26/8/2013, [*] Paul Craig
Roberts – IPE - Institute for Political Economy
“Syria: Another Western War Crime In The Making”
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Comboio da ONU dirigindo-se ao local do massacre |
Washington
e seus governos-fantoches, da Grã-Bretanha e da França, aprontam-se para mais
atos criminosos. A imagem do ocidente como criminoso-de-guerra não é imagem de
propaganda criada por inimigos do ocidente: é o retrato que o próprio ocidente
fez dele mesmo.
O
Independent britânico noticia que, no fim de semana passado, Obama,
Cameron e Hollande concordaram em lançar mísseis cruzadores em ataques à Síria
no prazo de duas semanas, apesar de não haver qualquer autorização da ONU e
apesar de não haver qualquer prova que confirme o que diz Washington, que o
governo sírio teria usado armas químicas contra “rebeldes” apoiados por
Washington e por forças externas também apoiadas por Washington e que tentam
derrubar o governo sírio.
De
fato, a pressa para iniciar a guerra advém do risco de os inspetores da ONU nada
encontrarem que confirme o que Washington diz, e, muito provavelmente, de que
encontrem provas do envolvimento de Washington no falso ataque de “rebeldes”,
que reuniram grande número de crianças num local, para serem assassinadas por
veneno, assassinato que, na sequência, Washington atribuiria ao governo sírio.
Outra
razão pela qual a gangue tem pressa para começar a guerra é que Cameron,
primeiro-ministro britânico quer a guerra já, antes que o Parlamento o enquadre
e o impeça de dar cobertura aos crimes de guerra de Obama , exatamente como Tony
Blair deu cobertura a George W. Bush – cobertura pela qual Blair foi devidamente
recompensado. E o que interessaria a Cameron a vida de sírios, quando pode
aposentar-se e mergulhar nos braços de uma fortuna de $50 milhões?
Técnicos da ONU deixam o hotel |
O governo sírio,
sabendo que não é responsável pelo ataque com armas
químicas, concordou em receber inspetores
de armas químicas da ONU, para que determinem que substância foi usada e como
foi usada. Mas Washington decretou que é “tarde demais” para inspetores da ONU e
que Washington aceita a informação que lhes chega de “rebeldes” afiliados da al-Qaeda, que dizem que o governo
sírio atacou civis com armas químicas.
Em
tentativa para impedir que os inspetores da ONU que já chegaram à Síria façam
seu trabalho, eles foram recebidos a tiros por atiradores em território ocupado
pelos “rebeldes” e expulsos de lá, embora matéria distribuída mais tarde pela
rede Russia Today informe que eles já retornaram ao local e prosseguem na inspeção.
O
corrupto governo britânico declarou que a Síria pode(ria) ser atacada sem
autorização da ONU, como a Sérvia e a Líbia foram militarmente atacadas sem
autorização da ONU. Em outras palavras, as democracias ocidentais já
estabeleceram o precedente para violarem a lei internacional. “Lei
internacional? Não precisamos de porcaria nenhuma de lei internacional!” O
ocidente só conhece uma regra: Força é Poder. Enquanto o ocidente tem a Força, o
ocidente tem o Direito.
Em
resposta às notícias de que EUA, Grã-Bretanha e França preparam-se para atacar a
Síria, o ministro russo de Relações Exteriores, Lavrov, disse que essa ação
unilateral é “severa violação da lei internacional” e que é violação também
ética e moral. Lavrov referiu-se às mentiras e falsidades de que o ocidente
serviu-se para justificar suas violações graves à lei internacional em ataques
militares à Sérvia, ao Iraque e à Líbia, e a como o governo dos EUA usou
movimentos preventivos, para matar qualquer esperança de acordo pacífico no
Iraque, na Líbia e na Síria.
Mais
uma vez, Washington trata de impedir preventivamente qualquer esperança de
acordo pacífico. Ao anunciar o próximo ataque, os EUA já destruíram qualquer
incentivo para que os ‘rebeldes’ participem das conversações de paz com o
governo sírio. Às vésperas daquelas conversações, os “rebeldes” já não tem
qualquer incentivo para negociar qualquer paz, uma vez que os militares
ocidentais estão vindo em seu socorro.
Em
sua conferência de imprensa, Lavrov falou de como os partidos que governam EUA,
Grã-Bretanha e França acionam as emoções de uma opinião pública mal informada,
emoções que, uma vez acicatadas, têm de ser satisfeitas com mais guerra. Esse,
claro, é exatamente o modo como os EUA manipularam a opinião pública para
atacarem o Afeganistão e o Iraque. Mas o público norte-americano está farto das
guerras, cujo objetivo jamais é declarado, e aprendeu a desconfiar dos pretextos
dos governos para mais e mais guerras.
