite... Outra
vez Blankfein! A dupla é parte ativa da campanha “Acertem o déficit a qualquer
custo”, paga pelos maiores bancos e empresas do país, que prega cortes cada vez
mais fundos nos investimentos públicos, além de cortes de impostos para eles
mesmos.
–
Prêmio “Investigar amigo, sóssifô muito superficialmente”: David Gergen, CNN
Quando eclodiu a discussão sobre
Obama estar exagerando no que dizia sobre Mitt Romney e sua empresa, Bain Capital, o âncora da CNN decidiu
interferir. Publicou uma
coluna na página CNN.com, “Não há provas do
que Obama diz contra Romney” (16/7/2012). Mas Gergen admitiu que tivera
“relacionamento passado com os principais sócios da empresa Bain Capital, pessoal e financeiro” – e
que várias vezes fora contratado para palestras pagas pela Bain. Para investigar a empresa,
portanto, bastou telefonar para velhos amigos: “Falei por telefone com dois
altos dirigentes da empresa, meus conhecidos”. É. Há muitos “jornalistas” que
ivestigam assim. Claro. É. É bom meio para encontrar a verdade do fato.
–
Prêmio “Foi buscar lenha e voltou queimado”: George Will, ABC
“Como
explicar o calor? Fácil: é verão. Fui criado no centro de Illinois, em casa sem
ar condicionado (...) É esperar. Vem o inverno, esfria, vem a neve; e o mesmo
pessoal que hoje só fala do calor, só falará do frio. Para nos ensinar que clima
é uma coisa, calorão e frio é outra coisa. Concordo. Faz calor. Está quente. OK.
Podemos mudar de assunto?” (This
Week, 8/7/2012)
–
Prêmio “Assassinar os filhos deles, para salvar nosso butim”: Joe Klein,
Time
O
programa “Morning Joe” da rede MSNBC, ofereceu uma rara discussão sem
diálogos decorados (23/10/12) sobre os ataques dos drones dos EUA. Quando
o entrevistador Joe Scarborough falou sobre “meninas de quatro anos destroçadas
em pedaços”, Joe Klein da revista Time respondeu:
“O
xis da questão é: as meninas mortas eram filhas de quem? O que estamos fazendo é
reduzir a probabilidade de que mais meninas de quatro anos sejam mortas em atos
indiscriminados de terror”.
–
Prêmio “Se nosso candidato não presta, damos um jeitinho”: Michael Crowley,
Time
Repórteres
e especialistas passaram anos elogiando o Republicano Paul Ryan; o fato de ter
sido escolhido como vice na chama de Mitt Romney em nada moderou o entusiasmo
deles. Dan Balz, do Washington Post
(14/8/12)
escreveu que Ryan “é homem dos números, que gosta de quebrar os problemas e
resolvê-los, depois de mastigar uma montanha de dados”. Mas Michael Scherer da revista
Time o superou: “Ryan está para a matemática do orçamento, como
Carl Sagan, para a ciência do cosmos”.
–
Prêmio “Servir-se de fonte anônima para distribuir calúnias”: Scott Shane,
New York Times
Quando o Gabinete de Jornalismo
Investigativo [orig. Bureau of
Investigative Journalism] com sede na Grã-Bretanha, distribuiu relatório
sobre vítimas civis dos ataques dos drones dos EUA, o New
York Times (6/2/12) sentiu-se no direito de
citar, em resposta, um “alto funcionário do contraterrorismo norte-americano”,
que teria dito: “É preciso pensar por que o esforço dos drones, tão
cuidadosamente pensado para caçar terroristas que matam civis, está sendo
apresentado, de repente, sob imagem tão negativa. Não podemos nos iludir: há
muitos elementos que operam exclusivamente para fazer gorar nossos esforços e
ajuda a Al-Qaeda”.
