domingo, 27 de novembro de 2011

Marx, um tipo arrogante, e admirável 27/11/2011

A princípio, ainda nos esboços do projeto que resultaria na publicação de “Love and Capital - Karl and Jenny Marx and the Birth of a Revolution” (a ser publicado no Brasil em 2012, pela Zahar) , Mary Gabriel não tinha nenhuma simpatia por Marx, pessoalmente. Ela o via na vida familiar tão arrogante quanto se mostrava em público, tomado por um “egocentrismo patológico”. Acabou gostando dele.


“Comecei a sentir-me em relação a ele, acho, do mesmo modo como sua família e Engels: seus defeitos eram inegáveis, mas ele era tão maravilhoso, poderoso e único, que poderiam desculpá-lo. Sentia-me em uma companhia rara quando lia suas cartas e suas obras. E falhas de caráter que não teria perdoado em outro homem as perdoei facilmente em Marx”. Mary também escreveu uma biografia de Victoria Woodhull, a líder sufragista americana (“Notorious Victoria – The Life of Victoria Woodhull, Uncensored” – Alconquin, 1998).

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Leia a seguir trechos da entrevista que Mary concedeu ao Valor Econômico.

Valor: Parece haver contradições entre a vida familiar de Marx e ideias que ele defendia (abolição da família, visão crítica do casamento, liberdade sexual etc.). Por exemplo, quando Paul Lafargue cortejava sua filha Laura, Marx exigiu que ele mantivesse distância por um tempo e que demonstrasse capacidade financeira para sustentar a ambos no casamento. E opôs obstáculos ao relacionamento entre a filha Eleanor e Prosper Lissagaray. Como se deveriam entender esses aparentes conflitos entre as opiniões de Marx e sua própria vida?
Mary Gabriel: Marx e Jenny [sua mulher] estavam bem a par do conflito entre as atitudes de ambos em relação às filhas e suas convicções políticas, mas não se desculpavam por isso. Queriam que as filhas tivessem não menos que um futuro burguês seguro, financeiramente equilibrado. É uma contradição, certamente, mas acredito que a posição deles seja compreensível. Eles tinham visto todos os filhos sofrerem – e quatro morreram – por causa da pobreza em que viviam. E sabiam que a pobreza era resultado de decisões políticas que haviam tomado, o que tornava difícil para Marx conseguir dinheiro e os punha em conflito com a sociedade em torno deles.

Penso que Marx carregava a culpa adicional de ter arruinado a vida de sua mulher por causa das escolhas radicais que havia feito, e queria evitar que as filhas tivessem o mesmo destino. Mas não seria assim. Como os pais, as filhas de Marx estavam comprometidas com a melhoria dos oprimidos e explorados. Como consequência, os homens que escolheram para si, longe de serem burgueses, eram ativistas socialistas. Na verdade, elas se tornaram versões menores do próprio Marx.

Valor: As ideias de Marx e Engels têm alguma importância para o debate atual a respeito dos papéis sociais das mulheres?
Mary: Sim, de uma forma bastante importante, mas não aquela que poderíamos imaginar. Marx e Engels escreveram durante um período em que os direitos das mulheres estavam relegados a segundo plano entre os direitos da classe trabalhadora em geral. A noção de igualdade para as mulheres sempre esteve nas sombras do trabalho deles – e Engels passou a dar atenção ao assunto bem cedo em seus estudos – mas nenhum dos dois gastou muito tempo discutindo direitos políticos para as mulheres. A questão das mulheres era parte do debate mais amplo sobre o trabalho e a sociedade.

Mas – e é aqui que o trabalho deles é pertinente no que se refere aos papéis sociais das mulheres atualmente – as mulheres estavam na linha de frente da luta deles contra a exploração capitalista porque, como aceitavam salários menores, eram frequentemente empregadas no lugar de homens. E tanto Marx como Engels acusavam a sociedade capitalista de explorar as mulheres sexualmente.

