quinta-feira, 11 de agosto de 2011

TRÊS DIAS QUE ABALARAM O MUNDO
1) Domingo, 6 de agosto, Tel Aviv: 350 mil israelenses protestam nas ruas do país por melhores condições de vida.
2) Segunda- feira, 7 de agosto, Londres: distúrbios sociais iniciados nos subúrbios pobres transformam-se em explosão viral  que envolve milhares de jovens em diferentes pontos do país. 
3) Terça-feira, 8 de agosto, Santiago: 150 mil estudantes vão às ruas em defesa de uma reforma educacional  que universalize o ensino público, gratuito, de qualidade.  

O que interliga esses levantes quase sincronizados em lugares tão díspares, antecedidos de rebeliões massivas que irromperam como que abruptamente das areias nos países árabes e da modorra social em outras partes do mundo? A mera coincidência do calendário?  Ou a percepção difusa mas crescente, enraivecida em alguns casos, consciente em outros, da brutal desigualdade herdada  do ciclo de supremacia das finanças desreguladas -- o ciclo dos bancos, o dos endinheirados, das corporações invisíveis e ubíquas ao mesmo tempo? Sejam quais forem as denominações sedimentadas no discernimento popular guardam aderência consistente com a abrangência intolerável de uma espiral do privilégio que consolidou duas humanidades socialmente  imiscíveis nas últimas décadas. Em quase todos os países, e na maioria das grandes cidades, de um lado, derrama-se a riqueza num grau de ostentação jamais registrado na história; de outro, o bem-estar social e sua contrapartida em subjetividade, dissolvem-se em sucessivas ondas de saque, desregulamentação e delinqüência institucional  contra o patrimônio público, os direitos e valores que  enlaçam a convivência compartilhada. No  crepúsculo turbulento do ciclo, a ganância em fuga  ameaça agora  esfarelar os últimos centímetros de chão firme de vidas  expostas às intempéries de toda sorte. E  tal ponto encurraladas por dentro e por fora em sua precariedade estrutural que só lhes resta uma fresta: as ruas. 
 
(Carta Maior; 6º feira, 12/08/ 2011)

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