EUA: acordo em torno da dívida não é uma luz no fim do túnel
A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou na noite desta segunda-feira (1) projeto que amplia o teto da dívida pública do país e pode afastar o risco iminente de moratória. A decisão, pelo placar de 269 votos contra 161, dividiu os democratas e não significa uma luz no fim do túnel da grave crise que abala o capitalismo americano. O Senado vota o mesmo texto nesta terça, 2, e a expectativa é que seja referendado com menor resistência.
1 de Agosto de 2011 - 23h24O resultado foi interpretado como uma vitória dos republicanos e uma capitulação do presidente Barack Obama. A radiografia da votação, aparentemente folgada, respalda a opinião. Uma ampla maioria dos republicanos, que controlam a Câmara, apoiou o acordo costurado pelos líderes dos dois partidos e engolido pelo presidente democrata, cujo partido rachou: 95 (maioria) contra; 93 a favor. O descontentamento é compreensivo.Mais desemprego
O projeto, segundo informações publicadas no Valor Online, eleva em US$ 900 bilhões, num primeiro momento (até novembro), o limite da dívida, hoje fixado em US$ 14,29 trilhões. Depois (com a condição de que os cortes sejam efetivamente realizados) viria novo aumento, de US$ 1,3 trilhão, o que em tese daria fôlego ao governo para pagar suas contas até 2013, ou seja, lançaria a nova polêmica do tema para depois da eleição presidencial de 2012.
A redução do déficit governamental está centrada em cortes nos gastos públicos estimados em valor equivalente ao da elevação do montante da dívida (US$ 2,2 trilhões), ao longo dos próximos 10 anos.
Os impactos econômicos do pacote, cujos detalhes ainda não foram definidos, tendem a tornar um pouco mais dramático o quadro de estagnação e desemprego massivo no país. Estima-se que o número de desocupados (involuntários) se situe hoje entre 25 a 30 milhões de pessoas. Os cortes nos gastos públicos certamente vão aprofundar a crise no mercado de trabalho.
O setor público responde por cerca de 20% da ocupação na maior economia capitalista do mundo. O arrocho previsto no acordo pode resultar na eliminação de mais de 1 milhão de postos de trabalho no país. A tesoura também reduzirá a assistência à saúde e investimentos em infra-estrutura.
Na opinião do economista Paul Krugman, o presidente Barack Obama capitulou às exigências dos conservadores. "O pacto em si é um desastre, não só para o presidente e seu partido. Danificará uma economia já deprimida, e provavelmente fará com que o problema do déficit a longo prazo piore", escreveu no The New York Times.
Um corte de classes
Os mais ricos estão a salvo. O pacote não impõe aumento de impostos, que recairia sobre os poderosos, como pretendiam alguns democratas. Os grandes capitalistas continuaram lucrando mesmo nos momentos mais agudos da crise e foram protegidos pelo governo. Aliás, a situação atual é um desdobramento do resgate do sistema financeiro pelo governo, que fez o déficit público explodir e levar de roldão o último teto da dívida.
O debate sobre aumento de impostos vai retornar, já que a arrecadação de impostos, em torno hoje de 15% do PIB, expressão do "Estado mínimo" neoliberal, está muito distanciada dos gastos e o governo não fecha as contas sem incorrer numa dívida cada vez mais dependente de financiamento externo.
Não é improvável que toda ou quase toda a carga dos cortes de gastos recaia sobre a classe trabalhadora e as famílias mais pobres, como ocorreu com a conta da recessão iniciada no final de 2007. O império também vai sentir maior dificuldade para manter o nível atual de gastos militares e redobrar a aposta nas aventuras bélicas, que são uma das fontes da crise da dívida.
Um sinal positivo nisto tudo é que, afinal, o povo estadunidense não está nada satisfeito e, segundo pesquisas, desaprova tanto a atuação do presidente democrata quanto dos republicanos, cada vez mais influenciados pela extrema direita.
O acordo na Câmara, mesmo referendado pelo Senado (que adiou o desfecho da novela para a última hora, já que o problema tem de ser resolvido nesta terça, 2, para evitar a moratória), não significa uma luz no fim da crise do capitalismo americano.
Independentemente do seu desfecho imediato, a crise da dívida teve o mérito de despir o rei. E o rei está nu. A boa imagem dos Estados Unidos naufragou de vez na crise e parece irremediavelmente corrompida. O que se discutirá a seguir é o destino do combalido padrão dólar.
Da Redação, Umberto Martins, com agências
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=160272&id_secao=2
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