Penso que hoje as mulheres estão sendo usadas de novo pelos empregadores para reduzir custos. Os homens ainda exigem maiores salários do que as mulheres – mesmo em vários dos assim chamados países desenvolvidos – e, nestes tempos em que austeridade é a desculpa usada para justificar cortes de empregos, as mulheres são frequentemente empregadas no lugar de homens porque são mais facilmente ajustáveis aos resultados pretendidos. Esta não é uma questão de se dar poder às mulheres, como alguns poderiam sugerir, mas de sua exploração.

De modo semelhante, as formas de exploração sexual que Marx e Engels denunciavam na Inglaterra vitoriana e na França constituem hoje um fenômeno global. Em números difíceis de acreditar em sociedades que se dizem civilizadas, mulheres são vendidas como uma “commodity” por meio de prostituição, na indústria de entretenimento adulto e em situações de escravidão sexual. Essa espécie de “comércio” se desenvolve hoje numa escala que não poderia ser imaginada quando Marx e Engels a condenaram no “Manifesto Comunista”.

A lição a ser aprendida de Marx e Engels, no que se refere ao lugar de trabalho e à exploração sexual das mulheres hoje, é que aquelas atividades não apenas ferem suas vítimas imediatas, mas corroem a sociedade. A desumanização de um segmento da população inevitavelmente leva à desumanização de toda a sociedade.

Valor: As várias formas de casamento e de composição familiar observadas hoje, tão diferentes de modelos tradicionais, seriam saudadas por Marx e Engels como espelhadas em suas idéias?
Mary: Marx era muito mais conservador do que Engels nos assuntos de casamento. Esta é uma das raras áreas em que os dois se mostram bastante diferentes. Ambos entendiam que o contrato de casamento em meados do século XIX na Europa exigia que a mulher abrisse mão de direitos demais. Ela se tornava “propriedade” do marido, e não tinha sequer o direito de determinar o futuro dos filhos. Mas Marx, pelo que li, opunha-se a qualquer coisa que se denominasse “amor livre” e certamente respeitava os laços tradicionais de casamento.

Engels era muito mais inflexivelmente contrário ao casamento, que, dizia, inibia não apenas a mulher, mas também o homem. Em sua vida, ele se relacionou com duas mulheres – uma morreu bastante moça e Engels então se ligou a sua irmã mais nova – com as quais não se casou. E quando a filha mais moça de Marx pediu que Engels opinasse se devia desafiar a sociedade e ir morar com um homem casado, ele não procurou dissuadi-la.

Tenho certeza de que, embora vendo essa questão de maneiras diferentes, eles teriam concordado em que, desde que a união garantisse a duas pessoas – e a seus filhos – felicidade, saúde, segurança etc., então deveria consumar-se, sem preocupações com normas sociais. O cuidado principal era que não houvesse nenhum tipo de coerção, nem maus tratos.

Valor: Os relatos sobre o casamento de Marx e Jenny são marcados pela ideia de que se tratava de uma união quase perfeita, tanto afetivamente, como intelectualmente. Não haveria a possibilidade de o relacionamento deles se caracterizar também por uma certo grau de neurose? Jenny vinha de uma família rica e aceitou viver em condições literalmente miseráveis. Enquanto isso, Marx permitiu-se moldar a vida familiar de acordo com seus interesses pessoais, de um modo claramente egocêntrico...
Mary: Pode-se dizer, em retrospecto, que o amor de Marx e Jenny foi duradouro e que Jenny ajudou Marx a produzir algumas das mais importantes obras de todos os tempos. Através dos anos, porém, houve vários períodos em que a tensão no relacionamento entre eles foi severa – principalmente, por causa de atitudes de Marx.

Marx era extremamente egocêntrico – eu me atreveria a dizer que, nesse aspecto, não era diferente de muitos artistas ou outros grandes pensadores – e teria posto à prova a paciência mesmo da mais equilibrada das mulheres. Jenny, no entanto, não era completamente estável. Mesmo sendo uma mulher forte, e penso que ela demonstrou sua força interior ao longo da vida com Marx, tinha uma tendência para a depressão, que frequentemente resultava em males físicos. Então, o egocentrismo de Marx e a depressão de Jenny traziam dificuldades, para dizer o mínimo.

