Temer articula estancar a Lava Jato
"Quer dizer que o Golpe não foi tão ruim assim?"
PHA:
Converso com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Senadora, o que a
senhora acha de o PT apoiar as candidaturas de Rodrigo Maia, na Câmara, e
Eunício Oliveira, no Senado?
Gleisi: Eu, particularmente, sou contra
esse apoio. Acho que o PT não deve apoiar nenhum candidato que tenha
participado do processo de Golpe contra a Presidenta Dilma, da defesa da
PEC 55 e do patrocínio dessa Reforma da Previdência.
PHA: O que a senhora acha que levou uma corrente do PT a adotar essa decisão?
Gleisi: É importante dizer que a
decisão que o Diretório Nacional do partido tomou nesta semana não é uma
decisão de apoio a qualquer candidatura. O partido apenas orientou a
bancada de que era importante que as bancadas na Câmara e no Senado
ocupassem o máximo possível todos os cargos a que têm direito pela
proporcionalidade, como determinam a Constituição e o Regimento Interno.
Mas, deixou às bancadas a deliberação de fazê-lo ou de como fazê-lo. E é
por isso que nós continuamos nesse debate. Porque, no meu entender, não
devemos fazê-lo. Há, sim, deputados e senadores que defendem fazê-lo;
aliás, isso é normal numa situação de normalidade política e
democrática. Fizemos isso várias vezes, porque a Constituição e o
Regimento Interno preveem que os partidos devem participar, sim, do
espaço de direção das casas, proporcionais ao número dos seus deputados,
sempre que possível. Não há problema, é a regra parlamentar. O que nós
avaliamos é que agora o momento é outro. Nós não estamos num momento de
normalidade institucional, democrática ou política. E isso levaria a uma
confusão muito grande, inclusive no enfrentamento das lutas que nós
temos que fazer no Parlamento e também nas ruas.
PHA: Esta, portanto, não é uma decisão definitiva. O partido pode reverter a decisão...
Gleisi: Essa decisão do Diretório
Nacional não é uma decisão definitiva, é uma decisão orientativa para as
bancadas, e nós vamos decidir, tanto no Senado, quanto na Câmara, qual
vai ser a posição. É óbvio que vai gerar debate com a militância -
grande parte da militância é contrária a essa posição. O que eu acho
importante é que a gente faça esse debate. É legítimo fazê-lo. O PT
sempre se utilizou do debate para determinar as suas posições. Acho que
nós não podemos partir de uma linha de agressão - contra aqueles que são
contra a proposta ou contra aqueles que são a favor. Não dá para dizer
que quem apoia a proposta é Golpista, porque não é - aliás, são
companheiros que lutaram contra o Golpe e contra a PEC 55. Como não se
pode dizer que os que não apoiam essa proposta são oportunistas. Não é
isso. Temos leituras diferentes da conjuntura. E vamos tentar convencer
os nossos colegas na Câmara e no Senado que querem aprovar o acordo de
que estão fazendo uma leitura errada. Não é o momento de fazer acordos
no Parlamento. Esse Parlamento é algoz do povo brasileiro, é o
Parlamento que derrubou a Presidenta Dilma, é o Parlamento que mudou a
Constituição de 1988 - que levamos 500 anos para ter, colocando nela
direitos como a Seguridade Social, e isso acabou! E é esse Parlamento
que está ajudando a patrocinar esse atentado contra a Previdência
Social. Portanto, nós não temos espaço para fazer esse acordo. Temos que
denunciar e fortalecer os movimentos sociais e de rua.
PHA: E qual seria o papel das bancadas do PT na Câmara e no Senado sem nenhum assento nas mesas diretoras?
Gleisi: De fazer uma oposição
sistemática e denunciar o comando do Senado e da Câmara - do Congresso
Nacional - como parte operativa do processo de Golpe no País. Porque nós
nos sentarmos à mesa fazendo um acordo, votando em senadores e partidos
que promoveram esse Golpe, qual é a mensagem que nós vamos passar para a
sociedade brasileira? Que não foi um Golpe verdadeiro, que não é assim
tão ruim, afinal, nós estamos compondo com esse Parlamento. Então, é um
Parlamento que tem realmente as suas prerrogativas intactas e está, do
ponto de vista institucional, cumprindo o seu papel? Nós não acreditamos
nisso. Por isso é que nós temos que denunciar. Vamos ter problema de
espaço? Vamos ter, mas eu acho que isso não é o essencial agora. O
essencial é a luta política.
PHA: E qual deve ser a luta política?
Gleisi: Exatamente denunciar o que
aconteceu. A população saber que o que está em curso no País é um Golpe.