Oficialmente,
o NYTimes proíbe citar fontes
não identificadas “como cobertura para ataques pessoais ou partidários”. Mas o
Manual nada diz sobre apresentar como simpatizantes de terroristas quem
critique as políticas de guerra dos EUA.
–
Prêmio “Jogo Virado”: PBS
No primeiro episódio (11/4/12) de
um seriado de quatro
programas intitulado “América Revelada”, a rede PBS disse que o
agrobusiness precisava “virar o jogo” contra as pragas; e que esse fator
“virador do jogo” seria o milho geneticamente modificado. Não por acaso, nem
surpreendentemente, a empresa que patrocina o seriado, Dow Chemical, está em campo, no
lobby para obter aprovação oficial para
sua própria marca de novo milho geneticamente modificado.
–
Prêmio “Problemas esquisitos em terras longínquas”: New York Times
Matéria
publicada no New York Times “informava” que “a revolução na televisão
trouxe, em vários sentidos, más notícias para o Paquistão:
“Vários
programas passaram a servir como plataforma liberada para terroristas e
extremistas (...). Clérigos conservadores usam as ondas de televisão para
reforçar preconceitos e até pregam a violência contra minorias. A independência
editorial não raras vezes é obscurecida, quando empresários proprietários das
redes comerciais as usam desavergonhadamente para promover interesses privados.
Há
controvérsia também quanto aos âncoras e apresentadores, alguns dos quais
veem-se como atores no cenário político nacional, muito mais do que como
observadores imparciais dos desmandos do poder”.
Extremistas
que falam pela televisão? O dono da empresa fiscalizando a pauta? Âncoras que
falam como se fossem mais importantes e mais confiáveis que políticos eleitos
pela maioria dos eleitores? Não sei, mas... No Paquistão? Estranho... Parece que
havia coisa parecida aqui mais perto, ontem mesmo...
–
Prêmio “Notícia inventada”: New York Post
“Occupy Wall Street ligado a
assassinato” – lia-se na primeira
página do New York Post (11/7/12);
a matéria dizia que DNA recolhido na cena de um assassinato em 2004 bateria com
o DNA recolhido de uma corrente usada para manter aberta um portão do metrô,
numa das manifestações do OWS. O jornal de Rupert Murdoch publicou 37 parágrafos
sobre essa história, além de três imensas fotografias. A história logo evaporou
– descobriu-se que se tratava do DNA de um policial. O Post então dedicou quatro parágrafos num
canto de página ao follow-up da
notícia de capa da véspera, sob o título: “Amostra 04 do DNA assassino foi
‘contaminada’”.
Vê-se
que, para o NYPost trabalho
policial mal feito não merece primeira página. Mas lançar lama contra movimento
progressista, sim, sempre.
–
Prêmio “Des-Apocalypse Now”: Gloria Borger, CNN
Em
1968, no auge da Guerra do Vietnã, Mitt Romney era estudante pró-guerra,
dispensado do serviço militar. O conflito matou 16 mil soldados dos EUA, só
naquele ano. Mas isso não implica que Romney não corresse grande risco pessoal.
Segundo Gloria Borger, da CNN (26/8/12), a vida era arriscadíssima e
cheia de perigos para um missionário mórmon na França:
“Em
1968, a
França era lugar perigoso para viver, se você fosse um norte-americano de 21
anos. Mas Mitt Romney lá estava, no centro dos acontecimentos (...) As ruas
francesas eram o caos”.
É.
Mitt Romney sobreviveu.
–
Prêmio “Perguntado e Respondido”: David Gregory, NBC
No domingo depois que o furacão
Sandy devastou New York e New Jersey, David Gregory, da rede
NBC, perguntou
na abertura do programa Meet the Press (4/11/12): “Devemos dar mais atenção ao
impacto da mudança climática sobre a violência dessas tempestades?”. A resposta
provavelmente foi “não” – porque, depois dessa abertura, nunca mais se ouviu,
até o final do programa, qualquer outra referência à mudança
climática.
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