Acredito que a força do relacionamento deles se devia ao fato de que ambos estavam comprometidos com uma coisa muito maior do que eles próprios. Mais de uma vez, quando suas vidas pessoais se mostravam mais desalentadoras – por causa de dívidas, ou pior, por causa da morte de uma criança, o filho Edgar – foi o trabalho político, na verdade, que ajudou a reequilibrar o relacionamento, e suas vidas.

Valor: A vida sexual de Marx fora do casamento refletiria, talvez, um modo enviezado de confrontar a moralidade burguesa? E sua hesitação em opor-se à família como instituição não constituiria outro elemento de uma moldura de relações conflituosas com sua própria vida?
Mary: Não se conhece a extensão que teria tomado a vida sexual extraconjugal de Marx. O único incidente comprovado deu-se em 1850, quando ele engravidou Helene Demuth, a empregada da família. Marx deixou-se atrair por várias outras mulheres, sem dúvida, e parece ter sido correspondido. Se alguma coisa aconteceu para além do que seria imaginável como flertes típicos da era vitoriana, não se sabe.

Então, não penso que o comportamento de Marx fosse na verdade uma afronta consciente à moralidade burguesa. No caso do incidente com Helene, penso que ele estava completamente desesperado e voltou-se para ela não tanto por sexo, mas por consolo. Estava sozinho em Londres com as crianças, sem dinheiro, sob ataque dos adversários, e sem uma visão de futuro. Mesmo sua grande obra parecia perdida em meio à batalha diária pela sobrevivência. Ele se voltou para Helene como um amigo e ela o consolou da maneira mais íntima possível.

Na verdade, Marx comportava-se bem, se considerarmos o que era permitido a homens de sua classe no século XIX. Ter amantes era a norma. Homens considerados de respeito frequentavam prostitutas. A sociedade não punia um homem por desviar-se de certos padrões morais. Isso é, porém, mais uma evidência da inferioridade da mulher, na época, por se esperar que aceitasse tal comportamento sem reclamar. Não estou defendendo Marx. Apenas, não penso que se tratasse efetivamente de uma questão, em relação a ele – exceto, naturalmente, pelo fato de que teve um filho com Helene, que ele nunca reconheceu como seu.

E essa atitude de abandono está muito mais em conflito com o modo de ele pensar do que qualquer relacionamento extra-conjugal em que possa ter se envolvido. É também uma coisa que não fui capaz de absorver em meus estudos de Marx: como um homem que dizia gostar tanto de crianças pôde abandonar seu único filho sobrevivente. Imagino que ele tenha tido que tomar uma terrível decisão, como muitos de nós no curso de nossa vida, que, uma vez tomada, foi mantida. Mas é uma contradição, em relação a seu caráter e a suas convicções, que, para mim, continua a assombrar sua história.

Valor: É bem conhecida a concepção materialista da história desenvolda por Marx e Engels, mas a posição da família nessa moldura filosófico-metodológica parece nebulosa. Seu livro estaria trazendo alguma contribuição para tornar mais clara a questão da família no pensamento de Marx? Outras questões teóricas ou doutrinárias teriam merecido igual atenção de sua parte?
Mary: Essa é uma questão interessante porque, embora o foco de meu livro seja a família de Marx, não descrevo especificamente como a estrutura ou as relações familiares podem ter se contraposto às teorias dele. Acredito que isso ficaria claro no transcorrer da história da família e o leitor poderia chegar a suas próprias conclusões. Obviamente, a maneira como Marx criou suas filhas estava longe do [que se recomendaria segundo] o comunismo tradicional ou mesmo o socialismo.

Contudo, mesmo enquanto eram educadas como mulheres burguesas, elas estavam imersas na teoria do pai e aceitavam suas ideias como corretas, não somente para elas mesmas, mas para o mundo. O Marx sobre o qual escrevi era dois homens – um teórico profissional e um pai – e os dois tinham diferentes missões. O primeiro tinha a mente voltada para a salvação do mundo. O outro, queria salvar a família. Os métodos usados por um e por outro foram muito diferentes e de certo modo, ironicamente, o primeiro foi mais bem-sucedido do que o outro.