Pesquisa da
Reuters/Ipsos determinou que “os
norte-americanos opõem-se fortemente à intervenção de EUA na guerra civil síria
e entendem que Washington deva manter-se fora do conflito, mesmo que se comprove
que o governo sírio tenha usado produtos químicos mortais para atacar
civis”. Mas Obama pouca importância dá ao
fato de que só 9% dos norte-americanos aprovam sua obsessão belicista. Como o
ex-presidente Jimmy Carter disse recentemente, “os EUA
não têm democracia que funcione”. Têm um estado policial, cujo executivo se
autoinstalou acima da lei e da Constituição.
Ex-Presidente dos EUA, Jimmy Carter |
Esse
estado policial está agora a ponto de cometer mais um crime de guerra de estilo
nazista, de agressão não provocada. Em Nuremberg, os nazistas foram condenados à
morte, por ações exatamente idênticas às que têm sido cometidas por Obama,
Cameron e Hollande. O ocidente investe na força, não no direito, para manter-se
longe do banco dos réus.
Os
governos de EUA, Grã-Bretanha e França não explicaram que diferença faz que as
pessoas, nas guerras iniciadas pelo ocidente, sejam mortas por explosivos feitos
de urânio baixo-enriquecido ou por agentes químicos ou por algum outro tipo de
arma. Era óbvio, desde o começo, que Obama já assestava sua mira contra o
governo sírio. Obama demonizou as armas químicas – mas não as bombas
convencionais de perfuração, detona-bunkers, que os EUA talvez usem
contra o Irã. Aconteceu quando Obama traçou sua tal linha vermelha e disse que o
uso de armas químicas pelos sírios seria crime de tal ordem que o ocidente seria
obrigado a atacar a Síria. Os fantoches britânicos de Washington, William Hague
e Cameron, só fizeram repetir essa irracionalidade inominável. O passo final
da farsa foi orquestrar um ataque químico e culpar o governo sírio.
François Hollande |
Qual
a real agenda do ocidente?
Eis a pergunta que ninguém pergunta e ninguém responde. Claramente, os governos
de EUA, Grã-Bretanha e França continuamente manifestaram apoio a regimes
ditatoriais que serviram aos seus objetivos, e jamais se preocuparam com
ditaduras. Chamam Assad de ditador como meio para demonizá-lo para massas
ocidentais sempre mal informadas. Mas Washington, Grã-Bretanha e França apoiam
número incontável de regimes ditatoriais, como no Bahrain, Arábia Saudita, e
agora a ditadura militar no Egito, que assassina egípcios sem que nenhum governo
ocidental fale de invadir o Egito porque o ditador egípcio está “matando seu
próprio povo”.
Claramente
também, o iminente ataque ocidental à Síria nada tem a ver com “liberdade e
democracia” para a Síria, como tampouco alguma liberdade ou alguma democracia
teve algum dia algo a ver com as razões para os ataques contra o Iraque e a
Líbia – países que absolutamente não ganharam nenhuma liberdade e nenhuma
democracia.O ataque do ocidente à Síria nada tem a ver com direitos humanos ou
qualquer das altas causas sob as quais o ocidente mascara a própria
criminalidade.
Barack Obama |
A
imprensa-empresa ocidental, e menos que qualquer outra a presstitute
norte-americana, jamais pergunta a Obama, Cameron, ou Hollande sobre qual é a
real agenda deles. É difícil acreditar que algum repórter seja suficientemente
estúpido ou enganável a ponto de crer que a agenda seria levar “liberdade e
democracia” à Síria ou punir Assad por usar armas químicas contra gangues
assassinas que tentam depor o governo sírio.
Claro
que, mesmo que a pergunta fosse feita, não seria respondida. Mas o ato de
perguntar ajudaria a opinião pública a começar a pressentir que há muito mais,
nisso tudo, do que a vista alcança. Originalmente, o pretexto para as guerras de
Washington foi proteger os norte-americanos contra terroristas. Agora Washington
se dedica a entregar a Síria a jihadis terroristas, ajudando-os a
derrubar o governo Assad – governo secular, não terrorista.
Qual
a agenda que se oculta no apoio que Washington dá ao terrorismo?
O
objetivo talvez seja fazer guerras que levem os muçulmanos ao radicalismo e, na
sequência, desestabilizar a Rússia e até a China. A Rússia tem grandes
populações muçulmanas e é cercada por países muçulmanos. Até na China há alguns
muçulmanos. Com a radicalização invadindo os dois únicos países capazes de opor
resistência à hegemonia mundial de Washington, a propaganda distribuída pela
imprensa-empresa ocidental e grande número de ONGs financiadas pelos EUA fazendo
pose de organizações “de direitos humanos”, é só esperar um pouco, e teremos
Washington obrando para demonizar os governos de Rússia e China, se não tomarem
medidas duras contra “rebeldes”.
