O
sol em Cherbourg, litoral da Normandia, na França, anda escasso. Dias
nublados, de chuva e vento frio soprando de sudoeste, enganam quem
espera o calor do verão. Ainda assim, na sexta-feira, 6, com o
termômetro batendo nos 13 graus, houve festa nos estaleiros da DCNS, a
Direction des Constructions Navales et Services.O parceiro francês no
programa de construção de quatro avançados submarinos diesel-elétricos e
de um outro movido a energia atômica, para a Marinha, festejou com o
grupo brasileiro de especialistas em treinamento - cerca de 50 deles - a
oficialização da data do início do ProSub - o Projeto do Submarino com
Propulsão Nuclear Brasileiro. A cerimônia que marca a contagem do tempo
foi realizada
no Centro Tecnológico da Marinha, em São Paulo, no campus da USP.O
contrato, incluindo obras civis, vale 6,7 bilhões, cerca de R$ 21
bilhões, um dos três maiores empreendimentos públicos do País. O grupo
brasileiro majoritário no empreendimento é a Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT). A contar do dia 6 de julho, a agência de desenvolvimento dos projetos vinculados ao ProSub terá três anos, talvez pouco
menos, para produzir a concepção básica do submarino. Segundo o
coordenador, almirante José Alberto Accioly Fragelli, "terá início,
então, a parte dos planos detalhados, junto com a construção do navio em
2016, no estaleiro que está sendo estruturado em Itaguaí, no Rio".A
previsão para as etapas de conclusão situam em 2021 ou 2022 a
finalização da embarcação. A montagem eletrônica, o carregamento do
reator compacto e os testes de mar devem consumir, talvez, mais dois
anos. Um almirante ouvido pelo Estado acredita que sob pressão
estratégica - uma eventual ameaça externa - o SN-Br pode entrar em
operação efetiva em 2023. Se não, é coisa para 2025. O empreendimento,
de longo prazo, contempla uma frota de seis submarinos nucleares e 20
convencionais; 15 novos, S-Br, da classe Scorpène e cinco revitalizados.
Tudo isso até 2047, conforme o Paemb - Plano de Articulação e de
Equipamento da Marinha.A frota de submarinos de ataque será o principal
elemento dissuasivo da Defesa brasileira. Um oficial especializado, que
não pode ser identificado, sustenta que "a percepção do agressor deve
ser a de que haverá resposta rápida e devastadora a qualquer aventura,
vinda de uma fonte difícil de identificar, capaz de surgir em qualquer
lugar". Mais comedido, o comandante da Força, almirante Júlio Moura
Neto, lembra a "necessidade
de dar prioridade à estratégia do temor das consequências considerados
fatores como o Pré-Sal, a posição do Brasil no contexto internacional, a
garantia da segurança marítima e a
vigilância sobre as águas jurisdicionais, que somam 4,5 milhões de
quilômetros quadrados, uma Amazônia no mar".Dinheiro garantido. Não está
faltando dinheiro para o Pro Sub. Em 2011 o investimento foi de R$ 1,8
bilhão. Para 2012, o governo destinou R$
2,15 bilhões - recursos livres de cortes. Em Itaguaí, litoral sul do
Rio, há 6,3 mil pessoas trabalhando no complexo formado pelo novo
estaleiro e nova base de operações - 500 desses funcionários foram
treinados no canteiro que recebe este mês a primeira equipe de
engenheiros e projetistas da DCNS. Vão trabalhar com o pessoal da
Marinha no navio nuclear.Em novembro terminam as obras da construção da
Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (Ufem), onde serão
construídos os submarinos S-Br, com motores diesel-elétricos. Um mês
depois, chegam da França as seções 3 e 4 do primeiro navio, que foram
juntadas por soldagem de alta tecnologia em Cherbourg, em dezembro
de 2011. Em 2015 fica pronto o estaleiro, e em 2017 será entregue o
S-Br que abre a série de quatro, recebidos um a cada 18 meses. A gleba
do conjunto tem 980 mil metros quadrados, dos quais 750 mil metros
quadrados sob a água. Haverá dois píeres de 150 metros e três docas de
170 metros. Base e estaleiro ocuparão 27 prédios. A dragagem mobiliza 6
milhões de metros cúbicos. As especificações dos navios brasileiros
ainda estão sendo definidas. O Scorpène Br é cerca de 100 toneladas mais
pesado e 5 metros mais longo que a configuração padrão, forma de aumentar a autonomia e o conforto a bordo.O
programa brasileiro não é o único da América do Sul. Na Venezuela, Hugo
Chávez negocia com a Rússia a compra de 7 a 11 submarinos - um deles
nuclear, o Akula, de 12,7 mil toneladas, armado com torpedos e mísseis.
Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner anunciou, em junho de 2010,
um programa considerado tecnicamente pouco viável. A ideia é converter a
motorização de três velhos modelos de origem alemã, o San Juan, o Santa
Cruz e o Domec, dos anos 1970, concluídos no início dos 1980,
atualmente em fase de revitalização. Todos receberiam um reator de
concepção local, o Carem, desconhecido
fora da Invap, empresa que teria criado o produto. Um dos navios
modernizados estaria pronto para uso em 2015, outro em 2020. O terceiro
ficaria dependente dos resultados apurados no procedimento.
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