Seria pretensioso de minha parte dizer que esclareci qualquer aspecto da teoria de Marx. Tantos homens e mulheres brilhantes dedicaram suas vidas ao estudo e explicação da teoria de Marx que não me atreveria a me colocar entre eles. Escrevi uma biografia de Marx e sua família com o intuito de apresentar os leitores ao homem e à sua vida pessoal, de modo que fôssemos todos ajudados a ter noção adequada do lugar onde suas ideias eram produzidas [sua casa, sua família] e como sua própria vida as afetava. Acredito que, compreendendo-se o homem Marx, seja mais fácil compreender o teórico Marx.”

Valor:
Entre as cartas da correspondência trocada entre Marx, Engels e Jenny que você consultou em busca de informações para seu livro, quais considera mais relevantes para os propósitos de sua pesquisa? E quais mais a impressionaram pessoalmente, como leitora?
Mary: Examinei milhares de páginas de correspondência no transcorrer de minha pesquisa. É difícil especificar alguma que me pareça mais relevante que outras. Posso dizer que trabalhar com essa rica coleção de palavras me proporcionou um prazer absoluto. Não consigo dizer como foi emocionante “ouvir” os vários personagens conversando por meio de suas cartas.

Durante anos, houve uma troca diária de cartas entre os principais personagens, e por meio delas senti que poderia ouvir as mais íntimas conversas da família. Tive ainda mais sorte porque os personagens eram tão maravilhosos escritores de cartas. Suas descrições eram coloridas, suas emoções livremente expressas, e sua linguagem livre de censura. As cartas são realmente a espinha dorsal de meu livro, e acredito que me ajudaram a produzir um retrato tão íntimo quando possível de um homem e dos que estavam à sua volta, mortos há mais de um século. As cartas trazem os personagens de volta à vida de uma maneira extremamente calorosa.

Mas devo mencionar uma carta particularmente entristecedora, aquela em que Marx fala a Engels sobre a morte de seu filho Edgar, aos 8 anos. Depois de descrever sua imensa dor e solidão, Marx escreveu: “Em meio a todos os terríveis tormentos que precisei suportar recentemente, o pensamento voltado para você e sua amizade sempre me encorajou, assim como a esperança de que ainda há alguma coisa para fazermos juntos no mundo”. É como se Marx procurasse tornar sua profunda tristeza em algo que pudesse beneficiar a humanidade.

Outra carta que me impressionou foi uma que Engels escreveu para um amigo em Nova York, em 1853, na qual descreve o que esperava acontecer às ideias dele e de Marx no futuro e por que era tão importante que as pusessem por escrito para a posteridade. Seus receios de que experimentos políticos fossem implementados apressadamente com base em suas ideias -- que acabariam por fracassar -- soam como se ele previsse as interpretações equivocadas das ideias de Marx que se fariam no século XX. Mas Engels disse que ele e Marx estariam protegidos de acusações de serem brutos e estúpidos porque teriam se teriam documentado em sua literatura. Penso que isso é muito importante para nós, hoje. Não deveríamos ler interpretações de Marx e Engels, mas deveríamos ler Marx e Engels eles mesmos, para chegar à mais exata compreensão de suas ideias.

Valor: Não lhe desse Engels o apoio financeiro que foi tão importante em sua vida, Marx teria tomado atitudes diferentes na condução de sua vida pessoal e familiar? E intelectualmente falando, quem poderia ser “Marx sem Engels”?
Mary: É difícil imaginar que haveria um Marx sem Engels. Engels não apenas proporcionou equilíbrio a Marx, intelectualmente , conectando a teoria de Marx com o mundo real, mas proporcionou os meios financeiros para Marx e sua família sobreviverem – mesmo depois da morte do próprio Engels. Não posso honestamente imaginar que Marx pudesse encontrar uma outra pessoa que não apenas lhe fosse intelectualmente compatível, mas também tão enormemente generosa e disposta ao autosacrifício. E sem aquele apoio Marx não teria nem os meios nem o tempo para escrever. Ele poderia ter sido um grande ativista sem Engels, mas me pergunto se poderia ter sido também um grande teórico.