David Cameron |
Outra
vantagem da radicalização dos muçulmanos é que outros países muçulmanos serão
deixados entregues ao torvelinho de longas guerras civis, como já acontece no
Iraque e na Líbia, o que removeria qualquer estado e poder organizado que
pudesse obstruir os avanços de Israel.
O
secretário de Estado John Kerry trabalha pelo telefone, distribuindo ou ameaças
ou propinas para construir aceitação, se não apoio, para o crime de guerra que
se vai armando em Washington contra a Síria.
Washington
corre a alta velocidade em direção ao ponto mais próximo de uma guerra nuclear,
mais próximo do que jamais chegou nem nos mais perigosos períodos da Guerra
Fria. Quando Washington tiver destruído a Síria, o alvo seguinte será o Irã. Nem
Rússia nem China conseguirão se autoenganar e continuar a crer que ainda exista
qualquer sistema de lei internacional capaz de conter o ímpeto criminoso do
ocidente.
A
agressão ocidental já está forçando os dois países a desenvolver forças
nucleares estratégicas e a expulsar a rede de ONGs financiadas pelo ocidente que
vivem a fazer pose de “organizações de direitos humanos”, mas que, de fato, são
quintas-colunas que Washington pode usar para destruir a legitimidade dos
governos russo e chinês.
Rússia
e China foram extremamente negligentes nos contatos com os EUA. Na essência, a
oposição política na Rússia é paga pelos EUA. Até o governo chinês está sendo
minado. Cada vez que uma empresa norte-americana abre um escritório na China,
inaugura um balcão de negócios no qual emprega parentes de políticos chineses.
Essas empresas convertem-se em canais para distribuir dinheiro que influenciam
decisões e lealdades de membros locais e regionais do partido comunista. Os EUA
já se infiltraram nas universidades e nas atitudes intelectuais na China. A
Universidade Rockefeller é ativa na China, e também a filantropia Rockefeller.
Vão-se criando vozes dissidentes, que se arregimentam contra o governo chinês.
Demandas por “mais liberdade” podem fazer ressuscitar diferenças regionais e
étnicas e minar a coesão do governo nacional.
Quando,
afinal, Rússia e China perceberem que estão minadas pelas quintas-colunas dos
EUA, diplomaticamente isoladas e em inferioridade no campo do armamento
convencional, só as armas atômicas serão fiadoras da soberania daqueles países.
É altamente provável que a humanidade seja extinta bem antes de sucumbir ao
aquecimento global ou ao crescente endividamento das nações.
Atualização:
Os criminosos de guerra de Washington e demais países ocidentais estão determinados a manter sua mentira de que o
governo sírio usou
armas químicas. Tendo falhado seus esforços para intimidar os inspetores
da ONU, Washington exigiu que o Secretário Geral, Ban Ki Mon, os retirasse antes
que pudessem avaliar as provas e fazer seu relatório. Ban Ki Mon discordou dos
criminosos chefiados por Washington e rejeitou a demanda. Como se
pode ver a decisão dos EUA “et cataerva” não se
baseia em fatos.
Os governos dos EUA e dos “poodles”
europeus não revelaram quaisquer mínimas provas de que o governo sírio tivesse
usado armas químicas.
John Kerry |
Ouvir suas vozes, observar sua linguagem
corporal e olhando bem dentro de seus olhos, fica completamente óbvio que John
Kerry e seus fantoches britânicos, franceses e alemães mentem com seu sorriso
irônico.
O que fazem é muito mais vergonhoso do
que Colin Powell fez quando disse na ONU sobre a existência de “armas de
destruição em massa” do Iraque onde afirmou que foi enganado pela Casa Branca e
não sabia que estava mentindo. Kerry e seus “poodles” ingleses, franceses e
alemães sabem muito bem que estão mentindo.
As caras que EUA e suas colônias
europeias apresentam ao mundo são as caras-de-pau dos mentirosos.
________________
[*] Paul Craig Roberts (nascido em 03
de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como
secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou
perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política
econômica.
Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente
publicado em Counterpunch, escrevendo extensamente sobre
os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a
guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades
civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado
posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as
drogas e a guerra contra o
terror, e criticando as
políticas e ações de Israel contra os palestinos.
Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de
Virginia, pós-graduação
na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford
University.
Nenhum comentário:
Postar um comentário