terça-feira, 24 de julho de 2012

Relatório da CIA indica que a hiperpotência americana não se perpetuará ao longo dos próximos anos LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO O National Intelligence Council (NIC), centro de estudos estratégicos da CIA, divulgou parcialmente o seu novo relatório quinquenal sobre as tendências globais (Global Trends) da política internacional. O relatório definitivo será entregue em novembro ao próximo presidente dos Estados Unidos. Mas os tópicos já divulgados são de bastante interesse. Vários institutos de estudos estratégicos, jornais europeus e a blogosfera comentaram o relatório. Como observou o jornal parisiense “Le Monde”, a principal análise do relatório consiste em projetar as tendências para 2030 num contexto pós-americano. Nesta perspectiva o relatório traça um o cenário otimista e outro pessimista. O primeiro prevê uma perda de influência gradual dos Estados Unidos, num mundo em que a cooperação internacional se acentuaria e as crises políticas e econômicas seriam resolvidas, pacificamente e em boa ordem, pelas negociações multilaterais. No segundo cenário ocorreria uma “desintegração”. O declínio americano, seguido pela ascensão das potências asiáticas, daria lugar a um mundo fragmentado, no qual as instituições internacionais perderiam sua influência, e os riscos de conflitos armados aumentariam, principalmente na Ásia e no Oriente Médio. Embora a notícia não tenha repercutido no Brasil, o país é citado em várias partes do novo relatório, nos textos preparatórios e nos comentários postados por especialistas. A reforma do Conselho de Segurança da ONU é comentada pelo jurista William Burke-White, que foi professor da Universidade de Princeton e conselheiro do Departamento de Estado. Para ele, o apoio explícito dos EUA à Índia e o incentivo, menos explícito, ao Brasil, para a entrada dos dois países como membros permanentes do Conselho Segurança (CS), não teve ainda maiores consequências. Mas a reforma do CS parece ser inevitável. Num outro texto, o mesmo autor escreve que o próximo CS contaria com o Brasil, China, Índia, Japão, Rússia, Estados Unidos, um ou mais países europeus, e um ou mais países africanos. A situação é mais complicada é a da Europa, onde a Inglaterra e a França já tem assento permanente no Conselho de Segurança (CS), e a Alemanha pleiteia o mesmo privilégio. Segundo Burke-White, quanto mais o tempo passa, mais as pretensões europeias parecem irrealistas. Parece improvável que ainda haja, em 2030, dois assentos concedidos aos países europeus no CS. Outros textos questionam o estatuto do Brasil, China, Índia e África do Sul como potências mundiais, dadas as contradições políticas e sociais existentes nestes países. A situação da China parece particularmente duvidosa. Dada às vulnerabilidades ligadas à sua evolução demográfica, à corrupção endêmica e à erosão da legitimidade do regime, a China pode conhecer sérios problemas num quadro de estagnação econômica. Neste caso, o cenário previsto é o de uma situação de hipernacionalismo, como no Japão e na Alemanha nos anos 1920-1930. As análises mais detalhadas só serão conhecidas na publicação do relatório definitivo, depois das eleições presidenciais americanas. No entanto, há um dado comum na maioria dos cenários esboçados até agora: a hiperpotência americana não se perpetuará ao longo dos próximos anos. 24/07/2012

Do Uol

LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO
O National Intelligence Council (NIC), centro de estudos estratégicos da CIA, divulgou parcialmente o seu novo relatório quinquenal sobre as tendências globais (Global Trends) da política internacional. O relatório definitivo será entregue em novembro ao próximo presidente dos Estados Unidos. Mas os tópicos já divulgados são de bastante interesse. Vários institutos de estudos estratégicos, jornais europeus e a blogosfera comentaram o relatório.
Como observou o jornal parisiense “Le Monde”, a principal análise do relatório consiste em projetar as tendências para 2030 num contexto pós-americano. Nesta perspectiva o relatório traça um o cenário otimista e outro pessimista. O primeiro prevê uma perda de influência gradual dos Estados Unidos, num mundo em que a cooperação internacional se acentuaria e as crises políticas e econômicas seriam resolvidas, pacificamente e em boa ordem, pelas negociações multilaterais. No segundo cenário ocorreria uma “desintegração”. O declínio americano, seguido pela ascensão das potências asiáticas, daria lugar a um mundo fragmentado, no qual as instituições internacionais perderiam sua influência, e os riscos de conflitos armados aumentariam, principalmente na Ásia e no Oriente Médio.
Embora a notícia não tenha repercutido no Brasil, o país é citado em várias partes do novo relatório, nos textos preparatórios e nos comentários postados por especialistas.
A reforma do Conselho de Segurança da ONU é comentada pelo jurista William Burke-White, que foi professor da Universidade de Princeton e conselheiro do Departamento de Estado. Para ele, o apoio explícito dos EUA à Índia e o incentivo, menos explícito, ao Brasil, para a entrada dos dois países como membros permanentes do Conselho Segurança (CS), não teve ainda maiores consequências. Mas a reforma do CS parece ser inevitável.
Num outro texto, o mesmo autor escreve que o próximo CS contaria com o Brasil, China, Índia, Japão, Rússia, Estados Unidos, um ou mais países europeus, e um ou mais países africanos. A situação é mais complicada é a da Europa, onde a Inglaterra e a França já tem assento permanente no Conselho de Segurança (CS), e a Alemanha pleiteia o mesmo privilégio. Segundo Burke-White, quanto mais o tempo passa, mais as pretensões europeias parecem irrealistas. Parece improvável que ainda haja, em 2030, dois assentos concedidos aos países europeus no CS.
Outros textos questionam o estatuto do Brasil, China, Índia e África do Sul como potências mundiais, dadas as contradições políticas e sociais existentes nestes países. A situação da China parece particularmente duvidosa. Dada às vulnerabilidades ligadas à sua evolução demográfica, à corrupção endêmica e à erosão da legitimidade do regime, a China pode conhecer sérios problemas num quadro de estagnação econômica. Neste caso, o cenário previsto é o de uma situação de hipernacionalismo, como no Japão e na Alemanha nos anos 1920-1930.
As análises mais detalhadas só serão conhecidas na publicação do relatório definitivo, depois das eleições presidenciais americanas. No entanto, há um dado comum na maioria dos cenários esboçados até agora: a hiperpotência americana não se perpetuará ao longo dos próximos anos.

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