É um Golpe contra a Constituição, é um Golpe contra os direitos dos
trabalhadores. Estão desmanchando o mínimo do Estado de Bem-Estar Social
que construímos ao longo dos últimos 30 anos - que foram aprofundados
nos Governos do Presidente Lula e da Presidenta Dilma. Construímos
apenas um degrau do Estado de Bem-Estar Social, e isso está sendo
desmanchado. E desmanchado para quê? A favor do capital financeiro, a
favor de pagar juros estratosféricos da dívida, a favor de uma elite que
não entende que temos que ter um País desenvolvido para todos, [a
favor] desta criminalização dos movimentos sociais e da utilização da
violência para combatê-los... Nós temos hoje um Governo instalado no
Brasil que está desmanchando tudo aquilo que nós pregamos, um Congresso
que compactua com isso e, portanto, não podemos estar juntos nesse
processo. Até porque vamos ficar deslegitimados, também, quando
quisermos mobilizar a população. Porque só vai haver um jeito de impedir
que essas reformas continuem: é o povo na rua. Não tem outro jeito.
PHA: A senhora acha que as bases do partido estão do seu lado?
Gleisi: A maioria da militância não
quer esse acordo, acha que é momento de denunciar, de não sentarmos às
mesas da Câmara e do Senado - ainda que isso signifique uma redução de
espaço e da nossa presença. Entendem, assim como eu entendo, que esses
espaços não serão essenciais para fazer o debate. Não vão impedir a
Reforma da Previdência, não vão impedir o retrocesso, não vão impedir o
crescimento da Direita e do Estado conservador em cima dos movimentos
sociais e dos avanços que tivemos. O que vai impedir é a mobilização
social! E, para ter mobilização social, precisa ter confiança. É por
isso que precisamos ter uma postura muito coerente com aquilo que
denunciamos até agora.
PHA: Quando a senhora fala em
mobilização social e povo nas ruas, associa isso a uma candidatura do
Presidente Lula em 2018, a partir já de 2017?
Gleisi: Não necessariamente, mas com
certeza a candidatura do Presidente Lula é consequência da mobilização
da sociedade. Ele tem feito uma campanha - e nós temos apoiado - de
antecipação das eleições. Acho que a situação está tão ruim no País,
tudo sendo tão questionado, que nós deveríamos devolver dignidade aos
Poderes que governam, que legislam. E, aí, não vejo outra forma a não
ser anteciparmos as eleições. É claro que essa discussão sobre o Estado
de Direito e o Estado de Bem-Estar Social vai estar nessa pauta. E aí o
povo tem condições de decidir quem é que ele quer ou que programa ele
quer que seja executado no País. O que não pode é o que estamos vendo:
um Governo ilegítimo, sem voto, patrocinar mudanças muito profundas que
vão retirar direitos, mudar muito a realidade social brasileira.
PHA: Não sei a senhora viu
hoje, no Globo, a notícia de que eles vão entregar a Base de Alcântara
aos Estados Unidos... Eu queria fazer uma última pergunta: a senhora
está acompanhando a maneira pela qual pode vir a ser escolhido o
substituto do ministro Teori? E, diante desse impasse, como a senhora
situa o encontro ontem, no Palácio do Jaburu, entre o Presidente Temer, o
Moreira Franco e o ministro Gilmar Mendes?
Gleisi: Na substituição do ministro
Teori têm que ser seguidos os preceitos constitucionais e legais. É como
a substituição de qualquer outro ministro. Em relação ao Governo Temer,
nós já denunciávamos, lá atrás, que o Golpe contra a Presidenta Dilma
era justamente para estancar a sangria da Lava Jato. E o Temer tem feito
articulações nesse sentido. Aliás, a sua base de apoio, o senador
Romero Jucá, numa gravação, foi pego dizendo isso... Então, o que nós
estamos vendo é uma ação muito grande para que as coisas fiquem onde
estão. Ou seja, já afastaram o PT, o PT era o grande vilão, o precursor
da corrupção no País - foi o que venderam para o País -, e agora querem
calmaria. Tem que ter muita responsabilidade nessa sucessão. E, sobre a
Base da Alcântara: é muito grave! Começou pela entrega do pré-sal,
quando eles mudaram a legislação, não deixando mais a obrigatoriedade da
partilha; agora, com a Base de Alcântara... Ou seja, nós vamos ter um
Governo de entrega total dos interesses nacionais e da nossa soberania.
PHA: Para ver se entendi o seu
raciocínio: aquele encontro de ontem no Jaburu, a senhora acha que faz
parte dessa estratégia de estancar a Lava Jato?
Gleisi: Eu não posso afirmar isso. Não
sei o que se passou no Jaburu, ou o que conversaram. Agora, que o
Presidente Michel Temer tem feito articulações nesse sentido, não resta
dúvida.
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