Munidos de coquetéis molotov, os manifestantes impediam o ingresso dos policiais na praça Tahrir. Por sua vez, a polícia bloqueava aqueles que tentavam invadir o ministério do Interior, no Cairo. Cerca de 40 pessoas haviam sido mortas.
Nas ruas da capital egípcia os protestantes pediam a renúncia do marechal Hussein Tantawi, chefe da junta militar a governar o país.
Isso a despeito das concessões feitas na noite de terça pelo proprio Tantawi. Ele prometeu um pleito presidencial já em julho de 2012 – e não mais em 2013. Também propôs, no discurso televisionado, um referendo sobre a permanência do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) no poder.
Continuam na agenda as legislativas de 28 de novembro, as primeiras desde a queda de Mubarak, em fevereiro. Mas, segundo observadores, em meio a mais um conflito é possível que o pleito não ocorra.
Para os manifestantes os generais a liderar o CSFA são uma extensão do velho regime de Mubarak. E esses militares querem manter seus poderes mesmo após a eventual eleição de um presidente civil.
Há, inclusive, quem diga que Tantawi é o Mubarak fardado. Esse parece ser o caso. Tantawi não serviu, durante duas longas décadas, como ministro da Defesa de Mubarak?
A presença de Tantawi explica, inclusive, a barbárie perpetrada pelas forças “de segurança” contra o povo. Segundo a Anistia Internacional, a atual junta militar é mais violenta que o governo de Mubarak.
Dezenas de pessoas já morreram desde o início das manifestações na sexta. Centenas ficaram feridas país afora.
A repressão não poupa civis, jornalistas, blogueiros e trabalhadores em greve. Segundo a Anistia, 12 mil civis já foram processados em tribunais federais. Pelo menos 13 foram condenados à morte.
Dividir para governar
Os militares, como é de praxe, falam no perigo de “forças invisíveis”. Quem seriam essas forças invisíveis? A Irmandade Muçulmana, considerada pelos militares e Washington um grupo extremista.
A estratégia do CSFA é dar maior espaço político para salafitas e outros grupos muçulmanos radicais. O motivo? Criar uma rixa entre muçulmanos moderados e extremistas para, assim, justificar uma nova intervenção militar.
Ajuda o fato de vários manifestantes secularistas (numerosos deles jovens que iniciaram através de redes sociais os protestos contra Mubarak) não terem uma agenda clara. Depor a atual junta militar parece ser o plano: mas e depois? Esses jovens não querem eleições porque sabem serem altas as chances de uma vitória da Irmandade Muçulmana.
A Irmandade Muçulmana, contudo, tornou-se muito mais moderada do que, por exemplo, os salafitas. Criada em 1928, a Irmandade Muçulmana foi perseguida por Mubarak. No passado, lutou contra a ocupação britânica e tentou assassinar o ex-presidente Gamal Abdel Nasser, em 1954.
Ao longo dos anos tornou-se mais democrática, nos moldes do AKP, partido islâmico no poder na Turquia. É contrária à violência. Mobilizou milhões de seguidores através de ONGs e sindicatos.
A Irmandade Muçulmana não está participando dos protestos.
Para numerosos egípcios, a Irmandade Muçulmana poderia trazer estabilidade ao país.
Mas, como dito acima, os militares não pensam da mesma forma. E nem Washington. O apoio do Tio Sam é, diga-se, fundamental para a junta militar. Washington envia anualmente US$1,3 bilhão em ajuda econômica ao Egito. Essas remessas continuarão caso o “Secretário de Estado se certificar que o governo do Egito não esteja sob o domínio de uma organização terrorista”.
A estratégia do CSFA (e de Washington) é no mínimo perigosa. Se por ora o confronto é entre militares e secularistas, em breve, caso haja eleições, e a Irmandade Muçulmana saia-se vitoriosa, o conflito poderá se tornar religioso.
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