Valor: Quem seria Marx sem Jenny?

Mary: As relações com Engels foram muito mais importantes para o Marx que reconhecemos historicamente do que seu relacionamento com Jenny. Penso que, se Jenny Von Westphalen não tivesse existido em sua vida, Marx ainda teria sido um importante teórico e ativista, mas provavelmente teria tido muito menos “coração”. Jenny humanizou Marx e o fez sentir os sofrimentos e as alegrias da vida normal. Sem isso, Marx, que tinha uma tendência para ser frio e cerebral, teria, sem dúvida, se recolhido a uma vida intelectual, e só.

Ele era notoriamente irritadiço e arrogante com seus adversários e provavelmente teria sido pior sem a influência de Jenny. Penso que Jenny também ajudou a fazer de Marx mais que um filósofo. Sua influência, como a de Engels, ampliou sua perspective de modos muitos importantes. Ela injetou um pouco de poesia na vida de Marx e, por extensão, em seus escritos.

Valor: A senhora diz que, logo após o sepultamento de Marx, seus seguidores começaram a higienizar sua história, de maneira que esse “deus socialista” não parecesse humano. Exceto, talvez, por alguns excessos, não seria o caso de compreender essa “higienização” não como uma tentativa de fabricar um mito, mas apenas uma espécie de descrição compreensível num trabalho convencional de propaganda?
Mary: Sim, de fato é propaganda convencional, embora eu entenda que havia um tanto de mitificação envolvida já no princípio. Quando da morte de Marx, os socialistas, na Europa, apenas começavam a ganhar espaços significativos nos parlamentos nacionais e, então, a última coisa de que precisavam era dar aos partidos no poder munição contra eles na forma de rumores sobre os excessos pessoais de Marx. Mas penso que também havia o senso de que, na morte, Marx deveria tornar-se maior do que em vida, para servir como uma espécie de farol para futuras gerações.

Depois da Primeira Guerra Mundial, antes da assim chamada Terceira Internacional (ou Comintern), as ideias de Marx foram transformadas a ponto de se tornarem irreconhecíveis. Ele então tornou-se de fato um “mito”. Finalmente, nas mãos de Stalin, foi reduzido a nada mais que uma figura decorativa, porque a substância de sua obra não se encaixava no modelo soviético.

Valor:
O retrato que a senhora pinta de Marx corresponde à imagem que tinha em mente antes de iniciar sua pesquisa e escrever o livro?
Mary: Marx não me agradava pessoalmente. Parecia-me que sua arrogância, demonstrada em público, também era evidente em sua vida familiar e que ele era patologicamente egoísta. Contudo, passei a gostar dele. Acho que comecei a sentir-me, em relação a ele, do mesmo modo que sua família e Engels: seus defeitos eram inegáveis e mesmo irritantes, mas ele era uma pessoa tão maravilhosa, poderosa e única que se poderia desculpá-lo. Senti-me em uma companhia rara enquanto lia suas cartas e obras, e falhas de caráter que talvez não perdoasse em outro homem perdoei facilmente em Marx.

Como pude conhecê-lo tão intimamente, também pude apreciar muito mais seu trabalho e compreendê-lo melhor. Causou-me profunda impressão ver como ele, vivendo como viveu, em tamanhas dificuldades e transtornos pessoais –por escolha própria, é certo – foi capaz de produzir algumas das mais importantes obras da história. Isso, quando a maior parte das pessoas em sua posição não seria capaz de produzir absolutamente nada. Marx costumava dizer que poetas são diferentes das pessoas comuns e, portanto, não deveriam ser julgados segundo padrões normais. Terminei meu projeto pensando o mesmo a respeito dele.

Fonte: Valor Econômico

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